A IGREJINHA
VELHA
É assim que chamamos hoje a nossa histórica Igreja Matriz do Divino Espírito Santo dos Poções, invocada já com essa denominação em 1830, quando Thimoteo Gonçalves da Costa doou meia légua de terreno em quadro para se edificar uma capela, cujos trabalhos foram iniciados por José Joaquim dos Santos, genro do Sargento Mor Raymundo Gonçalves da Costa. Foi edificada pelo Capitão Mor João Dias de Miranda em 1842 e finalmente concluída pelo seu sobrinho, o Capitão Antonio Coelho Sampaio.
Segundo registro do Príncipe Maximiliano , que visitou Poções em
1817,antes só existia “uma dúzia de casas e uma capela feita de barro”
Esta igrejinha, sem muita pompa, viu toda a história da nossa cidade,
do seu nascimento até hoje. Não é pois, sem razão, o carinho que o povo tem por
ela.
Foi ali que sucessivos vigários, padres Amaral, Marinho, Pithon,
Carneiro e Honorato – pregaram a palavra de Deus- do modo que eles entendiam, e
sem saber se o povo estava entendendo.
Lá o bispo diocesano Dom
Florêncio Vieira crismava os fiéis, as crianças faziam a primeira comunhão,
casais se uniam, santas almas partiam ao repique dos sinos, e os pecados
cometidos eram ali mesmo confessados e perdoados.
Era lá que Biu , compenetrado, tocava na velha harmônica e as
senhorinhas Lurdinha Amaral, Elza, Yayá e Detinha contentes cantavam.
Foi lá que esteve Plínio Salgado com Goffredo da Silva Telles e sua
comitiva e era lá que todo ano aquele bom povo se reunia, montado a cavalo,
vindo da mata e da catinga, desfilando com as bandeirolas do Divino.
Com o tempo, o pequeno campanário desabou e um improviso foi feito para
sustentar o sino. A lateral do lado do coreto onde se rezava a Missa Campal,
foi eliminada. E o cruzeiro de madeira, que ficava do lado de fora, bem em
frente à porta principal, em cima de um monte redondo cimentado foi transferido
para a lateral, num pedestal quadrado.
O pedestal redondo é simbólico. Encimado pela cruz significa a vitória
de Cristo sobre as coisas mundanas, os pecados do mundo. Foi esta lembrança que
Adilson Santos, poçõense de corpo e alma, imortalizou em uma de suas famosas
telas.
Com o tempo a igrejinha precisou de grades para protege-la. É triste
precisar da proteção de grades.
Depois foi a vez da remoção da belíssima pintura da Santíssima Trindade
que ficava atrás do altar mor, obra do pintor italiano G.Lupi, oferecida ao
Divino por Paulino Braga, em 1905. Esta concepção, muito recorrente na pintura
italiana, imprimia no nosso imaginário o Deus–Pai de longas barbas brancas, a
Pomba do Espírito Santo, nossa conhecida, e um Cristo que privava a intimidade
deles.
Por último, foi a reforma que retirou as lajotas coloniais em forma de
losango, que dava o clima de simplicidade e devoção, substituídas por mármore
ofuscante e frio.
Chico Sangiovanni, sabedor das coisas de Poções, já me dizia, quando eu comentei estas
mudanças com ele:
“- Vocês vão embora, não ficam aqui e a gente vai fazendo as besteiras
como pode.”
Eduardo Sarno
Fev/98
Nenhum comentário:
Postar um comentário