31 maio 2009

A Loja dos Sarnos

Era a loja do meu pai e dos meus tios. A firma foi fundada em 1896. A primeira loja, no tempo de tio Chico e Vicente Sarno, era na atual Rua da Itália, onde mais tarde ficou sendo a casa de tio Emílio. Na frente era a loja e atrás a morada. A loja teve mais mudanças do que evolução. Muito semelhante à cidade de Poções, na Bahia .
Com o tempo foram chegando os outros irmãos de Vicente: Camilo, Valentim, Luis, Emilio, Rosina, Corinto, e o primo Vicente (Orrico) Sarno . E todos moravam em quartos nos fundos da loja.
Tudo muito prático, mas não muito cômodo. Era o inicio do século, Poções ainda era uma cidade muito pequena e as estradas estavam por fazer. A luz era candeeiro e a água trazida por aguadeiros. Eles podiam pagar algumas regalias, mas tinham limitações da própria época. A farinha de trigo para fazer o “spaghetti” chegava muitas vezes estragada da “Bahia”, como todos chamavam Salvador.
A loja foi transferida depois para um sobradão na praça, o único da cidade. Era a época da Segunda Guerra e, apesar de italianos, continuaram merecendo a fidelidade da clientela.
Uma parte do sobradão desabou com uma enchente e a loja passou para o outro lado da praça, ocupando um imóvel que havia sido de Giuseppe D´Andrea, que tinha se mudado com a família para Jequié, inconformado com a insegurança trazida pelos jagunços.
Mas nem assim a loja ficou livre das enchentes. Quando o açude ameaçava estourar, éramos acordados de madrugada para ajudar a transportar as mercadorias para nossas casas, que ficavam em lugar mais alto, na rua da Itália. Era uma fantasia para nós vermos as casas atulhadas de mercadorias as mais variadas. Convivíamos durante algum tempo com pilhas de tecidos, caixas de chapéus e sapatos, perfumes e carretéis.
O auge da loja foi quando teve vitrine, vendia secos e molhados, tecidos e ferragens.
Tinha de um tudo, e quando não tinha dava-se um jeito.
Para quebrar a monotonia do trabalho no comércio, os tios em geral, e Valentim em particular, eram chegados a uma pilhéria como a história de que havia chegado um produto novo fazia o freguês cheirar amoníaco.
Mas tudo terminava bem, eles não perdiam nem a piada nem o freguês nem o amigo.
Naquela época quem queria um terno comprava o tecido na Casa Sarno e ia na alfaiataria de Otoniel, no Beco dos Artistas encomendar o feitio. Um dos fregueses era o sr. A.S. de Iguaí, que sempre comprava com Valentim.
Baixinho, mal passando da altura do balcão, o Sr. A.S. pedia dois metros e meio de tecido para fazer o terno.
Valentim, com o jeitão dele dizia bem alto, já provocando:
"- Mas para você meio metro serve !"
Nas prateleiras superiores da Casa Sarno ficavam as enormes caixas redondas dos chapéus "de massa", como eram conhecidos, para diferenciar dos chapéus "de palha" .
Quando não tinha o chapéu de número adequado para a cabeça , Valentim colocava a mão aberta na nuca do freguês e ajustava o chapéu diante do espelho .
"- Olha, este aqui dá bem justo!" ...e embalava o artigo !
No depósito da Casa Sarno tinha um estoque de escarradeiras esmaltadas, já em desuso. O esmalte estava corroído e Valentim então passou uma tinta e vendeu como cuscuzeiro.
Num sábado, que era o grande dia, um mateiro comprou o tal do "cuscuzeiro" e no sábado seguinte já entrou direto para falar com Valentim:
" Olha aqui seu "Valintim" , o senhor me vendeu um cuscuzeiro ou um chuveiro ? olha quanto buraco !!"
Em outra ocasião Valentim vendeu 5 calças grandes para seu L., pai de M. casada com M.S..
Quando ele chegou em casa a esposa, D. B. estranhou, mas ele argumentou, convencido:
"- Mas Valentim me garantiu que eu ia engordar !!"
Era o tempo das boas prosas, da chegada dos viajantes contando novidades, abrindo catálogos no balcão, fazendo todos sonharem com São Paulo, que parecia que nem era Brasil.
Flop, flop,flop, eram as peças de tecido sendo abertas em cima do grande balcão de madeira, para a freguesa examinar. Ela, que havia apontado timidamente para uma peça, agora via quatro ou cinco já abertas em cima do balcão. E o primo Irineu querendo abrir mais. E a freguesa não sabendo como dizer não, terminava por escolher uma metragem de fustão.
Mas se não tivesse o estampado desejado, Irineu não titubeava. Gentilmente pedia licença para ir ao depósito e ia à vizinha loja de Ed Porto Alves, de onde voltava com três peças no ombro. Uma sempre terminava por agradar à freguesa.
Muitas histórias se passaram pelos três grandes balcões de madeira. Ali se debruçavam viajantes, prostitutas, senhoras e senhoritas e mais os doutores da medicina ou do direito. E mais o padre Honorato. Entrava de repente e saia mais de repente ainda. Se encontrava algum garoto era certo que este levaria um beliscão na bochecha. E ao mesmo tempo perguntava "- Como vai seu pai, menino ?" Nem o menino podia falar, pela dor na bochecha, nem o padre podia escutar, porque era surdo.
Era lá na loja que chegava primeiro a revista “O Cruzeiro”. Podíamos ouvir o mundo através do rádio, mas ver só nas revistas ilustradas. Folheávamos com avidez – os mais velhos primeiro – sentindo aquele cheiro de papel impresso que tinha a magia de nos transportar para um mundo inacreditável.
Foi nas páginas de “O Cruzeiro” que vimos “Baby” Pignatari usando sandálias havaianas. Algum tempo depois o primo Fidelão apareceu usando sandálias iguais. Não foi um escândalo. Foi uma revolução cultural. Até aquela data ninguém considerado rico havia saído à rua com o pé à mostra. Ainda mais aquele pezão brancão !
Aos sábados os mateiros e catingueiros enchiam a loja. Da capa colonial ao bacalhau eles compravam de tudo. Os balconistas recebiam reforços: meu pai vinha do escritório e nas férias minhas irmãs ,meu irmão José Fidelis e os primos Fernando, Pietro e Lulu iam de casa para ajudar.
Com o tempo a feira dos sábados, que era só de frutas, verduras e coisas da roça, foi começando a vender o que se vendia na loja. Os marreteiros chegavam com confecções prontas e variadas. Já se via ferragens, sombrinhas e chapéus. A feira foi crescendo.
Aos poucos o movimento da loja foi caindo. Os sócios foram envelhecendo e indo para Salvador. A firma foi desfeita, ficando apenas a loja de Salvador, que passou de tio Vicente para o filho Chico.Tio Camilo, tendo passado por Jequié, ficou depois sendo sócio de Chico. Era a afamada loja do Guindaste dos Padres, no Comércio. Na fachada ainda está escrito "Sarno" e lá dentro ainda tem Sarno: os netos de Vicente e de Camilo.
Em Poções, até hoje ainda existe, na boca do povo, a loja dos Sarnos.

Eduardo Sarno
22.jan.2002

Sites e Blogs Relacionados

http://blogdosangiovanni.blogspot.com/ - Cronicas bem humoradas , cheias de histórias e emoções sobre Poções e seus personagens. O autor é o nosso colaborador Luiz Sangiovanni.

http://www.aib-portoseguro.com/ - Site da Associação Ítalo-Brasileira de Porto Seguro "Anita Garibaldi" , com o objetivo de integrar e divulgar as duas culturas, na Costa do Descobrimento.

http://www.orkut.com.br/ - Familia Sarno - 173 membros
Comunidade elaborada por Sérgio Sarno e Luiz Fidelis Sarno

http://www.casaconfianca.org/
Site elaborado por Carmine Marotta (português/italiano), sobre o seu livro Casa Confiança e a presença italiana em Jequié.

http://www.faronotizie.it/
Site elaborado por jornalistas, cronistas e historiadores de Mormanno (italiano).

http://www.oriundi.net/
Site elaborado por jornalistas em Porto Alegre (Brasil), com notícias e informações do Brasil e da Itália.

http://www.italiaamica.com.br/
Site elaborado por professores e jornalistas da academia de cultura italiana (Bahia-Brasil)

http://www.familia.demarchi.nom.br/
Site elaborado por Mauro Demarchi com relatos, fotos, notícias e diversas matérias.

http://guiapocoes.com.br/
Site elaborado por jornalistas e colaboradores de Poções. Leia as crônicas de Luiz Sangiovanni na página "Histórias com datas" .

http://www.recantodasletras.uol.com.br/ - Publica as crônicas de Luiz Sangiovanni

http://www.diariosdaditadura.com.br/ - Publica a saga de Carlos Sarno na luta contra a Ditadura Militar no Brasil.

O Escritório do meu pai




Ficava no fundo da Casa Sarno e para alcançá-lo, despertávamos a ira do enorme cão policial que ladrava desesperadamente, preso à corrente. Eu me esforçava por acreditar que a corrente era boa e forte, e que a chumbada na parede era sólida.
O escritório era comprido, acanhado mesmo, sem nenhum luxo. Tinha um compartimento de depósito ao fundo, com uma mesa, onde ficava a garrafa de garapa, que eu ia levar todas as tardes. Até garapa de café minha mãe fazia e meu pai tomava. Era pecado capital esquecer de levar a garapa de meu pai.
O que impressionava no escritório era o cofre, um enorme Luso-Brasileiro: verde com filigranas douradas, com uma porta tão espessa, que me dava idéia de solidez das coisas de meu pai, que trago até hoje na lembrança. Transmitia também uma impressão de poder, que eu atribuía a meu pai, porque ele é quem abria e fechava o cofre, manuseando as chaves e o segredo de maneira habilidosa.
Às vezes o cofre ficava aberto e eu via as gavetas e as gavetinhas, e me assaltava um temor, de que os tesouros e segredos que certamente haviam ali fossem roubados.
A escrivaninha era grande e alta, com tampo corrediço de fechar, cheia de escaninhos, sempre repletos de papel. Meu pai, atrás dela. Não era visto de imediato por quem entrava, e isso contribuía para eu tivesse uma sensação de mistério ao entrar ali.
Fazia-o todos os dias para levar a garapa, dar os recados ou pedir dinheiro. Nestas ocasiões ele não precisava abrir o cofre, tirava um maço de notas do bolso e perguntava “-Quanto precisa ?”. Claro, modestamente eu nunca pedia mais que um mil réis.
Ao lado dele, mais duas escrivaninhas, uma que ele ocupava quando estava recebendo alguém, e a outra com uma enorme máquina de escrever Olivetti.
Durante certa época, era Ada, minha irmã, que ficava ali, pois estudava contabilidade, e estava ajudando e aprendendo. Em frente, duas cadeiras e um pequeno sofá de dois lugares,com assento e encosto de madeira, esta, de tirinhas, e detalhes discretos no espaldar e nos braços. Feito de vinhático, provavelmente por algum marceneiro escravo em tempos passados, era o repositório natural e constante de bundas humildes e nobres, civis e eclesiásticas, municipais e estaduais e quiçá federais!
Na parede, uma enorme gravura desenhada por O. Puccioni e impressa nos estabelecimentos Benelli e Gambi (Firenze), tendo no centro o Rei Vitor Emanuel II (1820-1878) e em volta diversas cenas e alegorias sobre a unificação da Itália e a campanha de Garibaldi. Para mim, era como se a Europa ainda fosse medieval e que meu pai tivesse intimidade com reis. Só depois vim a saber que o Reino quase tinha sido abolido por Mussolini.
Às vezes ia com meu irmão José trabalhar no escritório. Era para colar dinheiro velho em folhas de papel celofane e depois recortar. Isto feito, o dinheiro era trocado por novo na coletoria.
Naquele escritório não só eram resolvidos negócios da loja e particulares, como também os da Igreja e do Estado. Católico praticante e virtual conselheiro do pároco Monsenhor Honorato, meu pai tratava ali de assuntos como a construção da igreja nova, a Festa do Divino Espirito Santo, a hospedagem do pregador da festa ou a vinda do Bispo.
De nacionalidade italiana, meu pai não era eleitor nem candidato, mas nenhum prefeito queria fazer nada sem consultá-lo e receber seu apoio. Desde a construção do Ginásio, até a instalação da Companhia Telefonica de Poções ou decidir por onde passar a variante da Rio - Bahia , era ali que tudo se discutia.
Durante todo o dia era interminável a vinda de pessoas para resolver problemas. Eram empréstimos, pagamentos de contas, pedidos de créditos ou simples “dedos” de prosa.
Vinham representantes de firmas de São Paulo – ou viajantes, como eram chamados - pessoas da roça , pessoas da cidade, sendo alguns mais assíduos, como Otávio Curvelo e o padre Honorato. Era um escritório popular e democrático, cívico e religioso.
Enquanto manuseava promissórias, duplicatas e notas fiscais, meu pai via pela janela do escritório a parreira no pátio da loja. Não dava muita uva, mas certamente dava muito prazer ao meu pai poder vê-la, recordando sua terra Mormanno.

Eduardo Sarno
Maio/97

Os Italianos e o Cinema na Bahia

Cine Jequié-1920 - Irmãos Leto


A característica urbana da imigração italiana na Bahia fez com que aqui se domiciliassem muitos trabalhadores autônomos, entre eles técnicos em galvanoplastia, em eletricidade, decoradores, pintores e artes metalúrgicas diversas.
A passagem por Salvador de várias companhias teatrais, inclusive a Companhia Lyrico-Comica Italiana, de Boldrini & Milone, que inaugurou em 23 de maio de 1886 o Polyteama Baiano, em sua nova fase, contribuiu certamente para que técnicos a artesãos tivessem contato com as necessidades e oportunidades locais na área artística.
Por razões geopolíticas, principalmente a carência de recursos naturais e a necessidade de industrialização, a Itália sempre teve grandes cientistas que se dedicaram às pesquisas químicas e físicas no setor da eletricidade. Desde o século XVIII, com Luigi Galvani e o conde Alessandro Volta, continuando no século XIX com Calzecchi-Onesti e Augusto Righi e, já no século XX com Gugliemo Marconi, tiveram sempre uma familiaridade com uma tecnologia que estaria depois vinculada ao cinema.
Segundo Sílio Boccanera, cronista baiano da década de 20, foi o italiano Nicola Parente quem inaugurou, em 1898, o primeiro cinema na Bahia, chamado Cinema Lumiére. Funcionava na rua Carlos Gomes, número 26, onde posteriormente se estabeleceu a pensão Norte Americana. O nome foi uma homenagem aos irmãos Lumiére que, em 1895, construíram o cinematógrafo e apresentaram o primeiro filme em Paris. Parente foi o primeiro a utilizar, aqui na Bahia, a luz oxyetérica.
Cronologicamente correta, a programação do Cinema Lumiére anunciava como a “última maravilha do século XIX”! Além da apresentação inicial do “sempre apreciável trajecto do cortejo da Rainha Victória”, eram oferecidas “novas e interessantes scénas”: “Um corsel manhoso - Desfilada de um regimento turco para a guerra da Grécia - Uma ponte em construcção - Engraçada dança por uma egypsia, num hotel (Egypto) - Grande cortejo de cavalheiros germânos - Os surpreeendentes banhos de alvorada, em Milão - A chegada do trem”.
Com 200 cadeiras e cobrando dois mil réis por ingresso, este cinema teve um “êxito extraordinário” durante três meses, onde os espectadores assistiam cenas esporádicas, precursoras do moderno filme de enredo.
Sílio Boccanera, que nos deixou estas informações, ele também descendente de italianos, reconhece que a primeira exibição cinematográfica aconteceu em 4 de dezembro de 1897, no Polytheama, organizada pelo senhor Dionísio Costa. Mas, “fosse defeito do aparelho, ou imperícia do operador, o fato é que esse cinema não agradou absolutamente ao público, e só fez a sua estréia”.
No ano seguinte, 1899, foi a vez do Teatro São João passar a ter um cinematógrafo. Era de um italiano, que Boccanera não nos deixou o nome. Por pouco, um princípio de incêndio não devorou todo o edifício e o italiano mudou-se com o seu cinema para a cidade de Alagoinhas.
Em março de 1907 foi inaugurado o Cinema dos Salesianos, ordem religiosa fundada por São João Bosco, no ano de 1859, na Itália. Funcionava nos “feriados nacionais de gala ou dias festivos do estabelecimento”.
O Bijou-Theatro-Cinema, inaugurado em 20 de agosto de 1910, na Calçada do Bonfim, era de propriedade do italiano Umberto Marchesini. Com lotação de 300 cadeiras, funcionava no edifício Miramar, próximo à estação da Estrada de Ferro. Em 1911, também na Calçada do Bonfim, funcionou o Recreio Fratelli Vita, pertencente à fábrica de gasosas dos irmãos Vita. O seu gerente era o senhor Domingos Papaléo. Entre 1911 e 1912, funcionou o cinema Rio Branco, na rua do Saldanha, número 2, de propriedade de Gazineu & Araújo.
A inauguração, em 24 de dezembro de 1919, do Kursaal Bahiano (atual Cine Glauber Rocha, antigo Cine Guarany) foi significativa para a participação italiana na história do cinema da Bahia. Projetado e construído pelo notável engenheiro Felinto Santoro, nas difíceis condições de pós-guerra, incluía, além de todas as acomodações necessárias para um cine-teatro de categoria, quiosque, bar, jardim e a balaustrada em torno da praça Castro Alves.
A fachada, de bom gosto e rara beleza, era ornamentada por duas esculturas de dançarinas do escultor francês Guérin, tendo ao fundo a figura de um pavão com seu colorido variando do azul intenso ao amarelo ouro. Nas laterais dessa fachada, havia a máscara da comédia e da tragédia, ambas de autoria do mesmo escultor.
Curiosamente, em uma foto de 1919, o título do filme anunciado no Kursaal Bahiano era “Redempção”, o mesmo título do primeiro filme baiano de longa metragem, de Roberto Pires, que estreou em fins da década de 50, no Cine Guarany, quando se inaugurou uma placa alusiva ao acontecimento.
O nome “Kursaal”, do alemão pouco usual, traduz-se por “sala de espetáculos”. A mudança do nome para Cine Guarany é detalhadamente narrada no emocionante livro “Um cinema chamado saudade”, de Geraldo Costa Leal e Luis Leal Filho.
Felinto Santoro, consagrado engenheiro e arquiteto napolitano, com obras realizadas em Manaus, Belém, Vitória e Rio de Janeiro, além de ter projetado e construído em Salvador o Mercado Modelo e o quartel do Corpo de Bombeiros, entre outras obras, participou também de um concurso promovido pelo governo do estado, em 1920, para selecionar o melhor projeto para reforma do Teatro São João. A Comissão Julgadora classificou o trabalho de Santoro em 1º lugar, mas, por motivos diversos, a reforma não foi levada adiante. Em 1923, as chamas destruíram o teatro.
A 5 de novembro de 1928, com a presença de Mussolini, instalava-se em Roma o “Instituto Internacional de Cinematografia Educativa”, sob os auspícios do governo italiano e da Sociedade das Nações (atual Organização das Nações Unidas- ONU). A Itália, em geral, e também o fascismo sempre estimularam a atividade cinematográfica.
Imigrantes italianos na Bahia, mesmo sem os propósitos doutrinários, desenvolveram esta emulação cultural e, já nos anos 30, o italiano Bráz Labanca era proprietário da Empresa de Luz Elétrica Pública e Particular de Poções e, na década seguinte, do Cine Poções, que anos depois com o nome de Cine Teatro Santo Antonio, pertenceu a Fidélis Sarno. Na cidade vizinha de Jequié, na década de 20 o italiano André Leto, de Trecchina, além das atividades comerciais e do fabrico de gasosa, teve um dos primeiros cinema da cidade - o Cine Teatro Jequié. Já em Itabuna, na região do cacau, o italiano Giuseppe Larocca, manteve em funcionamento um cinema na cidade, nessa época.
Geraldo e Luis Leal, no livro já citado, fazem referências a três cinemas pertencentes a italianos: o Cinema Calçada, inaugurado em 1927, e depois mudado para Cinema Império, em 1932, cujo proprietário era Salvador Fatescha. O Cinema Pathé, inaugurado em 1928, por Humberto Forccuci, e o Cinema Liberdade, na Estrada da Liberdade, que entre 1940 a 1947 pertenceu a Angelo Larocca.
Na atualidade, destacando-se como cineastas, os descendentes de italiano Geraldo Sarno e Tuna (Sarno D’Andrea) Espinheira contribuem com uma extensa filmografia, basicamente nordestina e baiana .

Eduardo Sarno
Dezembro/1997

Bibliografia
Boccanera Júnior, Sílio - Os cinemas na Bahia - 1897/1918. Resenha
Histórica. Tip. Bahiana, de Cincinnato
Melchiades. Bahia. 1919.
Leal, Geraldo da Costa e Luis Leal Filho - Um cinema chamado saudade
Bahia. 1997.
Associazone Nazionale Ingegneri ed Architetti Italiani - L’Opera Dell’ingº-
Felinto Santoro al Brasile. T.E.M.A. - Napoli
1923.
Revista do Cinema Educativo - Anno 2 - nº 2 - Rio de Janeiro - Maio de
1923.

30 maio 2009

A Igreja Matriz do Divino Espírito Santo

Adilson Santos - artista plástico poçõense


Este era o nome pomposo que tinha a igrejinha de Poções, até ser construída uma maior. Porém, sei que nunca vou chegar a uma conclusão se a igrejinha antiga era grande ou pequena. Vista de fora, parece pequena, mas vista de dentro parece grande, principalmente quando dava a impressão de abrigar Poções em peso, durante a Festa do Divino.
Tinha gente no coro, na sacristia, nos degraus do altar, na escada encaracolada, todos apinhados ordeiramente.
Na porta principal ficavam os homens. Podiam entrar e sair da igrejinha. Cumpriam a obrigação, mas não com tanto ardor. Na porta da sacristia ficavam os homens congregados marianos,comandados por Diolino Luz e Corinto Sarno, de fita azul no pescoço. Mais perto do padre. Mais perto de Deus, acreditavam eles.
As velhas beatas, vindas dos bairros pobres, ficavam nos bancos da frente, com seus rostos engelhados, as mãos calosas segurando o terço e o olhar baço, perdido. As roupas eram simples, desbotadas, mas davam a impressão que eram suficientes para enfrentar o frio da noite.
A qualquer hora que chegassem as fiéis ricas tinham as cadeiras reservadas. Eram de tampo móvel e serviam para sentar e ajoelhar. As cores dos estofados não eram discretas, como também não o eram os grandes nomes das proprietárias, gravadas na cadeira: Annina, Railda, Francisca...e eu podia reconhecer neles todas as minhas tias. Assim, no meio de todo aperto, tinha sempre uma cadeira livre esperando a dona. Pelos véus, da seda ao algodão, classificavam-se socialmente os fiéis.
No ar, o cheiro de incenso, vela queimando e aquele suor perfumado. Tudo ali parecia ter cheiro , até o sermão do padre.
A cerimonia era uma monotonia em latim, mas todos estavam ali inarredáveis. E cantavam em uma altura tal que, ou suponham Deus surdo ou pretendiam demonstrar o tamanho da fé pela estridência do canto. O som do harmônio, tocado por Bil, e a voz de Lurdinha Amaral davam um tom sacro a tudo aquilo.
E o padre Honorato falava. Contra os protestantes, contra Carmem Miranda, contra o decote, contra o comunismo, contava e recontava as parábolas, citava em latim, cuspindo erudição sobre um pobre povo cuja culpa era ter fé.
As imagens dos santos, nos seus pedestais pareciam tudo sentir e ouvir. Elas olhavam complacentes para aquele povo piedoso, ora apontando para corações expostos, ora apontando para chagas expostas.
Eu ficava sentado embaixo do altar lateral, perto das minhas tias, longe da sacristia e ainda sem o direito de ficar na porta principal, impressionado com tudo aquilo, achando tolamente que ali estava o caminho, a verdade e a vida.

Eduardo Sarno

17.março.01

A Usina de Arroz

A usina ficava em uma casa de fachada bonita, onde havia contornos nas janelas e na porta dupla, em uma transversal da Rua da Itália. O dono da usina era Fidelis, meu primo.
Foi da usina de beneficiamento de arroz que ele ganhou o terceiro apelido: Fidelis do Arroz. O primeiro apelido ele já trazia de uma cidade vizinha e muito ligada a Poções: Fidelis de Boa Nova. O segundo apelido veio com o casamento: Fidelis de Juracy.
Este Fidelis dos três apelidos é o segundo Sarno que nasceu no Brasil. Ele é filho de Vicente Sarno, que veio para a Bahia aos doze anos, a chamado do tio Chico Sarno. O nome Fidelis já era por si uma homenagem ao avô que ficara na Itália, na velha Mormanno: Fedele Sarno.
Empreendedor, Fidelis resolvera passar de produtor de arroz a beneficiador. E lá estava o maquinário funcionando. O motor fazia um barulho que era acompanhado pelo girar das polias, o andar das correias e o balançar das esteiras. O arroz saracoteava, remexia, subia e descia. E o maquinário todo era impecável , de madeira, cobre , couros e ferros. Carlos Tonanni & Cia, de Jaboticabal, São Paulo, havia criteriosamente fabricado, com equipamentos da Fairbanks Morse & Co.
O pó, o verdadeiro pó do arroz, cobria tudo, mas não tirava o brilho que os nossos olhos de meninos emprestavam àquele brinquedo.
Sempre sacudido, lá estava o arroz branquinho, limpinho, caindo dentro do saco. O quebrado também tinha a sua canaleta, e lá se ia para outro saco. E a casca, para onde ia ?
Quando entrávamos pela porta da frente éramos um bando de garotos curiosos e comportados. Olhávamos tudo e os camaradas que lá trabalhavam não se importavam. Mas quando entrávamos pelos fundos, caindo direto no quarto onde era despejada a casca, aí então era uma bandalheira. A casca saia por um canaleta de madeira, velozmente, trazida por um jato de ar. Empurrávamos uns aos outros para que o jato desse bem em cima, principalmente do pescoço, pois sabíamos que depois ficava coçando. Barulho por barulho ninguém ouvia que estávamos fazendo algazarra lá dentro, e depois de algum tempo saíamos.
Toda esta casca era depois jogada na rua ao lado do Fórum, e lá tocavam fogo. Não era um fogaréu, não tinha labaredas. Era como um braseiro, com pouca fumaça, mas por dentro tudo virava cinzas. Como éramos um bando que andava pela cidade em busca de molequeiras, quando passávamos por lá íamos sempre dar uma olhada na brasa da palha.
O fogo que conhecíamos era o das fogueiras de São João, fogo franco e desembestado. Mas aquele era diferente, calado, traiçoeiro, escondido. E em algum momento refletíamos sobre isso, impressionados pela maneira com que a montanha de cascas desabava em cinzas, sem que ninguém percebesse.
Mas, passada a reflexão, íamos mexer nas palhas, descobrir onde estava o fogo, ver quem pisava por cima sem se queimar, e espalhar as cinzas só pelo prazer de esculhambar.
Uma vez por ano a casca tinha uma função sacro-profana. Era colocada no chão do Pavilhão da Festa do Divino, na praça em frente à Igreja, para evitar poeira.. Sobre ela, pelas noites festivas, pisavam pés nativos e forasteiros, femininos e masculinos, em dança e contra-dança, ao som da Orquestra de Jazz.
Eduardo Sarno
22.jan.2002

29 maio 2009

Casa Confiança



O livro “Casa Confiança” , de autoria de Carlos e Carmine Marotta, avô e neto, edição bilíngüe, em lançamento na Itália e no Brasil, parte de um relato extenso , escrito por Carlos Marotta (avô) a pedido do então governador da Bahia, Antonio Lomanto Júnior.
Marotta e Lomanto, originários de Trecchina, pequena cidade da Basilicata, tiveram suas vidas ligadas a Jequié, cidade do interior da Bahia, no Brasil.
Convidado por Marotta, neto, para editar a versão em português, tive a oportunidade de travar conhecimento com este relato simples, coloquial, despretensioso, mas denso de informações e certamente um dos raros testemunhos diretos de um aspecto pouco conhecido da imigração italiana no Brasil : a integração das famílias italianas com a comunidade brasileira.
A bibliografia da imigração italiana no Brasil contempla, de maneira quase absoluta, a vinda de grandes contingentes de camponeses do norte da Itália para trabalhar nas lavouras do sul do Brasil, a formação de cidades no sul, a partir de núcleos de colonos, a presença italiana em bairros das grandes cidades, principalmente São Paulo e o sucesso que tiveram alguns imigrantes, tornando-se capitães da indústria ou do comércio.
Mas a atuação dos imigrantes que vieram do sul da Itália e se radicaram nas regiões Nordeste e Norte do Brasil é pouco estudada e conhecida. Estes imigrantes, basicamente famílias e rapazes solteiros vieram sempre para ter o próprio negócio, seja na capital ou no interior. Mesmo os que vieram tardiamente para núcleos agrícolas, por iniciativa do Governo do Estado, no caso da Bahia, receberam seus lotes agrícolas e logo depois estavam estabelecidos por conta própria. No interior eram, com raras exceções, comerciantes e/ou fazendeiros.
Estes traços característicos da Bahia também se repetiram no resto do Nordeste, com exceção dos núcleos agrícolas.
O relato detalhado e de grande conteúdo histórico de Marotta não retrata uma ocorrência isolada. Onde quer que estivessem, seja em Jequié, Poções, Jaguaquara, Itiruçú ou Lauro de Freitas, os italianos atuavam como um pólo de progresso e desenvolvimento. Eles tinham consciência que vieram para ficar, e a idéia chave era que só poderiam crescer se a comunidade local também o fizesse. E para isso era fundamental que a cultura italiana, de que eram portadores, ajudasse este Brasil do interior , de fins do século XIX e início do século XXI.
O progresso era traduzido não apenas nos seus aspectos técnicos, como a fotografia, o rádio, o cinema, a luz elétrica, o carro, a higiene, a medicina, o plantio e consumo de verduras e frutas, etc. mas também nos seus aspectos ideológicos: a libertação dos escravos, em 1888 e a Proclamação da República em 1889 foram saudadas com festas públicas pelos italianos em Jequié. A Casa Confiança providenciou fogos de artifício e distribuição de aguardente para o povo. A ação pastoral da Igreja Católica recebia uma atenção especial, quando se providenciava padres para as comemorações das datas festivas. E nos anos do fascismo, longe da terra natal, imbuídos de um grande patriotismo alguns se deixaram embalar pelas promessas de uma Itália Grande. Em contrapartida, medidas importantes como a seguridade social, na época em implantação na Itália, já eram prenunciadas pelos italianos na Bahia. Um deles chegou a receber o diploma de Segurado nº 1, por ter-se antecipado em fazer os recolhimentos do Inps no cartório !
O desenvolvimento era marcado de um lado pela participação nos aspectos administrativos gerais da cidade, como a escola, a cadeia, o correio, o transporte, onde os italianos sempre participaram e colaboraram.
O outro lado, a administração específica das suas casas comerciais salta em evidencia no relato de Marotta : a assistência ao cliente era completa. Dava-se crédito ao morador da roça, eram fornecidas ferramentas, equipamentos, assistência técnica através de sementes e informações de plantio e mercado. A visão administrativa-comercial que tinham era das mais avançadas, pois o entendimento era que toda a comunidade tinha que possuir riqueza e na circulação desta riqueza a casa comercial teria então o seu lucro. Os sócios – Niella, Rotondano, Grisi e Marotta - visitavam os clientes nas suas plantações, faziam um levantamento das suas necessidades, transferiam para eles os conhecimentos técnicos e os instrumentos necessários para a produção. Na fase final intermediavam a venda da produção, adquiriam o excedente nas feiras semanais e no computo geral todos ganhavam.
Era assim a Casa Confiança e muitas outras casas comerciais que pertenciam a italianos. O relato de Marotta é envolvente, emocionante e se nos trás de volta a um passado cheio de personagens e acontecimentos também nos leva a uma análise comparativa do que é administrar hoje, quais os laços que unem ( ou desunem) comerciante e cliente, qual o significado da confiança naquela época e o que foi feito dela neste nosso mundo de garantias e avalistas.
Com este livro vamos aprender que a história nunca é tão somente uma narrativa, mas sempre uma lição de vida.
(Para adquirir um exemplar entre em contato com edusarno@graunalivros.com.br )


Eduardo Sarno
Fevereiro / 2004

CORINTO SARNO - 1899-2009 (110 ANOS)





“...com o tempo só os mortos sobrevivem.”
Ruy Espinheira Filho


No dia 8 de Março de 1899 nascia em Mormanno, Província de Cosenza (Calábria-It) Corinto Sarno, filho de Fedele Sarno e Teresina Minervini. O nome do pai já aportuguesado – Fidélis – foi dado a inúmeros netos que vivem na sociedade baiana, provocando às vezes situações jocosas.
Corinto foi recrutado para o serviço militar em plena Guerra Mundial de 1914-18 servindo como enfermeiro na frente austríaca, na 3ª Companhia de Saúde. Foi desmobilizado como cabo maior em Verona, a 9 de dezembro de 1920, “tendo mantido boa conduta e servido com fidelidade e honra”.
Apesar do elogio Corinto Sarno nunca esqueceu os horrores da guerra, os amigos que morreram estraçalhados pelas granadas e as inúmeras vezes em que escapou da morte. Por conta destas lembranças que o acompanhou durante toda a vida não gostava de barulhos e filmes de guerra.
Terceiro dos nove filhos de Fedele Sarno foi o único que participou da 1ª Guerra Mundial. Vicente Sarno, o irmão mais velho já estava na Bahia em 1905, tendo vindo a convite do tio, Chico Sarno, que havia fundado a Casa Sarno em Poções, no ano de 1896. Os irmãos Valentim e Camilo Sarno chegaram juntos, em 1925. No ano seguinte veio Luis Sarno e em seguida Emilio Sarno. Das duas irmãs uma, Rosina, veio também para Poções, depois da 2 ª Guerra Mundial, casada com Américo Libonati e a outra, Filomena foi para Buenos Aires, casada com Bragio Barletta. Um dos irmãos, Carmine, morreu na Itália em 1914 de causas naturais.
Corinto Sarno chegou ao Brasil em 1921, pelo vapor “Valdívia” e ficou trabalhando com o irmão Vicente até 1928, quando voltou para a Itália com passaporte emitido por Sua Majestade Vittório Emanuele III, Rei da Itália, e com validade específica para “repatriação ao Reino”.
Depois de passar algum tempo visitando algumas cidades foi para Mormanno procurar uma noiva. Estava na praça, no dia 4 de novembro de 1928, participando da festa da Anistia, quando viu a jovem e bela Annina Sangiovanni na sacada de uma casa.
Foi tudo segundo os costumes, mas muito rápido pois no dia 12 de maio de 1929 já estavam casados. Ainda no altar receberam um telegrama assinado pelo Cardeal Gasparri transmitindo a benção do Santo Padre – Pio XI, na época.
No dia seguinte partiam para o Brasil, via Nápoles.
Em Poções, junto com os irmãos – que moravam todos na Rua da Itália – Corinto Sarno dedicou-se ao comércio como sócio gerente da firma. Negociavam armarinhos e ferragens, secos e molhados, peles e grãos.
Em 1934, entusiasmado pelas vitórias do fascismo na Itália e incentivado pelo Vice Consulado Italiano participou da fundação da “ Associazione Italiana Dopolavoro Umberto Maddalena” que desenvolveu atividades cívico-patrióticas até o início da 2 ª Guerra Mundial.
Em 1949, quando da passagem por Poções da comitiva de Plínio Salgado, foi organizada uma conferencia religiosa, com entrada paga. Corinto Sarno era membro da Comissão da Ação Católica e participou da recepção ao líder católico. O dinheiro apurado foi utilizado para financiar o início da construção da nova Igreja Matriz.
No cargo de tesoureiro da Comissão de Construção da Igreja Matriz Corinto Sarno desempenhou as suas funções até a conclusão da mesma, merecendo por isso retrato na sacristia (que, em vida, não deixou colocar) e o título de Comendador da Ordem do Papa São Silvestre, conferido pelo Papa Paulo VI em 1965.
Em 1952 já havia recebido, pelas mãos do Conde Antonio Sordi, a Comenda da Ordem Real dos Cavalheiros de Castella, por delegação de Sua Alteza Real o Príncipe Franciscus Ferdinandus Walter Borbone, por ter feito “do trabalho um hino em cuja liça venceu com dignidade e honradez”.
Em 1958 era sócio da “Sociedade Civil Casa D’Itália” e correspondente consular em Poções.
Foi, entre as suas diversas atividades para o progresso de Poções, em 1951, da diretoria da “Associação de Proteção à Infância e à Maternidade”, quando foi construído o Posto de Puericultura Clemente Mariani, com verba obtida pelo deputado Manoel Novaes, de quem privava a amizade.
Em 1948 foi sócio fundador do “Clube Social de Poções” e pertenceu também à “Sociedade União das Classes”. Foi sócio fundador da “Companhia Telefônica de Poções”, pertenceu ao “Lions Clube” e em 1962 foi presidente da “Fundação Ginásio de Poções”.
Em 1968, como reconhecimento pelos serviços prestados à pátria durante a 1ª Guerra Mundial recebeu o título de Cavalheiro da Ordem Vittorio Veneto.
Em 1980, por ocasião das comemorações do 1º Centenário de Poções a Cooperativa Mista Agropecuária Conquistense prestou uma homenagem à colônia italiana de Poções e escolheu Corinto Sarno como patrono, “pelos serviços prestados à comunidade e à Igreja”.
Muito devoto, Corinto Sarno fez parte da Congregação Mariana e foi durante anos um dos grandes incentivadores da Festa do Divino. Divertia-se principalmente no leilão, quando arrematava prendas que oferecia aos sobrinhos ou devolvia para ser novamente leiloada.
De espírito alegre, não perdia uma batalha de confetes no Carnaval. Vestia-se com simplicidade, usando suspensórios ,em manga de camisa e chapéu de massa, o que motivou um sobrinho, Pietro Sangiovanni, a fantasiar-se de “Seu Corinto” no Clube Social de Poções.
Em 1949 volta à Itália a bordo do “Anna C” com a esposa, para uma viagem de passeio. Em 1954 comemora as Bodas de Prata, merecendo, no discurso feito pelo Juiz Dr. Eurico Alves Boaventura a afirmativa de que o casal é “espelho para os que o cercam”. Tiveram sete filhos : Tereza, Pedro, Aurora, Ada, Noemia, José e Eduardo.
Em 1970, no dia 25 de Maio, enfrenta a morte com dignidade, vitimado pela leucemia, aos 71 anos.
A comunidade poçõense, em um gesto usual mas de profundo reconhecimento, deu o seu nome a uma das ruas da cidade.

Ao relembrar tudo isto é como diz o mesmo poeta citado “umas coisas valem a dor da memória”...


Eduardo Sarno
Salvador, 25 de Maio de 2009