tag:blogger.com,1999:blog-38617107406754862422024-03-25T10:58:18.051-03:00Família SarnoEstudos e crônicas da imigração italiana na Bahia.
"Mudam de céu, não de espírito, aqueles que atravessam os mares"
"Cambiano di cielo, non di spirito,
quelli che passano sul mare"
Horácio (Epístolas, 1.2.)
**Os italianos que não emigraram construiram a Itália. Os italianos que emigraram ajudaram a construir não só a Itália mas diversos outros países.** (Eduardo Sarno)Eduardo Sarnohttp://www.blogger.com/profile/04488369579765304731noreply@blogger.comBlogger60125tag:blogger.com,1999:blog-3861710740675486242.post-80479195784798705842024-03-19T21:06:00.001-03:002024-03-19T21:06:54.997-03:00<p> </p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">O PALETÓ</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">* crônicas poçõenses *</p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgabctdT8jk4XIOwJQAF8IwxlwQrh4enWDwYJj-CBm5J537kqtFRVVZmOtB6AGhyphenhyphenrb6N6jLnAECAHj_b1slY6Kv1G6qOUcYqDZwMwdDvwDLrmn9MdRfM8Dv0YsVLXU-Mb_A-bjcy4mldz_f9tzCEQxnB9lCCan-C43IxjLMUqN3Hi_A6-b3pj6ZdakAe1ZP/s627/paleto%20paradela%20.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="473" data-original-width="627" height="241" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgabctdT8jk4XIOwJQAF8IwxlwQrh4enWDwYJj-CBm5J537kqtFRVVZmOtB6AGhyphenhyphenrb6N6jLnAECAHj_b1slY6Kv1G6qOUcYqDZwMwdDvwDLrmn9MdRfM8Dv0YsVLXU-Mb_A-bjcy4mldz_f9tzCEQxnB9lCCan-C43IxjLMUqN3Hi_A6-b3pj6ZdakAe1ZP/s320/paleto%20paradela%20.jpg" width="320" /></a></div><br /><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br /></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p> </o:p> Nas noites frias no
Seminário de Amargosa eu me aquecia com um paletó escuro inverno-esporte, que
havia sido de meu cunhado, Garibaldo. O que ele tinha de horroroso tinha de
confortável. Mas foi com base no primeiro critério que minha irmã Teresa, nas férias,
resolveu condená-lo, à minha revelia, em uma triagem feita em conivência com
minha mãe.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Protestei, ameacei, mas fui voz
vencida. As noites continuaram frias, e eu sem meu paletó. Uma barbaridade.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Quando minha irmã Aurora casou,
em Poções, fui vitima de outra arbitrariedade. Eu havia decidido que não iria
ao casamento de paletó. Mas, para minha surpresa, haviam escondido todas as
minhas roupas e deixaram apenas o paletó disponível, em cima da cama. Não fui
ao casamento e fotos posteriores confirmam minha indumentária em manga de
camisa, junto aos nubentes.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Minha mãe, inocente e
religiosamente, mandou ampliar e colocar em moldura oval, aquelas tamanho grande,que
ficavam na sala de visita, uma foto minha da primeira comunhão, segurando uma
vela cerimonial, um livro de orações e um terço. Estava de sapato de verniz, de
paletó e...de calça curta ! A visão daquele garoto rechonchudo até hoje
me causa riso.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Minha mãe sempre teve prendas de
costureira. Naquela época alguns vestidos eram forrados, e outros, como eram
usados com anáguas, praticamente também eram forrados. Mas, quando havia sobras
de tecido, minha mãe, que também tinha prenda de economia, fazia calças curtas
para nós meninos, mas não forrava! Assim, ao andar, as coxas coçavam e eu fazia
de imediato uma analogia da coceira com tecido novo. Durante muitos anos, e
ainda conservo até hoje, a preferência da roupa usada em detrimento da nova.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Em setembro, na Festa da
Padroeira de Boa Nova, minha mãe participava das comemorações, <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>elegantemente trajada em seu “tailleur” sob
medida, de tecido estampado. Ao seu lado, de mãos dadas, estava eu, de calças
curtas e terninho infantil, do mesmo tecido que o vestido dela!</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">O terno, como também é conhecido
o paletó, deriva de '<i style="mso-bidi-font-style: normal;">três'</i>, e inclui
paletó, calça e colete, em desuso, e sua forma atual surgiu durante a Revolução
Industrial.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Ademais, as calças,
principalmente as compridas, tinham de ter vinco e uma barra. Manter tudo
alinhado e passado eu achava, como diria Raul Seixas, "tudo isso um saco”
!</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Tempos depois, não sei por qual
motivação festiva, fiz um paletó de encomenda, com Otoniel alfaiate, que
pontificava no Beco dos Artistas. Era um paletó bem talhado, azul-marinho, e
que tenho registro em foto, do uso do mesmo na Festa do Divino, cercado pelas
belas irmãs Paradelas. Este paletó me acompanhou até São Paulo, em 1967,
quando fui para o casamento clandestino de José Fidelis, meu irmão. Depois tive
de abandoná-lo, intempestivamente, juntamente com outras roupas, em uma
kitinete na Maria Antonia. Na ocasião eu estava gerenciando uma Transportadora
na Vila Maria e fui preso pela Polícia Federal, acusado de distribuir, através
da Transportadora, boletins e jornais contra a Ditadura Militar. Era verdade,
mas não deveria ser considerado um crime.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Meu pai era um usuário constante
de paletó. Usava normalmente o de linho e nas cerimônias o de casimira inglesa.
Quando gostava de um tecido, encomendava a Otoniel<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>dois ternos iguais. Minha mãe reclamava:</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">-Mas Corinto, assim o povo vai
dizer que você só tem uma roupa!”</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Meu pai dava de ombros e não
respondia, mas a lição estava dada: não é o comentário do povo que diz o que
vou usar.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Bom, tudo isso a propósito de um
convite que recebo para um casamento "chic", de etiqueta, onde o uso
do paletó é considerado apropriado e de bom tom.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Encomendar, comprar,
emprestar ou alugar um paletó para mim está fora de questão. Deixar de ir
também. O que fazer? , diria Lênin.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Só me resta argumentar. </p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">E o principal argumento que
encontro é que, nos dois principais casamentos que envolvem minha vida, eu não
fui de paletó. O primeiro foi o de meus pais, eu não era nascido. O outro foi o
meu, onde estou de manga de camisa, ao lado de Vane minha noiva e em frente ao
padre José Hamilton, capelão das Sacramentinas.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Se o hábito não faz o monge, o paletó
não faz a cerimônia.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"> Eduardo Sarno</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Nov/2013</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p> </o:p></p>Eduardo Sarnohttp://www.blogger.com/profile/04488369579765304731noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3861710740675486242.post-15780780513938396812024-03-18T22:24:00.007-03:002024-03-18T22:31:11.617-03:00<p> </p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">FAMILIA SARNO NA BAHIA :<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>OS ORRICO</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p> </o:p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg5Fdyw3vnXA3F5pdQQPJHnQ5gw2sszY00YFiqiZWBdN-XtH3ahJRm0C9HYkvAxvMkGD9bG6tF67JT0-VAIH4ZaDtQXrfHAMR0LREFjvocvqt7mKa8hJeLfscYmggmXyGlCsJS30dnvh4FcsUHYsbQ765u6yaXXIxzQYwbA7rhxIBd6VKKf6UhdZaa7l7J4/s4374/vicente%20orrico%20sarno.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="4374" data-original-width="3918" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg5Fdyw3vnXA3F5pdQQPJHnQ5gw2sszY00YFiqiZWBdN-XtH3ahJRm0C9HYkvAxvMkGD9bG6tF67JT0-VAIH4ZaDtQXrfHAMR0LREFjvocvqt7mKa8hJeLfscYmggmXyGlCsJS30dnvh4FcsUHYsbQ765u6yaXXIxzQYwbA7rhxIBd6VKKf6UhdZaa7l7J4/s320/vicente%20orrico%20sarno.jpg" width="287" /></a></div><span style="font-size: xx-small;"> Vicente (Orrico) Sarno</span><p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">A história social e genealógica
das famílias tem algumas variantes interessantes. No caso da nossa família
Sarno ocorre uma variante que por vezes tem confundido antigos e novos
familiares : trata-se da família Orrico Sarno.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Este tronco descende diretamente
de Francesco Sarno, o conhecido tio Chico, que foi o primeiro Sarno da nossa
família que veio para o Brasil.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Francesco Sarno era casado com
Carmela Orrico e tiveram 4 filhos.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Um deles era<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Vicente (Orrico) Sarno, que chegou ao Brasil
em maio de 1925, com 15 anos e 11 meses.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Ao chegar em Poções Vicente
(Orrico) Sarno <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>encontrou o primo Vicente
Sarno, que já trabalhava no comércio local.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Para evitar futuras confusões
comerciais com os nomes iguais resolveram, de comum acordo, que Vicente, filho
de Francesco , assinaria Vicente Orrico Sarno, e que Vicente, filho de Fedele
Sarno, continuaria como Vicente Sarno.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Como a legislação e o costume
italiano não incluem o sobrenome da mãe, esta inclusão do “Orrico” ficou sendo
apenas um acerto que, naquela época – estamos falando de 1925 – era possível.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Assim, a rigor, este tronco da
família Sarno não possue de origem o Orrico no nome. Podem passar a tê-lo<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>caso seja incluído em registro aqui no
Brasil.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p> </o:p>FAMILIA SARNO NA BAHIA : OS ESPINHEIRAS</p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhBW53jhnFryH7Wf0QrKp_s_xNmONPAJIk35tng2CP9rwbjo2h5guvOFrsqRMRigLNpzVbh8NqHf8f3cskz9XaeDawzUcY06aibuBx0Hk0Tuwhl_N0mqZ3uDoob4t0xRPkTFq53f44TSkIW8gFcnJshiCPEubucXW8eZQK4Mt9r6V7MUeajuydAthqHJT5j/s5290/espinheiras%20.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="5290" data-original-width="3632" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhBW53jhnFryH7Wf0QrKp_s_xNmONPAJIk35tng2CP9rwbjo2h5guvOFrsqRMRigLNpzVbh8NqHf8f3cskz9XaeDawzUcY06aibuBx0Hk0Tuwhl_N0mqZ3uDoob4t0xRPkTFq53f44TSkIW8gFcnJshiCPEubucXW8eZQK4Mt9r6V7MUeajuydAthqHJT5j/s320/espinheiras%20.jpg" width="220" /></a></div><span style="font-size: xx-small;"> Tuna , Gey e Ruy Filho</span><br /><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br /></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p> </o:p>Os Espinheiras possuem a mesma
origem que os “Orrico”: Francesco Sarno, casado com Carmela Orrico, tiveram uma
filha de nome Matilde Sarno.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Matilde casou-se com José
D’Andrea ( moravam em Poções depois foram para Jequié) e tiveram uma filha chamada
Iracema D’Andrea.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Se destacarmos os sobrenome
ocultos ficaria<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Iracema (Sarno – Orrico)
D’Andrea.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Posteriormente Iracema casou-se
do o Dr. Ruy Espinheira, perdendo então o D’Andrea.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">O fato da mulher não transmitir o
sobrenome oculta muito a descendência, e assim o Espinheira ficou prevalecendo
em um tronco da família genuinamente Sarno.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Lembro quando Corinto Sarno
hospedava Dr. Ruy Espinheira em nossa casa em Poções, o fazia na condição de
grande amigo e esposo de Iracema, prima de Corinto.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p> </o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p> </o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">FAMILIA SARNO EM UBERABA- MG :
ANTONIO SARNO</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">FAMILIA SARNO EM SANTOS :
AGNESE<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>( SARNO ) DE FRANCO</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">FAMILIA SARNO EM BUENOS AIRES:
FILOMENA (SARNO) BARLETTA</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p> </o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Eduardo Sarno</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">2009</p>Eduardo Sarnohttp://www.blogger.com/profile/04488369579765304731noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3861710740675486242.post-47218314774444087072024-03-18T22:10:00.000-03:002024-03-18T22:10:00.592-03:00<p> </p><p class="MsoNormal">FAMÍLIA & MEMÓRIA</p>
<p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhvci58rduk4JhW8VotqWQveEIeIxf3aYAZCXggdClEbFPXxbEh-CqoJPLknO9ofcpvJYyyJfP_-j1xDX55Rj4_MoUIGd-u3BxLHNK7U0Rm2fUSVHjL6C7VIUT_4uOFS1eCJN7Kjb9EuwQ2wmac7RmFbr04JyFNvndclCLlp_sUsP7Sig06kuPmLSf7xXD0/s13124/CARTAS.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="13124" data-original-width="9495" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhvci58rduk4JhW8VotqWQveEIeIxf3aYAZCXggdClEbFPXxbEh-CqoJPLknO9ofcpvJYyyJfP_-j1xDX55Rj4_MoUIGd-u3BxLHNK7U0Rm2fUSVHjL6C7VIUT_4uOFS1eCJN7Kjb9EuwQ2wmac7RmFbr04JyFNvndclCLlp_sUsP7Sig06kuPmLSf7xXD0/s320/CARTAS.jpg" width="232" /></a></div><br /><p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Um dos aspectos destacados e
analisados pelos historiadores da imigração italiana no Brasil é a
predominância da imigração familiar sobre a de indivíduos solteiros.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Mesmo na maioria dos casos onde o
chefe da família emigra primeiro, a intenção é quase sempre fazer vir a família
para junto dele.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">O trabalho na terra, seja como
dono da gleba ou assalariado na colheita, sempre foi uma atividade que congrega
toda a família. A terra, como unidade produtiva, permite a moradia, a produção
pelo plantio, a venda e troca dos produtos, a sobrevivência e a manutenção da
saúde da família. </p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Esta unidade familiar expande-se
horizontalmente, quando membros da família adquirem mais terras, e
verticalmente, quando os mais novos continuam o trabalho produtivo dos mais
velhos. Por este motivo as tradições e valores culturais são mantidos por mais
tempo.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Os camponeses da região do
vêneto, Norte da Itália, sem acesso à terra, formaram o grande contingente de
imigrantes que vieram para o interior de São Paulo, Rio Grande do Sul, Paraná e
Espírito Santo, principalmente.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">O comércio, de características
urbanas, também é um elemento que agrega a família. Assim como a atividade na
terra, ele permite a acumulação de riqueza e bem estar para a família,
recebendo para isso o concurso de todos.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Os meridionais, ou habitantes do
Sul da Itália, dirigiram-se, em boa parte, para a atividade urbana e, como
localização, privilegiaram o Nordeste e o Norte do Brasil.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Com a família Sarno não se passou
de modo diferente. O primeiro Sarno imigrante trouxe parte da família, e os
outros dois seguintes vieram solteiros. </p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Vencendo as dificuldades da
distância, da guerra e da luta pela sobrevivência, todos os sete irmãos
constituíram família e moravam próximos.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Centrados na atividade comercial
comum, eles estreitavam estes laços familiares pelo compadrio, solidariedade e
nas atividades sociais e culturais.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">A ligação com os remanescentes da
família que ficaram na Itália era grande, através de cartas, encomendas,
mensagens, fotografias e eventuais visitas.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">A partir da dissolução da Casa
Sarno, esta unidade e convivência foi-se desagregando, seja por mudança de
moradia, falecimento ou principalmente pela nova atividade da geração seguinte:
profissionais liberais, na sua maioria.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">A atividade profissional liberal,
do pequeno comércio ou do emprego público e privado levou esta nova geração a
ser auto-suficiente, a não precisar depender do circulo familiar mais amplo,
pois bastava o auxilio da família mais próxima, de pais e irmãos.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Esta distância aumenta na medida
em que a família cresce e agrega-se a ela novas famílias através dos
casamentos. O processo acelerado de urbanização não permite mais que algumas
famílias morem no mesmo bairro ou prédio, como aconteceu na Av. Araújo Pinho,
onde chegaram a morar 6 famílias aparentadas e 2 de patrícios.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">A antiga solidariedade familiar,
sólida e eficiente, fica então reduzida a uma troca de favores entre
profissionais, pedidos de desconto, de bolsas de estudo, de indicação para
emprego e coisas do gênero.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">A fala do belo dialeto mormanolo,
suas canções e seus ditados ficam perdidos, pendentes apenas na lembrança de
alguns. Os objetos vão-se perdendo, cartas e fotografias muitas vezes são
destruídas ou descuidadas, devido ao desinteresse pela memória.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">É até contraditório que em uma
época de tantos recursos tecnológicos para reproduzir, informar, pesquisar,
esta questão do resgate da memória não esteja na ordem do dia. </p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Para que haja interesse não se
pede nem mesmo que se tenha cultura, visão histórica, basta que haja<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>curiosidade, emoção e respeito pelos nossos
antepassados.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">A recente possibilidade legal da
dupla cidadania despertou uma espécie de volta às origens, mas com um objetivo
absolutamente pragmático: obter a certidão de nascimento do antepassado. </p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Assim, o movimento no tempo, nos
distanciando de nossas origens, e o movimento no espaço, onde nos distanciamos
entre nós, leva a que sejamos uma família que se encontra anualmente para comer
e eventualmente para enterrar seus mortos.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Abril/2010</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Eduardo Sarno</p>Eduardo Sarnohttp://www.blogger.com/profile/04488369579765304731noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3861710740675486242.post-35912759253041435922024-03-18T21:50:00.003-03:002024-03-18T21:50:45.015-03:00<p> </p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="mso-spacerun: yes;">
</span>OS ITALIANOS E O CINEMA NA BAHIA</span><span style="font-size: 12.0pt; font-weight: normal; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEht1CJxgug2USXsrkvBouNAHFnCbpKuFdOnOdoUsfhLAbXPZYc-UKxw5yyVQ_VugwtBI4rY-SxLkq7VMNq64FS5JOOIqyEoA5Tp_PwNngUsrsj9n26XhDot0fCQBxV1T_FHt9vsApZhonsBjG6SdCTGbikYxRuuKAb8Gm6-Gt7Ndsp3JTZsc0cfE7ZsyPLl/s1200/DSCN4124%20-%20Copia.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1200" data-original-width="885" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEht1CJxgug2USXsrkvBouNAHFnCbpKuFdOnOdoUsfhLAbXPZYc-UKxw5yyVQ_VugwtBI4rY-SxLkq7VMNq64FS5JOOIqyEoA5Tp_PwNngUsrsj9n26XhDot0fCQBxV1T_FHt9vsApZhonsBjG6SdCTGbikYxRuuKAb8Gm6-Gt7Ndsp3JTZsc0cfE7ZsyPLl/s320/DSCN4124%20-%20Copia.JPG" width="236" /></a></div><span style="font-size: x-small;"> Geraldo Sarno e foto dos pais</span><br /><span style="font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><br /></span><p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; font-weight: normal; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><o:p> </o:p></span><span style="font-size: 12pt;"> </span><span style="font-size: 12pt;">A característica urbana da imigração
italiana na Bahia fez com que aqui se domiciliassem muitos trabalhadores
autônomos, entre eles técnicos em galvanoplastia, em eletricidade, decoradores,
pintores e artes metalúrgicas diversas.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; font-weight: normal; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A passagem por Salvador de várias
companhias teatrais, inclusive a Companhia Lyrico-Comica Italiana, de Boldrini
& Milone, que inaugurou em 23 de maio de 1886 o Polyteama Baiano, em sua
nova fase, contribuiu certamente para que técnicos a artesãos tivessem contato
com as necessidades e oportunidades locais na área artística.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; font-weight: normal; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Por razões geopolíticas, principalmente
a carência de recursos naturais e a necessidade de industrialização, a Itália
sempre teve grandes cientistas que se dedicaram às pesquisas químicas e físicas
no setor da eletricidade. Desde o século XVIII, com Luigi Galvani e o conde
Alessandro Volta, continuando no século XIX com Calzecchi-Onesti e Augusto
Righi e, já no século XX com Gugliemo Marconi, tiveram sempre uma familiaridade
com uma tecnologia que estaria depois vinculada ao cinema.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; font-weight: normal; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Segundo Sílio Boccanera, cronista baiano
da década de 20, foi o italiano Nicola Parente quem inaugurou, em 1898, o
primeiro cinema na Bahia, chamado Cinema Lumiére. Funcionava na rua Carlos
Gomes, número 26, onde posteriormente se estabeleceu a pensão Norte Americana.
O nome foi uma homenagem aos irmãos Lumiére que, em 1895, construíram o
cinematógrafo e apresentaram o primeiro filme em Paris. Parente foi o primeiro
a utilizar, aqui na Bahia, a luz oxyetérica.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; font-weight: normal; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Cronologicamente correta, a programação
do Cinema Lumiére anunciava como a “última maravilha do século XIX”! Além da
apresentação inicial do “sempre apreciável trajecto do cortejo da Rainha Victória”,
eram oferecidas “novas e interessantes scénas”: “Um corsel manhoso - Desfilada
de um regimento turco para a guerra da Grécia - Uma ponte em construcção -
Engraçada dança por uma egypsia, num hotel (Egypto) - Grande cortejo de
cavalheiros germânos - Os surpreeendentes banhos de alvorada, em Milão - A
chegada do trem”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; font-weight: normal; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Com 200 cadeiras e cobrando dois mil réis
por ingresso, este cinema teve um “êxito extraordinário” durante três meses,
onde os espectadores assistiam cenas esporádicas, precursoras do moderno filme
de enredo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; font-weight: normal; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Sílio Boccanera, que nos deixou estas
informações, ele também descendente de italianos, reconhece que a primeira
exibição cinematográfica aconteceu em 4 de dezembro de 1897, no Polytheama,
organizada pelo senhor Dionísio Costa. Mas, “fosse defeito do aparelho, ou
imperícia do operador, o fato é que esse cinema não agradou absolutamente ao
público, e só fez a sua estréia”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; font-weight: normal; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>No ano seguinte, 1899, foi a vez do
Teatro São João passar a ter um cinematógrafo. Era de um italiano, que
Boccanera não nos deixou o nome. Por pouco, um princípio de incêndio não
devorou todo o edifício e o italiano mudou-se com o seu cinema para a cidade de
Alagoinhas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; font-weight: normal; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Em março de 1907 foi inaugurado o Cinema
dos Salesianos, ordem religiosa fundada por São João Bosco, no ano de 1859, na
Itália. Funcionava nos “feriados nacionais de gala ou dias festivos do
estabelecimento”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; font-weight: normal; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>O Bijou-Theatro-Cinema, inaugurado em 20
de agosto de 1910, na Calçada do Bonfim, era de propriedade do italiano Umberto
Marchesini. Com lotação de 300 cadeiras, funcionava no edifício Miramar,
próximo à estação da Estrada de Ferro. Em 1911, também na Calçada do Bonfim,
funcionou o Recreio Fratelli Vita, pertencente à fábrica de gasosas dos irmãos
Vita. O seu gerente era o senhor Domingos Papaléo. Entre 1911 e 1912, funcionou
o cinema Rio Branco, na rua do Saldanha, número 2, de propriedade de Gazineu
& Araújo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; font-weight: normal; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A inauguração, em 24 de dezembro de
1919, do Kursaal Bahiano (atual Cine Glauber Rocha, antigo Cine Guarany) foi
significativa para a participação italiana na história do cinema da Bahia.
Projetado e construído pelo notável engenheiro Felinto Santoro, nas difíceis
condições de pós-guerra, incluía, além de todas as acomodações necessárias para
um cine-teatro de categoria, quiosque, bar, jardim e a balaustrada em torno da
praça Castro Alves.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; font-weight: normal; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A fachada, de bom gosto e rara beleza,
era ornamentada por duas esculturas de dançarinas do escultor francês Guérin,
tendo ao fundo a figura de um pavão com seu colorido variando do azul intenso
ao amarelo ouro. Nas laterais dessa fachada, havia a máscara da comédia e da
tragédia, ambas de autoria do mesmo escultor.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; font-weight: normal; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Curiosamente, em uma foto de 1919, o
título do filme anunciado no Kursaal Bahiano era “Redempção”, o mesmo título do
primeiro filme baiano de longa metragem, de Roberto Pires, que estreou em fins
da década de 50, no Cine Guarany, quando se inaugurou uma placa alusiva ao
acontecimento.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; font-weight: normal; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>O nome “Kursaal”, do alemão pouco usual,
traduz-se por “sala de espetáculos”. A mudança do nome para Cine Guarany é
detalhadamente narrada no emocionante livro “Um cinema chamado saudade”, de
Geraldo Costa Leal e Luis Leal Filho.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; font-weight: normal; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Felinto Santoro, consagrado engenheiro e
arquiteto napolitano, com obras realizadas em Manaus, Belém, Vitória e Rio de
Janeiro, além de ter projetado e construído em Salvador o Mercado Modelo e o
quartel do Corpo de Bombeiros, entre outras obras, participou também de um
concurso promovido pelo governo do estado, em 1920,<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>para selecionar o melhor projeto para reforma
do Teatro São João. A Comissão Julgadora classificou o trabalho de Santoro em
1º lugar, mas, por motivos diversos, a reforma não foi levada adiante. Em 1923,
as chamas destruíram o teatro.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; font-weight: normal; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A 5 de novembro de 1928, com a presença
de Mussolini, instalava-se em Roma o “Instituto Internacional de Cinematografia
Educativa”, sob os auspícios do governo italiano e da Sociedade das Nações
(atual Organização das Nações Unidas- ONU). A Itália, em geral, e também o fascismo
sempre estimularam a atividade cinematográfica. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; font-weight: normal; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Imigrantes italianos na Bahia, mesmo sem
os propósitos doutrinários, desenvolveram esta emulação cultural e, já nos anos
30, o italiano Bráz Labanca era proprietário da Empresa de Luz Elétrica Pública
e Particular de Poções e, na década seguinte, do Cine Poções, que anos depois
com o nome de Cine Teatro Santo Antonio, pertenceu a Fidélis Sarno. Na cidade
vizinha de Jequié, na década de 20 o italiano André Leto, de Trecchina, além
das atividades comerciais e do fabrico de gasosa, teve um dos<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>primeiros cinema da cidade - o Cine Teatro
Jequié. Já em Itabuna, na região do cacau, o italiano Giuseppe Larocca, manteve
em funcionamento um cinema na cidade, nessa época.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; font-weight: normal; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Geraldo e Luis Leal, no livro já citado,
fazem referências a três cinemas pertencentes a italianos: o Cinema Calçada,
inaugurado em 1927, e depois mudado para Cinema Império, em 1932, cujo
proprietário era Salvador Fatescha. O Cinema Pathé, inaugurado em 1928, por
Humberto Forccuci, e o Cinema Liberdade, na Estrada da Liberdade, que entre <st1:metricconverter productid="1940 a" w:st="on">1940 a</st1:metricconverter> 1947 pertenceu a
Angelo Larocca.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; font-weight: normal; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Na atualidade, destacando-se como
cineastas, os descendentes de italiano Geraldo Sarno e Tuna (Sarno D’Andrea)
Espinheira contribuem com uma extensa filmografia, basicamente nordestina e
baiana .<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; font-weight: normal; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><o:p> </o:p></span><span style="font-size: 12pt;">Eduardo Sarno</span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; font-weight: normal; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Dezembro/1997<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; font-weight: normal; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><o:p> </o:p></span><span style="font-size: 12pt;"> </span><span style="font-size: 12pt;">Bibliografia</span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; font-weight: normal; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Boccanera Júnior, Sílio - Os
cinemas na Bahia - 1897/1918. Resenha <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; font-weight: normal; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="mso-spacerun: yes;">
</span>Histórica. Tip. Bahiana, de Cincinnato<span style="mso-spacerun: yes;">
</span><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; font-weight: normal; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Melchiades.
Bahia. 1919.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; font-weight: normal; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Leal, Geraldo da Costa e Luis
Leal Filho - Um cinema chamado saudade <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; font-weight: normal; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="mso-spacerun: yes;">
</span>Bahia. 1997.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; font-weight: normal; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Associazone Nazionale Ingegneri
ed Architetti Italiani - L’Opera Dell’ingº-<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; font-weight: normal; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="mso-spacerun: yes;">
</span>Felinto Santoro al Brasile. T.E.M.A. - Napoli <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; font-weight: normal; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="mso-spacerun: yes;">
</span>1923.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; font-weight: normal; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Revista do Cinema Educativo -
Anno 2 - nº 2 - Rio de Janeiro - Maio de <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; font-weight: normal; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>1923.<span style="mso-spacerun: yes;">
</span><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; font-weight: normal; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; font-weight: normal; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><o:p> </o:p></span></p>Eduardo Sarnohttp://www.blogger.com/profile/04488369579765304731noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3861710740675486242.post-55420811916348014612024-03-18T15:02:00.000-03:002024-03-18T15:02:24.450-03:00<p> </p><p align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">BRINQUEDOS
FÍSICO-QUÍMICO-BIOLÓGICOS DA INFÂNCIA</p>
<p align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">*
crônicas poçõenses *</p>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhLLz3RnuG4Xng0BLstSI890SS6GII0-pQyK8AWWZhyphenhyphenFWgmMuB8eHkUJKW9yIJiWxeI2dD2I7JlJ_AqFEps4dAC3J-vhX7VIKNH-6K_xA7VGyE6BkJKoWkF6CjCmxG-DqkrJPUDbgrqhWJIg6zEpFrZIQiQrsk-cnwsaDojqkCODK36JqiYKVEQvmGbe-kN/s4747/tanajura.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="3688" data-original-width="4747" height="249" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhLLz3RnuG4Xng0BLstSI890SS6GII0-pQyK8AWWZhyphenhyphenFWgmMuB8eHkUJKW9yIJiWxeI2dD2I7JlJ_AqFEps4dAC3J-vhX7VIKNH-6K_xA7VGyE6BkJKoWkF6CjCmxG-DqkrJPUDbgrqhWJIg6zEpFrZIQiQrsk-cnwsaDojqkCODK36JqiYKVEQvmGbe-kN/s320/tanajura.jpg" width="320" /></a></div><br /><p align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</p>
<p align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">Além das
brincadeiras mais comuns, tínhamos, em Poções, algumas formas de
diversão que implicavam um certo conhecimento, que eram adquiridos
nos livros, revistas ou na experiência de outro menino.</p>
<p align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">Uma delas
era a brincadeira com pólvora, cuja fórmula básica tinhamos
aprendido, e não era dificil conseguir os ingredientes na venda de
Dahil. Feita a pólvora, o grande pilão de madeira que tinha em
nossa casa servia para os nossos objetivos, que era fazer, com um
prego bem grosso, um buraco no pilão e encher de pólvora. Depois, o
mesmo prego era colocado no buraco e batia-se nele com um martelo. A
explosão era imediata.</p>
<p align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">As
baterias velhas serviam para serem desmontadas, e nos forneciam as
placas de chumbo, que em seguida eram postas no fogo, e derretiam. As
fôrmas, preparadas com barro, serviam como recipentes para a
depuração e resfriamento. A criatividade é que decidia qual a
forma que o chumbo derretido iria tomar.</p>
<p align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">Alguns
remédios, como colirio, dependiam de conta-gotas para seu uso. E
estes eram de vidro, com a bombinha de borracha. Esquentar o vidro
na chama de uma vela, dando formas distorcidas, era uma diversão.
Depois, com fogo mais intenso , o resultado era pequenas bolas de
vidro, às vezes um pouco quebradiças.</p>
<p align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">A hélice
voadora era feita a partir de uma lata de sardinha. A tampa permitia
recortar, com mais facilidade, a forma de uma hélice. Dois furos
eram feitos no centro, que se acomodavam a dois pregos sem cabeça,
fixados em um carretel de madeira de linha de costura. O carretel era
colocado em uma haste, e um cordão enrolado nele permitia, quando
desenrolado rápidamente, fazer com que a hélice voasse. Era nosso
simulacro de helicóptero.</p>
<p align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">O barco a
vapor era feito com um sistema de tampa de garrafa, onde era colocado
álcool, e uma serpentina de metal simples, tudo isso acoplado a um
pequeno barco de madeira. Ao colocar fogo no álcool, a água
transformada em vapor, ou mesmo aquecida, fazia o barco se deslocar.</p>
<p align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">As
brincadeiras biológicas eram mais agressivas, e o relato delas não
significa o endosso atual das mesmas.</p>
<p align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">A
tanajura, com sua grande bunda, servia para ser espetada, o que
motivava o bater frenético das asas.</p>
<p align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">O sapo, à
noite, com o corpo encharcado de álcool, e pulando em chamas, era um
espetáculo sádico inominável. Mas nós não sabíamos disso.</p>
<p align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">Os
filhotes de sapo – girinos- que nós chamávamos de 'magasapos',
eram recolhidos no pequeno riacho nos fundos da casa de Ruy
Espinheira, e cozidos barbára e inultilmente em um velho tacho.</p>
<p align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">Aa
borboletas e mariposas eram pregadas, com alfinete, em pedaços de
papelão.</p>
<p align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">Os
besouros, principalmente os grande e de chifres, era guardados em
latas de metal, bem fechadas. Os besouros pequenos, coloridos, eram
colocados em caixas de papelão.</p>
<p align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">Alguns
pássaros, depois de abatidos a badocadas, eram dissecado com lâmina
de barbear, a "gilete".</p>
<p align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">O cágado
tinha uma pequena haste amarrada em seu casco, e na ponta, um pedaço
de alface. Caminhava o dia todo, mas não alcançava o seu jantar.</p>
<p align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">Mas, à
noite, todos dormiam tranquilos, naquele tempo não havia culpa.</p>
<p align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">Eduardo
Sarno</p>
<p align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">Maio/2016</p>
<p align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</p>Eduardo Sarnohttp://www.blogger.com/profile/04488369579765304731noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3861710740675486242.post-89301877985191965032024-03-18T12:02:00.001-03:002024-03-18T12:02:25.190-03:00<p> </p><p align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm; page-break-before: always;">
VARANDAS</p>
<p align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">* crônicas poçõenses *</p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg2NEfXjSS4UNeEUROJ3DJf-re0yTew9skAavAwR-BhzWXQzv5B2l99mwKOb1lyRcG1c3hPczdc3eBddz4XGIr3s2JY7lX_QFE7DAzkVjojDo-wAuyG5kdSpG942fDMAZNtJ34P7EeeNxKwEPSJrRb6vR6gW8DEzgNakLzvMY_zRqCiO9nB8jrR-tMqbY1m/s4483/cadeira%20cal%C3%A7ada.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="3416" data-original-width="4483" height="244" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg2NEfXjSS4UNeEUROJ3DJf-re0yTew9skAavAwR-BhzWXQzv5B2l99mwKOb1lyRcG1c3hPczdc3eBddz4XGIr3s2JY7lX_QFE7DAzkVjojDo-wAuyG5kdSpG942fDMAZNtJ34P7EeeNxKwEPSJrRb6vR6gW8DEzgNakLzvMY_zRqCiO9nB8jrR-tMqbY1m/s320/cadeira%20cal%C3%A7ada.jpg" width="320" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhnWToUJMFHrp4ri5oyGrjX3CE89a5gAPZbb2QPkNiwppRDZ3nLeJWe2tJlTktO2CXmmkmmGhqHXaKo_yHXPCv-EyR0Qg3_EOtHxu7QzOpIODu-bcSrK17OMhxb3HIh-RfbOOxiUTqJ1rv-S_zxITPbc2ug9wP_rz46iKVB2B-pi_z0He1DFRDlPiUWsE1f/s4432/VARANDA.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="3803" data-original-width="4432" height="275" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhnWToUJMFHrp4ri5oyGrjX3CE89a5gAPZbb2QPkNiwppRDZ3nLeJWe2tJlTktO2CXmmkmmGhqHXaKo_yHXPCv-EyR0Qg3_EOtHxu7QzOpIODu-bcSrK17OMhxb3HIh-RfbOOxiUTqJ1rv-S_zxITPbc2ug9wP_rz46iKVB2B-pi_z0He1DFRDlPiUWsE1f/s320/VARANDA.jpg" width="320" /></a></div><br /><p align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br /></p>
<p align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">Remanescentes
de uma arquitetura colonial interiorana, as casas em Poções tinham
as fachadas limítrofes aos passeios. Era uma barreira real, com
porta e janelas, separando o público e o privado. A menor ou maior
simplicidade e decoração construtiva da fachada destacavam a
posição social do morador. O desenho urbano da cidade também
participava desta qualificação , distribuindo as casas mais simples
pela periferia e as mais amplas no centro.</p>
<p align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="text-align: left;">As
janelas nem sempre ficavam abertas, pois o interior das casas não
devia ser visto. A aeração era feita pelos fundos, na sequencia
copa, cozinha, despensa, jardim e/ou quintal.</span></p>
<p align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">As
janelas da frente normalmente se situavam em sala de visita, quarto
do casal ou gabinete. Sendo assim, eram abertas apenas quando os
moradores queiram ver o que se passava na rua.</p>
<p align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">A porta
principal, direta no limite do passeio, dava entrada a um vestíbulo,
que por vezes ainda possuía uma segunda porta, mais leve, com
intenções de preservação da intimidade doméstica.</p>
<p align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">Assim, o
ritual das presenças e movimentos situava a mulher e as filhas na
sala, copa e cozinha. Os filhos brincando no quintal ou na rua. E o
homem saindo para o trabalho tinha no ato de fechar a porta o
sinal de segurança da família.</p>
<p align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">Principalmente
no verão, mas também em domingos e feriados, as pessoas colocavam
cadeiras nos passeios e prosavam. As mulheres também se encontravam,
e a ida e volta da missa era sempre uma ocasião propícia. Os
meninos continuavam donos da rua e dos quintais. Na frente da casa,
as cadeirinhas enfileiradas eram usadas pelas crianças, banhadas e
penteadas.</p>
<p align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</p>
<p align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">Na década
de 30, do século XX, começa a surgir o estilo construtivo que se
denominou “bungalow”, ou bangalô em português, nome de origem
indiana. Em Poções eram chamadas de “estilo moderno” , com
linhas retas e recursos de concreto, que não existiam nas antigas
casas.</p>
<p align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">É o
inicio das varandas. Mas neste estilo moderno as casas são recuadas
e com elas as varandas. Assim, a comunicação se estabelece com
visitantes mais familiares, que já adentraram o espaço da casa
através da grade do jardim, esta sim no limite do passeio.</p>
<p align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">Na Praça
do Obelisco, a casa do Dr. Antonio Carlos era deste tipo. Ao lado, a
casa das Mascarenhas era do estilo antigo, mas já com varanda direta
para a rua. Mais adiante, a casa de Argemiro Pinheiro permanece com o
estilo antigo, de porta e janelas, sem varanda.</p>
<p align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">A
varanda, portanto, já se institui nas décadas 40 e 50, quando
Poções já tem um comércio mais estruturado, ruas que começam a
serem pavimentadas com paralelepípedos, cidadãos que já se
encontram no Clube Social União das Classes, uma festa do Divino
mais abrangente e uma juventude que já começa a ir estudar em
Jequié e Salvador. Esta, sem dúvida, a principal frequentadora e
animadora das varandas.</p>
<p align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</p>
<p align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">Com a
varanda, uma nova era de sociabilidade se abre. As pessoas veem e são
vistas. Cumprimentam “en passant” as pessoas de conhecimento
mais afastado, e prosam mais demoradamente com as pessoas mais
conhecidas. Comunicam e ficam sabendo das novidades. Cada um, homem,
mulher e menino, à sua hora e à sua maneira usam a varanda.</p>
<p align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">De dia ou
de noite, na semana ou no domingo, no dia comum ou de festas, a
varanda é sempre o elo de ligação da casa com a rua.</p>
<p align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">A varanda
permitia, portando, uma maior proximidade sem, contudo invadir a
privacidade.</p>
<p align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">O
cerimonial era portanto, de acordo com o relacionamento. A conversa
passeio-varanda era com conhecidos em geral. Na varanda
propriamente só com pessoas mais chegadas. Na sequencia usava-se
a sala de visita para uma recepção mais cerimoniosa e finalmente na
sala de jantar ou copa para familiares e amigos próximos. E, para
ficar completa a descrição, o quarto de dormir, se fosse hóspede.
Em uma época sem hotéis e com pensões razoáveis era comum a
prática da hospedagem, seja de familiares, amigos ou mesmo padres
pregadores, como foi o caso de D. Crisóstomo, beneditino.</p>
<p align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="text-align: left;">Na rua da
Itália quase todos se dispuseram a sacrificar uma parte de um dos
cômodos para construir uma varanda. Só a casa de Miguel Lopes
permaneceu sem varanda.</span></p>
<p align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">Em nossa
casa tinha uma varanda grande, com dois parapeitos e entre eles uma
coluna redonda, que chamávamos de “vovô”. As cadeiras de ferro
e uma decoração simples completavam a varanda. Na nossa tinha uns
patos de cerâmica na parede, que foram levados pelo filho da
lavadeira. Ela, entre triste mas orgulhosa, fez questão de devolver,
se desculpar e repreender o filho.</p>
<p align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</p>
<p align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">O coronel
Alberto Lopes com sua família, quando de passagem para sua fazenda
na Mata, era hóspede de nossa casa e frequentador da nossa varanda.
Uma das vantagens era que, os conhecidos quando passavam e o viam
sempre adentravam para um dedo de prosa e dois dedos de Martini.</p>
<p align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">À noite
era o cerimonial dos tios. Meu pai, após o jantar saia com minha mãe
para andar no passeio, em frente à varanda da minha casa e da de
Antônio Leto. Da varanda da sua casa, Américo Libonati, via e
vinha. Luís Sarno, mais acima, também ia descendo, sempre com o
palito na boca, que não tirava nem para falar. Fidélis de Boa Nova,
primo, também se chegava, com o cigarro no lugar do palito. Tio
Emílio bastava subir um pouco a rua e já estava com o grupo. Em
geral usavam chapéu de massa, pois temiam o sereno. Tio Luiz sempre
foi usuário de um boné.</p>
<p align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">Conversavam
sobre as novidades sociais, políticas e comerciais, principalmente o
mercado do café.</p>
<p align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">Debruçados
na balaustrada da varanda, Aninna e os filhos a tudo ouviam.</p>
<p align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">Vindos de
Mormanno, pequena cidade no Sul da Itália, onde as ruas estreitas
mal permitiam sacadas e o frio exigia janelas duplas e fechadas,
estar ali, prosando sob um amplo hemisfério cheio de estrelas, tendo
uma larga visão, mesmo urbana, era um prazer que desfrutavam sempre
que podiam, sabendo que aquilo fazia parte da compensação por terem
partido.</p>
<p align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="text-align: left;">E assim o
papo prosseguia, poliglótico, ora em português, ora em mormanolo,
ora em italiano e por vezes a palavra usada não existia, era pura
invenção deles...!!!</span></p>
<p align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="text-align: left;">Eduardo
Sarno</span></p>
<p align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">Out/2012</p>Eduardo Sarnohttp://www.blogger.com/profile/04488369579765304731noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3861710740675486242.post-9286612848523106392024-03-18T11:26:00.003-03:002024-03-18T11:26:47.635-03:00<p> </p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">O<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>LIXO<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>LÁ<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>DE<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>CASA...<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>NO SÉCULO<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>PASSADO</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">* crônicas poçõenses *</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p> </o:p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgXuuJocFAkGVU8-zgndxCYtzjiV1ojvSXQweTnuB2zrMpNz6PXjC44S9sU7Ak94CsL4Z62qSghQaIlLbL8IoWDRQOXwDruCRRkXni84_XLU-Lkb-2Dy1JKunRD8dh5yY2Zrga3KGIA6rCfu6OaxYMzC2KxLwf0J4P4IYhPEZ8LKvaHXWTRnMMZ4frJFxEc/s7006/mangueira.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="4718" data-original-width="7006" height="215" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgXuuJocFAkGVU8-zgndxCYtzjiV1ojvSXQweTnuB2zrMpNz6PXjC44S9sU7Ak94CsL4Z62qSghQaIlLbL8IoWDRQOXwDruCRRkXni84_XLU-Lkb-2Dy1JKunRD8dh5yY2Zrga3KGIA6rCfu6OaxYMzC2KxLwf0J4P4IYhPEZ8LKvaHXWTRnMMZ4frJFxEc/s320/mangueira.jpg" width="320" /></a></div><br /><p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">A casa a que me refiro, ou em
epígrafe, se preferem, é a casa de meu pai, Corinto Sarno, em Poções , interior
da Bahia, nos idos de 1950.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Alguns livros de memórias possuem
títulos sugestivos, ou alusões a “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">parece
que foi ontem</i>", ou, como publicou meu irmão Pedro Sarno “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Foi</i> <i style="mso-bidi-font-style: normal;">tudo
tão de repente</i>...”, que decidi também incluir a indicação de que se trata
de um lixo do século passado.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Um fato que me marcou ocorreu em
alguma data da década de 60, quando minha irmã Noemia – ela nega e não se
lembra – tentou passar ferro em um saco plástico que embalava a camisa Ban-Lon,
as primeiras de fibra sintética.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Com este fato história do nosso
lixo situa-se antes e depois do <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>saco
plástico, que passou a ser conhecido e utilizado naquela década.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Nossa casa tinha mil metros
quadrados, ficava de esquina com a Rua da Itália e o Beco do Cine Glória. Esta
dimensão permitia que a casa tivesse sete quartos, um quintal de cima, com
plantas e árvores frutíferas e um quintal de baixo, com galinhas e mais árvores
frutíferas. Tinha também um depósito de lenha e carvão.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">No fundo do quintal de baixo, em
um dos cantos, à sombra de um grande coqueiro, ficava o monturo, o lugar onde
se jogava o lixo.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">A cozinha, com sua produção de
cascas e restos orgânicos em geral era a principal fornecedora do monturo. As
galinhas eram as clientes. Apesar de serem alimentadas com milho diariamente,
as galinhas ciscavam continuamente não só o lixo, mas todo o quintal, que
ficava igual a um terreiro.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Dependendo do tipo de resto
orgânico, ele ia para os porcos, que tinham um cercado próprio. Pelancas e
ossos iam engrossar a comida do cachorro, no caso o feroz pastor da Casa Sarno.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">O sanitário produzia um lixo
reduzido, de papéis higiênicos, que eram incinerados no monturo, sem maiores
problemas.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Grãos, farinha, açúcar, sal e
outros eram comprados em embalagens de papel. Na Casa Sarno tinha uma seção de
secos e molhados, onde o produto era pesado já com o papel, que depois era
destramente fechado, ficando o embrulho parecido com um grande pastel. O saco
de papel, mais prático, só aparece algum tempo depois.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">As latas de biscoito, banha,
manteiga e outros eram reutilizadas para guardar mantimentos ou como utensílios
de cozinha. As latas pequenas, nas mãos de artesãos, transformavam-se em
lamparinas e outros artefatos.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">A cabaça, inteira, comprida e com
um furo era usada para bater leite e fazer queijo ou ricota. Pequena e cortada
ao meio servia para tirar água do pote.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">A bucha, uma cucurbitácea, depois
de seca e retirada a fina casca, servia para a limpeza das panelas, juntamente
com a fina areia, que vinha do caminho do açude velho. Assim, eram as panelas
areadas. A bucha, para a higiene corporal no banho, ainda hoje é encontrada.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">O leite chegava da fazenda em
grandes latões, não necessitando de embalagem própria.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">A borra do café coado servia de
adubo, e do fogão à lenha se retirava a brasa que era usada para aquecer o
ferro de passar, e a cinza para fazer sabão.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Os objetos em geral eram feitos
de madeira, alumínio, cobre, chumbo, latão, ferro fundido e metal zincado,
todos de fácil conserto e reparo.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>As latas de querosene – usado na geladeira a
gás -<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>eram direcionadas para o uso na
construção civil.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">As garrafas de vidro eram poucas,
e sempre reutilizadas para licor, azeite, vinagre, etc. Para se comprar cerveja
ou refrigerante era obrigatório levar garrafas iguais para troca, ou deixar uma
caução em dinheiro, para receber na devolução do casco.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Mas sempre uma garrafa quebrada
podia ser usada para guarnecer o alto de um muro contra visitas indesejadas.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Cordas e cordões eram feitos de
croatá, ou gravatá, uma bromeliácea. Os sacos de juta, usados para ensacar café
e mamona no Armazém Sarno, eram usados como panos de chão.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">No quintal de cima, afora alguns
canteiros de cimento, a maioria <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>era de
caixotes de madeira, que meu pai trazia da loja, onde plantava principalmente
cravos.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Periodicamente ele podava as
videiras, e fazia mudas com as hastes maiores, indo a folhagem para o lixo. Era
praticamente este o lixo orgânico proveniente das árvores frutíferas, não
havendo necessidade de queimar nenhum resto de madeira no fogão.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Um capitulo especial era o uso
que fazíamos de quase tudo para brinquedos e brincadeiras. </p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Nas mãos hábeis de Adilson Santos
os cabos de vassoura se transformavam em perfeitos arcos, e as penas das
galinhas em adornos para as flechas. As pontas ele confeccionava com<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>tampas de latas ou raros pedaços de
vergalhão.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">As velhas baterias de carro eram
desmontadas e o chumbo derretido, para fazer pesos e outras formas em moldes
escavados na madeira.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">As cabeças de fósforo eram
colocadas em um buraco em um tronco e estouradas com prego e martelo.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">No quintal da casa de Miguel
Lopes havia um caminhão velho que, escondido, aos poucos fomos desmontando,
roubando as rolimãs para o jogo de gude e os rolamentos para fazer patinete,
que tinha um suporte com o volante. As caixas de madeira da loja eram usadas
para fazer carrinhos, com volante e eventual freio de pouca serventia, pois o
impulso que os meninos davam ao empurrar o carrinho era desproporcional à
potencia do freio e ao declive da rua da Itália.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">As tampas de refrigerantes,
desempenadas, serviam para um jogo em que elas eram batidas contra a parede e
ficavam próximas da “ficha” do adversário. As apostas eram pagas com carteiras
de cigarro vazias. </p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Não só o descarte das casas, mas
o da cidade também era reutilizado. A borracharia fornecia material para os
badoques e solado para as alpercatas que usávamos.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Qualquer aro de metal ou madeira
era logo usado para diversão, adaptado a algum tipo de carrinho ou simplesmente
empurrado destramente com uma haste de ferro ou madeira. Até a cera das abelhas
era usada para fazer dardos emplumados.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Era assim, uma vida sem perdas
nem danos. O pesadelo do carro do lixo só apareceu anos depois, quando nosso
futuro foi plastificado.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p> </o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Eduardo Sarno</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Junho/2011</p>Eduardo Sarnohttp://www.blogger.com/profile/04488369579765304731noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3861710740675486242.post-8236347999063746072024-03-17T21:38:00.000-03:002024-03-17T21:38:00.407-03:00<p> </p><p align="center" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: center; text-autospace: none;"><span lang="pt" style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: #0016;">CORINTO<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>SARNO<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>E<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>“SERPENTINA”<o:p></o:p></span></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: center; text-autospace: none;"><span lang="pt" style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: #0016;">* crônica poçõense *<o:p></o:p></span></p><p align="center" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: center; text-autospace: none;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhLmmfAI2Aq0de4kjLfJgPNg62mt-uaiRFi_498dYSPa8sDhYoUKCG6jbtTWI569IsNqgV5BacRjU4MEmIqAMW8G_SMArZXjGBfPNK6r8ASEx75Fa6cWj4j7aevuxbXdyieaDvFNEZfOqBGMnW6mqCMFtSAcqujn6q03bfnIGke9Edas7AFlvsR2cPuDNpw/s310/serpentina.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="163" data-original-width="310" height="163" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhLmmfAI2Aq0de4kjLfJgPNg62mt-uaiRFi_498dYSPa8sDhYoUKCG6jbtTWI569IsNqgV5BacRjU4MEmIqAMW8G_SMArZXjGBfPNK6r8ASEx75Fa6cWj4j7aevuxbXdyieaDvFNEZfOqBGMnW6mqCMFtSAcqujn6q03bfnIGke9Edas7AFlvsR2cPuDNpw/s1600/serpentina.jpg" width="310" /></a></div><br /><span lang="pt" style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: #0016;"><br /></span><p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;"><span lang="pt" style="mso-ansi-language: #0016; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-hansi-font-family: Calibri;"><o:p> </o:p></span><span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 12pt;">Apesar do conhecido</span><span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 12pt;">
</span><span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 12pt;">apreço que Corinto Sarno tinha pelas serpentinas e confetes, nos
carnavais no Clube Social União das Classes,</span><span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 12pt;">
</span><span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 12pt;">em Poções, a serpentina aqui referida e aspeada é outra.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;"><span lang="pt" style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: #0016;">Trata-se da<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>“serpentina” usada no processo de aquecimento da água para uso
doméstico. O nome obviamente deriva da forma de locomoção das serpentes,
fazendo curvas ondulantes.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;"><span lang="pt" style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: #0016;">No Brasil, pela facilidade do uso da mão de obra do
escravo, de meninos de recado e de domésticas, o uso da água encanada para a
higiene pessoal demorou a ser adotada.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;"><span lang="pt" style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: #0016;">Para as abluções diárias o uso comum era uma armação
de ferro encimada por uma bacia, ao lado o pegador para a toalha e o recipiente
para o sabão. Embaixo a jarra com a água. A riqueza ou pobreza do artefato era
determinada pelas posses da família.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;"><span lang="pt" style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: #0016;">Desde o banho de cuia, de banheira ou de chuveiro de
lata, a água, quente ou fria, era sempre levada em um balde e despejada no
recipiente adequado.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;"><span lang="pt" style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: #0016;">Na Europa, segundo Caroline Lucas, no interessante
trabalho “O Mundo Doméstico” , só na década de 1880 a água encanada começou a
ser instalada nas casas de classe média. E “<i>no final do século introduziu-se
a água quente encanada, aquecida por fogão da cozinha ou em caldeiras separadas</i>”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;"><span lang="pt" style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: #0016;">Naquela época em Poções – falamos da primeira metade
do século XX – usava-se para as encanações canos de chumbo. Lembro que quando
havia restos de obras procuráva-mos pedaços de chumbo para derreter e brincar.
Tal material, por não resistir ao calor,<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>não era apropriado para fazer a “serpentina”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;"><span lang="pt" style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: #0016;">Só por volta de 1950, quando já havia no mercado o
tubo galvanizado, foi que Corinto, juntamente com o cunhado Chico Sangiovanni,
instalaram a “serpentina” no fogão principal da casa, na cozinha junto ao
banheiro.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;"><span lang="pt" style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: #0016;">Os tubos galvanizados só tinham roscas nas pontas, e
as adicionais eram feitas com uma tarraxa, em um delicado trabalho de torno
manual. Por não existir ainda o “teflon” , usava-se fiapos de sisal com tinta
para a ação de veda rosca. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;"><span lang="pt" style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: #0016;">O fogão, de ferro fundido, era apropriado para esta
função de aquecimento de água. Usava-se lenha ou carvão, e a múltipla
funcionalidade incluía, além da água, o aquecimento do forno, das panelas, e da
chapa, que mantinha aquecida a chaleira ou a comida dos retardatários por um
bom tempo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;"><span lang="pt" style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: #0016;">A “serpentina” tinha um funcionamento permanente e
barato. Acima do fogão, um reservatório, conjugado com o banheiro, nos deixava
abastecidos de água quente ou morna por um longo período. O banheiro, todo
ladrilhado e com banheira, era uma novidade na cidade. Conta o meu irmão Pedro
que algumas visitas pediam para ver o banheiro de “seu” Corinto. Não pela
suntuosidade, certamente, mas pela novidade e conforto.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;"><span lang="pt" style="mso-ansi-language: #0016; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-hansi-font-family: Calibri;"><o:p> </o:p></span><span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 12pt;">Eduardo Sarno</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;"><span lang="pt" style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: #0016;">Maio/2012<o:p></o:p></span></p>Eduardo Sarnohttp://www.blogger.com/profile/04488369579765304731noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3861710740675486242.post-81812025995807699302024-03-17T21:30:00.003-03:002024-03-17T21:30:58.281-03:00<p> </p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;"><span lang="pt" style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: #0016;">A MACARRONADA<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;"><span lang="pt" style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: #0016;">* crônicas poçõenses *<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;"><span lang="pt" style="mso-ansi-language: #0016; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-hansi-font-family: Calibri;"><o:p> </o:p></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgf26MBhIZkepJi_QS1ulytJjWFAIrFdpwdmA1LiHcY2V8iTxBt7p7WEws6trM6EY2F8sEbEB8YQuVaD3q8VkFUoWllxZjxSlrnvY4xExuyLWhHuzmKpxR3E5GlxBtroMzdRQUVnUQPLfNV4KAXiB04g6eq5nXYHdt5qgjPTvh38-_jymLaB7Hec8ap9oxU/s4827/maq%20macarrao%20aninna.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="3580" data-original-width="4827" height="237" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgf26MBhIZkepJi_QS1ulytJjWFAIrFdpwdmA1LiHcY2V8iTxBt7p7WEws6trM6EY2F8sEbEB8YQuVaD3q8VkFUoWllxZjxSlrnvY4xExuyLWhHuzmKpxR3E5GlxBtroMzdRQUVnUQPLfNV4KAXiB04g6eq5nXYHdt5qgjPTvh38-_jymLaB7Hec8ap9oxU/s320/maq%20macarrao%20aninna.JPG" width="320" /></a></div><br /><p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;"><span lang="pt" style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: #0016;">Minha mãe, ao voltar da missa dominical, dedicava-se à
tarefa da preparação da macarronada, com a ajuda de Joaninha, nossa empregada
de muitos anos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;"><span lang="pt" style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: #0016;">A farinha de trigo era de boa qualidade, mas nem
sempre foi assim. Na década de 30, a farinha demorava tanto a vir de Salvador
para Poções, que invariavelmente chegava estragada.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;"><span lang="pt" style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: #0016;">A massa, preparada com ovos do quintal, era
primeiramente aberta na máquina manual, marca “Rapid”, vinda da Itália, mas
provavelmente de fabricação inglesa, e que uso até hoje. As tiras eram
espalhadas sobre a<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>mesa de pedra da
cozinha, e depois passada no cilindro do “spaghetti”. O<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>outro cilindro era para o “talharim”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;"><span lang="pt" style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: #0016;">A grande panela de alumínio já estava sobre o fogão a
lenha, aquecendo a água.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;"><span lang="pt" style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: #0016;">O “sugo” era feito de tomates previamente cozidos, aos
quais se juntava as “polpetas” (do latim “pulpa”)<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>ou então bifes de carne macia, enrolados e
espetados em um palito.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;"><span lang="pt" style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: #0016;">O uso de tomates e verduras por parte dos italianos em
Poções, Jequié e Jaguaquara criou uma demanda, que foi suprida<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>tanto pelos próprios italianos que se
dedicaram à agricultura, como pelos agricultores locais.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;"><span lang="pt" style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: #0016;">A travessa,<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>antiga e enorme, de porcelana,<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>já
aguardava sobre a mesa da copa ou, eventualmente, da sala. A fome rondava a
casa, e os comensais não se afastavam, prontos para “mangiare”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;"><span lang="pt" style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: #0016;">Meu pai não se sentava à cabeceira da mesa. Tinha o
costume e a preferência de sentar-se ao lado da cabeceira, por ser um lugar
mais resguardado e ter a visão da copa e do quintal, com a parreira e o pé de
laranja lima. Quando havia convidados, que lhe reservavam a cabeceira da mesa
ocorria sempre a necessidade desta explicação.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;"><span lang="pt" style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: #0016;">O primeiro prato a ser servido era o do meu pai, e em
seguida dos filhos. Minha mãe revelava prazer imenso nesta tarefa de alimentar
a ninhada. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;"><span lang="pt" style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: #0016;">Meus pais, e eventualmente nós, usávamos a colher para
auxiliar o garfo a enrolar o 'spaghetti'. Era um antigo costume italiano.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;"><span lang="pt" style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: #0016;">O horário da refeição era sagrado, ninguém podia se
atrasar. Nem mesmo meu pai. Quando isso raramente ocorria, era repreendido por
minha mãe. Ele respondia de maneira jocosa<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>e sorrindo: “- Dona Nina, Dona Nina...!!”<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;"><span lang="pt" style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: #0016;">Normalmente o consumo eram dois pratos “per capita".
Nas ocasiões festivas bebia-se vinho tinto frisante.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;"><span lang="pt" style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: #0016;">A tarde<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>era
dedicada à digestão. Eu sentava sózinho na varanda e ficava observando a rua,
na tarde dominical, semi-deserta. Quando passava um transeunte, eu me
perguntava mentalmente, com um leve sentimento de culpa,<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>se ele estaria tão bem alimentado como eu.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;"><span lang="pt" style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: #0016;">Eduardo Sarno<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;"><span lang="pt" style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: #0016;">2019<o:p></o:p></span></p>Eduardo Sarnohttp://www.blogger.com/profile/04488369579765304731noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3861710740675486242.post-59018809751667022362024-03-16T19:33:00.001-03:002024-03-16T19:33:52.928-03:00<p> </p><h2 style="text-align: justify;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;">OS<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>PALAVRÕES E OS ITALIANOS<o:p></o:p></span></b></h2>
<p class="MsoNormal"><o:p> </o:p>* crônicas poçõenses *</p>
<p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi6ve_Dnl32Z3ubwiKNOJC8aTa-7ofv2TBfUNolJ2e-zt0yCD5kRvp8Ce1WdzzzK-aDMN0MC8wi39IlaXl6lNV2BwTi57PuyHuGg3LaurcPOuj0nuw_iNXHjbxaF86FRFtP1YKF_O0U49LARgbttLbueKOFR7KUJ8Fzh2uq2eZizC6NKXkUuxS-Pm36F-ud/s3340/cazzu.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1188" data-original-width="3340" height="114" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi6ve_Dnl32Z3ubwiKNOJC8aTa-7ofv2TBfUNolJ2e-zt0yCD5kRvp8Ce1WdzzzK-aDMN0MC8wi39IlaXl6lNV2BwTi57PuyHuGg3LaurcPOuj0nuw_iNXHjbxaF86FRFtP1YKF_O0U49LARgbttLbueKOFR7KUJ8Fzh2uq2eZizC6NKXkUuxS-Pm36F-ud/s320/cazzu.jpg" width="320" /></a></div><br /><span style="font-size: 12pt; text-align: justify;"> </span><span style="font-size: 12pt; text-align: justify;">Minha tia Ana Maria Sangiovanni
entrou correndo esbaforida em nossa</span><span style="font-size: 12pt; text-align: justify;"> </span><span style="font-size: 12pt; text-align: justify;">casa
e</span><span style="font-size: 12pt; text-align: justify;"> </span><span style="font-size: 12pt; text-align: justify;">foi encontrar minha mãe na cozinha
abrindo massa para macarrão, pois era quinta feira:</span><p></p>
<p class="MsoBodyText" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">-
Dona Annina, corre que estão xingando Dr. Ruy Espinheira de “bacharel”, pelo
alto-falante.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoBodyText" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Era
Ângelo Neto fazendo suas perorações políticas para o povo da cidade e, sem
querer, assustando<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>dona Ana.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoBodyText" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Chegada<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>em Poções a pouco tempo da Itália, ela ainda
não estava familiarizada com todas <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>palavras, carecendo portanto da explicação que
minha mãe lhe deu, que “bacharel” era o mesmo que advogado.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoBodyText" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Por
acaso ou de propósito estas peças lingüísticas eram sempre pregadas aos recém
chegados. Foi o que ocorreu com Antônio Libonati que, tendo sido recebido em
Salvador pelos primos Pedro, Élio e Benito, foi almoçar na casa de Vicente
Sarno, no Politeama de Cima, 22. Ensinaram para ele que açucareiro em português
era “pinico”, e ele não vacilou em pedir ao tio que passasse o “pinico”!...<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoBodyText" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Mais
precavida, tia Lelinha Pithon Sarno , esposa de Tio Vicente, achou por bem
avisar logo a tia Ana assim que ela chegou a Salvador : “- Se perguntarem como
se chama<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>“bolsa” em italiano não
responda !” A advertência foi oportuna porque assim que conheceu tia Ana,
Juracy de Fidélis insistiu para que ela dissesse como se chama “bolsa” em
italiano. Minha tia, sob o olhar preocupado de tia Lelinha aprendeu a lição e
se recusou a dizer “bolsetta”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoBodyText" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Os
nossos tios eram práticos em um palavrão, e o carro-chefe era <i style="mso-bidi-font-style: normal;">cazzu</i> , que significa membro viril (Rohlfs),
o vulgar <i style="mso-bidi-font-style: normal;">caralho ou pica</i>, com a
variante<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><i style="mso-bidi-font-style: normal;">capo de cazzu,</i><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"> </b>ou seja<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">, </b><i style="mso-bidi-font-style: normal;">cabeça
de pica</i><b style="mso-bidi-font-weight: normal;">.</b> Mas, se nós ousássemos
dize-lo levávamos logo um tapa. Eles falavam com tanta naturalidade e
freqüência que ficava difícil aceitar que nós também não o pudéssemos fazer.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoBodyText" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Mas,
contraditoriamente, o ambiente familiar era muito respeitoso e mesmo uma
simples<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><i style="mso-bidi-font-style: normal;">porra</i> <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>era objeto de
recriminação e tapa na boca. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Bosta</i><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"> </b><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>e <i style="mso-bidi-font-style: normal;">merda </i>também
nem pensar, aliás, pensar e fazer podia, o crime era dizer.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoBodyText" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Segundo
uma versão divulgada por Irineu de Valentim Sarno, numa tarde nublada Américo
Libonati ia descendo a Rua da Itália e já estava<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>no meio da praça, indo para a loja de
ferragens quando cruzou com José Schettini e, sorridente, comentou :<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoBodyText" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">“Giuseppe,
guarda come stai lampando!”( “José, veja como está relampejando!”)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoBodyText" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Como
o José não estava no seu dia de bom humor, respondeu :<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoBodyText" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">“Lampando
sta il culo tuo, cazzu” ( “Relampejando teu cú, caralho.”)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoBodyText" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Também
era muito usado a expressão <i style="mso-bidi-font-style: normal;">fessa</i>,<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>(besta), com as variantes <i style="mso-bidi-font-style: normal;">faccia de fessa</i> ( cara de besta), <i style="mso-bidi-font-style: normal;">fessa de mammata</i><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>( besta da mãe) ou<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><i style="mso-bidi-font-style: normal;">fessa
de ziata</i> ( besta da tia) e esses eram ditos por tios e tias. A origem da
palavra está no latim “fissus”, no sentido de vontade ou sentimentos
divididos.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>No dialeto trequinês “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">fezza</i><b style="mso-bidi-font-weight: normal;">”</b>, feminino <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">“</b><i style="mso-bidi-font-style: normal;">feccia</i><b style="mso-bidi-font-weight: normal;">”</b>, que significa vulgar, desprezível. No dialeto siciliano “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">fissa</i>” é o órgão genital feminino, entre
outras acepções. A aplicação é lógica, pois tal órgão tem uma fissura,
abertura.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoBodyText" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Daí
se referirem a uma coisa boba como “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">fessaria</i>”<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoBodyText" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Quando queriam mandar alguém se danar a
expressão usada era<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><i style="mso-bidi-font-style: normal;">va strafuta</i> , também de uso familiar. Se em geral os xingamentos
são difíceis de serem localizadas em suas origens, em italiano é mais
complicado, porque são palavras ditas e nunca escritas, sendo que muitas delas
derivam do dialeto trequinês ou mormanolo. Assim, por aproximação, temos , do
dialeto trequinês, <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>“</b><i style="mso-bidi-font-style: normal;">vastà</i><b style="mso-bidi-font-weight: normal;">”</b> que significa “chega, basta” e <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">“</b><i style="mso-bidi-font-style: normal;">frustafo</i><b style="mso-bidi-font-weight: normal;">”</b> significando “vá embora”.Segundo
Rohlfs, '<i style="mso-bidi-font-style: normal;">strafuná</i>' é distanciar-se,
dispersar.O que poderia ser traduzido pelo nosso popular 'se pique'.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoBodyText" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>As blasfêmias eram pouco ouvidas, mas a <i style="mso-bidi-font-style: normal;">porca<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>miséria</i><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>tinha os seus
usuários, e o seu sentido era reclamar da vida. Meu pai tinha predileção pelo
uso de “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">borrabota”</i>, que não chegava propriamente
a ser um palavrão, mas a partir do significado de “mau engraxate” designa
indivíduo reles, desprezível. Outra expressão que sempre usava era “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">capadócio</i><b style="mso-bidi-font-weight: normal;">”, </b><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>que apesar de suas
origens greco-latinas, pois se refere a uma província turca da Ásia Menor, não
tem em italiano a conotação que recebe em português : indivíduo acanalhado,
impostor, trapaceiro, parlapatão.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoBodyText" style="text-align: justify;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 12.0pt;">“</span></b><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-size: 12.0pt;">Capotosta</span></i><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 12.0pt;">”</span></b><span style="font-size: 12.0pt;">,
também do dialeto trequinês, <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>sempre teve
largo uso, e significa <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></b><i style="mso-bidi-font-style: normal;">cabeça
dura, teimoso</i><b style="mso-bidi-font-weight: normal;">, </b><i style="mso-bidi-font-style: normal;">obstinado</i><b style="mso-bidi-font-weight: normal;">. </b><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>É uma palavra formada de <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></b><i style="mso-bidi-font-style: normal;">capo, </i>cabeça<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>e</i> <i style="mso-bidi-font-style: normal;">tosta</i><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"> , </b>obstinada<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">.</b><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoBodyText" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Os
recém chegados da Itália também usavam o termo “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">brutto</i> “(feio, desonesto, tolo) para se referir a pessoas<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>que fossem<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>indelicadas ou praticassem ações que demonstrassem ausência de
sentimento.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoBodyText" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-size: 12.0pt;">“Abestalhado”</span></i><span style="font-size: 12.0pt;"> ou “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">abestado”</i><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>eram formas aceitas para o uso doméstico para
designar principalmente os meninos que, no conceito dos adultos, fizessem<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>alguma<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>besteira ou “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">bestagem”</i>, como
também era usado. Daí<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>o uso que meus
tios faziam com freqüência do termo “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">bestalhão”</i>
que, na pronúncia deles saia “<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"> </b><i style="mso-bidi-font-style: normal;">bestalhon”.</i><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoBodyText" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Minha
mãe tinha predileção de chamar minha irmã Noemia de “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">pamonha",</i> quando ela teimava em ler revistas de foto-novela
durante os horários não permitidos. Derivado do tupi <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>“</b><i style="mso-bidi-font-style: normal;">pamu’ñ ã”</i><b style="mso-bidi-font-weight: normal;">,</b> significa,
além de bolo de milho verde, pessoa mole, preguiçosa.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoBodyText" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Certa vez estávamos na grande mesa da copa
almoçando, quando Betânia, uma meninota que tinha vindo da roça para ajudar nos
serviços de casa, olhou pela porta lateral que dava para a rua e disse à minha
mãe que ali tinha uma “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">burrega</i>”. Como
minha mãe não sabia o que era não deu atenção. Minutos depois, ao passar pela
porta ela viu uma cabrita comendo as suas plantas. Aborrecida, chamou Betânia
de burrega e mandou que ela tirasse a cabrita de lá. A partir deste dia passou
a usar o termo para designar pessoas que ela considerava burras.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoBodyText" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Outro
neologismo que surgiu em circunstâncias bem definidas foi na ocasião em que
algum órgão do Governo providenciou o peixamento do açude local com uma espécie
denominada “Tilapia Melanopleura”, cuja grande façanha era se alimentar de
detritos lançados às águas. A molecada não deixou por menos e passou a usar o
termo “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">xilaia”</i><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"> </b><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>nos seus xingamentos mútuos,
com acepção indefinida mas certamente pejorativa.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoBodyText" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">E
assim a cultura do palavrão ia se difundindo e mesclando com as práticas<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>locais e quando começávamos a ir para a
Escola Alexandre Porfírio, estávamos perto de receber o diploma de expressões
chulas...e bilíngüe !<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoBodyText" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Os
palavrões mais estranhos eram aqueles que na época não sabíamos o significado,
e os principais era “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">xibungo”</i> ,
pederasta passivo, e “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">sacana”</i>,
derivado do árabe “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">açaccó</i>”, que
significa<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>“aguadeiro” e que é usado para
designar o canalha, patife, entre outros. Mas, como funcionavam, fazendo com
que as pessoas ficassem<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>retadas, o uso
era comum. Mas as palavras “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">retado”</i>(
estar zangado) e “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">porrêta”</i> (bom,
excelente) também não eram usadas socialmente.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoBodyText" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Os
doidos, quando eram provocados pelos moleques eram catedráticos de palavrão. A
principal resposta, evidentemente, era que o apelido dele eqüivalia à “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">buceta</i>”da mãe de quem o chamava. Mas
isso não intimidava os moleques, que queriam ouvir mais. E lá vinha “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">filho da puta”</i>, que na verdade saia com
variantes por causa da pronúncia: “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">fi da</i><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"> </b><i style="mso-bidi-font-style: normal;">puta”</i>
ou “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">féla da puta”</i>, pois a pressa e a
ignorância não permite classicismo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoBodyText" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Para nós a novidade era que também as doidas
sabiam um bom repertório de palavrões e era muito mais emocionante ouvi-las
gritar “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">vá tomar no cú, seus safados”</i>,
do que os doidos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoBodyText" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Nas
paredes da Escola o que mais se escrevia era “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">pica”</i> e “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">buceta”</i>, às
vezes com ilustrações adequadas ao texto. “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Xibiu”</i>,
que nos garimpos mineiros significa diamante pequeno, em Poções era sinônimo de
“<i style="mso-bidi-font-style: normal;">buceta”</i>, que era representada por um
triângulo. O mesmo acontecia com a palavra “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">binga”</i><b style="mso-bidi-font-weight: normal;">, </b>que em lugares mais discretos
significa isqueiro, mas aqui é “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">pênis”</i>
mesmo, e chamar alguém de “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">tampa de binga”</i><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></b>deixava
claro, de forma criativa, o significado.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoBodyText" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Uma
outra expressão que também se adiantava numa explicação mais completa era “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">filho de puta com soldado</i><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"> </b><i style="mso-bidi-font-style: normal;">raso</i><b style="mso-bidi-font-weight: normal;">” </b>, ofendendo os brios das Forças
Armadas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoBodyText" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Às
vezes ainda não tínhamos nem a percepção exata do significado do palavrão, mas
a ênfase com que era dito já bastava para motivar uma briga. Era o caso de “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">viado”</i>, (com “i”)<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>cuja compreensão não era completa para todos
nós. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoBodyText" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Xingar-nos
mutuamente de “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">corno”</i> não fazia o
menor sentido, mas, apesar disso era usado. Os mais sabidos já faziam uma
ligação direta com os pais da pessoa a ser ofendida, tornando o sentido mais
lógico.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoBodyText" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-size: 12.0pt;">“Vai te fuder”</span></i><span style="font-size: 12.0pt;">, ou “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">estou
fudido”</i> era de um caráter tão dúbio que nos confundia. Já compreendíamos
que “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">fuder”</i> era uma coisa boa, e como
se podia querer mal a alguém mandando ele se “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">fuder”</i> ? Como poderia alguém se “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">fuder”</i> sozinho? E por que estar “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">fudido”</i> era estar em uma situação ruim?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoBodyText" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Alguém
tinha dito que “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">porra”</i> significava
esperma, e não fazia sentido para nós que alguém gritasse “esperma” quando
estivesse zangado.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoBodyText" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">As
garotas, em absoluto não se permitiam dizer a mais simples “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">porra”</i>, e quando ouviam dos meninos alguns
palavrões diziam “- <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Queta, ozado</i>” e
no recinto sagrado do lar a chamada boca suja era lavada no tapa. Restava,
progressivamente, a escola, a rua e o bordel. Vitalina, dona da casa de
raparigas<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>mais freqüentada tinha uma
fala rendilhada de palavrões. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoBodyText" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Mesmo
com a circulação nos bordéis não havia novos palavrões. O rádio não se prestava
para isso e a televisão não existia. Só com a ida das primeiras levas de
ginasianos, para Jequié, no Colégio do padre Spínola – aquele que pegava nos
peitinhos das alunas fardadas dizendo: “-Escudinho novo, hem ?” ou para
Salvador, no Vieira, Salesiano e Maristas é que os horizontes lingüisticos se
ampliavam. Já se sabiam de nomes eruditos como “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">baitola, pederasta”</i> ou “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">homossexual”</i>.
Até de “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">franchona”</i> já se comentava,
sem falar no “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">sessenta e nove”</i>, mas
aí já é uma outra história, da prática e não da fala. Ou da prática do falo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoBodyText" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Foi
justamente em Jequié, em 1957, quando Pietro Pasquale Sangiovanni, o conhecido
Pepone foi fazer o exame de admissão que lhe perguntaram se ele já sabia<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>“<i style="mso-bidi-font-style: normal;">bater
punheta”</i>. Inocente, respondeu que não e então lhe ensinaram<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>um movimento de destreza com os dedos
indicadores e polegares alternando-se, num movimento sem fim,<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>e disseram que isso era bater punheta. Na
sala de aula, depois de feita a prova, contente, Pepone querendo se enturmar
perguntou ao professor se ele já sabia bater punheta. Sem perceber o olhar de
incredulidade do professor ele, movimentando os referidos dedos disse sorrindo:
“- Eu já aprendi, professor, olhe só!”<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoBodyText" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Eduardo
Sarno<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoBodyText" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Outubro.98<o:p></o:p></span></p>Eduardo Sarnohttp://www.blogger.com/profile/04488369579765304731noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3861710740675486242.post-1604324680531873122024-03-16T18:58:00.006-03:002024-03-17T20:55:23.198-03:00<p> </p><p class="MsoNormal" style="margin-right: 36.85pt; mso-pagination: widow-orphan; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">OS<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>SAPATOS</p><p class="MsoNormal" style="margin-right: 36.85pt; mso-pagination: widow-orphan; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhAHmb8terXE7KGWOW43C4_p3jJPWyrgAdiN0Qs_zfoyGUSvTW_TOG9rjHqcobHMiR03sSpBbmpsmRxu4_m24YbSpN1HnA3TI-loEX5DPmpVKG6KIQMSE3FTLcHMl9qguWY8RAchzeJRIY-kIrOueJrFBBvIMUEvmrbLNDLY2rl0iMGu92ml0w_UIWkTN4W/s2949/sapatos%20.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="2189" data-original-width="2949" height="238" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhAHmb8terXE7KGWOW43C4_p3jJPWyrgAdiN0Qs_zfoyGUSvTW_TOG9rjHqcobHMiR03sSpBbmpsmRxu4_m24YbSpN1HnA3TI-loEX5DPmpVKG6KIQMSE3FTLcHMl9qguWY8RAchzeJRIY-kIrOueJrFBBvIMUEvmrbLNDLY2rl0iMGu92ml0w_UIWkTN4W/s320/sapatos%20.jpg" width="320" /></a></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: 36.85pt; mso-pagination: widow-orphan; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">* crônicas poçõenses *</p>
<p class="MsoNormal" style="mso-pagination: widow-orphan; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><o:p> </o:p>Para nós, crianças e filhos de italianos em
Poções, a lembrança do calçado usual era
a alpercata, de sola de pneu, tiras de couro e pequena fivela lateral. De
fabricação local, era bastante resistente e deixava nos pés as marcas do uso,
em forma de sujeira, nas partes da pele
onde as tiras de couro não cobriam.</p>
<p class="MsoNormal" style="mso-pagination: widow-orphan; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">Quando se<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>começava
a freqüentar a Escola Alexandre Porfírio , então o uso era de um sapato
fechado, preto, de cadarço, e a marca mais comum era Clark, e a Vulcabrás
também era muito apreciada. Havia um modelo da Clark, vendido na Loja Sarno,
dos meus tios, que era o “Scattamaccio”. Este nome me dava a idéia de algo
parecido com um tanque de guerra. Na verdade, soube depois, quer dizer algo
como saltador, leve, como se o sapato fosse de molas !</p>
<p class="MsoNormal" style="mso-pagination: widow-orphan; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">Também destas marcas eram os sapatos usados pelos
nossos tios. A cor predominante era sempre o preto, e todos eles de cadarço.
Muito raro os marrons e mais raro ainda os que combinavam o marrom com branco.
Estes foram usados em décadas passadas, anteriores a 1950, e nós conhecíamos
pelas fotografias.</p>
<p class="MsoNormal" style="mso-pagination: widow-orphan; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">No inverno os sapatos eram protegidos por
galochas, que eram moldes de borracha fina, que se calçava por cima dos
sapatos, tornando-os impermeáveis.</p>
<p class="MsoNormal" style="mso-pagination: widow-orphan; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Mas os pés
brancos dos nossos tios nunca víamos. Mesmo em casa eles usavam um chinelo que
cobria a parte posterior do pé, só se vislumbrando o calcanhar. Os mais
acomodados usavam um sapato velho, amassado na parte de trás, como se
fossem<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>chinelas.</p>
<p class="MsoNormal" style="mso-pagination: widow-orphan; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">Esta não visão dos pés e a excessiva proteção
contrastava com os pés sempre à mostra da maioria do povo pobre da cidade , da
caatinga e da mata. Eles usavam sempre uma chinela de couro, tipo mete dedo. E
lá estavam aqueles pés calejados, rachados, andados.</p>
<p class="MsoNormal" style="mso-pagination: widow-orphan; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">Aos sábados, dia de feira, lá vinham eles. Os
catingueiros ou mateiros mais ricos, ou ligados ao trato do gado usavam botas
de couro cru, de fabricação regional.</p>
<p class="MsoNormal" style="mso-pagination: widow-orphan; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">Para ir até à fazenda , fazer uso das montarias,
ou ir à caça,<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>meus tios usavam coturnos
e borzeguins. Eram botas assemelhadas, de couro, bem amarradas na frente, com o
cadarço se entrelaçando. Uma delas tinha uma grande perneira, independente do
coturno, que se amarrava em separado.</p>
<p class="MsoNormal" style="mso-pagination: widow-orphan; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">O coturno trás o seu nome do grego, significando
um calçado usado pelas mulheres. Também os atores trágicos os usavam, para se
tornarem mais altos. Ainda é usual a expressão “fulano é de alto coturno” para
significar alguém socialmente importante .</p>
<p class="MsoNormal" style="mso-pagination: widow-orphan; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">O borzeguim, por seu lado, tira o seu nome do
antigo francês <i style="mso-bidi-font-style: normal;">broissequin </i>, e ao que
consta usado por atores da comédia.</p>
<p class="MsoNormal" style="mso-pagination: widow-orphan; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">Para minha primeira comunhão ganhei um sapato fino,
preto, de verniz. Bonito, brilhante, mas não resistiu a mais alguns domingos: o
verniz era quebradiço e não havia como recuperar. Mas<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>não era comum esta cor para esta
ocasião,<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>a usual era branca, combinando
com o terno.</p>
<p class="MsoNormal" style="mso-pagination: widow-orphan; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">Anexo aos sapatos estavam os apetrechos para
limpeza, que eram as pastas preta e marrom, a escova e a flanela.
Ocasionalmente os adultos e adolescentes engraxavam na rua, sentados
comodamente nas cadeiras dos engraxates. Mas como eram muitos sapatos e o uso
era mantê-los limpos e brilhantes, aos sábados normalmente fazíamos esta tarefa
em casa. Outro complemento indispensável era a calçadeira, de metal ou de
chifre de boi. A solidez dos sapatos e o cadarço apertado não permitiam uma
entrada do pé sem uma ajuda. Também a meia era indispensável, e ocasionalmente
o talco.</p>
<p class="MsoNormal" style="mso-pagination: widow-orphan; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">Por ser todo em couro o sapato tinha durabilidade
e as partes podiam ser substituídas. Para esta tarefa artesanal havia os bons
sapateiros no Beco dos Artistas, perto da Loja Sarno. O mais comum era fazer a
meia-sola e trocar o salto, masculino, ou capa-fixa, feminino. Para evitar o
desgaste excessivo do salto alguns usavam pequenas chapas de metal nos lugares
onde o atrito do salto era maior.</p>
<p class="MsoNormal" style="mso-pagination: widow-orphan; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">Daí a expressão usual de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">“fazer meia-sola” </i>, ou seja, fazer algo voluntariamente<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>pela metade.</p>
<p class="MsoNormal" style="mso-pagination: widow-orphan; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">Andar de pés descalços era impensável. Temia-se os
bichos e vermes de toda espécie. E o famoso <i style="mso-bidi-font-style: normal;">bicho-do-pé
</i><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>não era uma invenção, existia de
verdade, e dava uma coceirinha gostosa e traiçoeira. A frieira também era uma
possibilidade próxima que evitávamos, ao não pisar no molhado.</p>
<p class="MsoNormal" style="mso-pagination: widow-orphan; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">A partir da década de 50 foi surgindo uma grande
variedade de calçados esportivos. Um dos primeiros foi a <i style="mso-bidi-font-style: normal;">conga</i>, (a marca se confunde com o objeto) de solado de corda e
corpo de lona. A corda acumulava o suor, que combatíamos com o talco e no final
o calçado ficava todo enlameado por dentro. A alternativa era lavar. </p>
<p class="MsoNormal" style="mso-pagination: widow-orphan; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Com este
modelo já se iniciava o sistema use e jogue fora, porque não havia recuperação.
A marca em voga era “Alpargatas”. Em seguida veio a conga de solado de plástico
e também a basqueteira, de cano mais alto e cadarço, adaptado para esporte. Por
esta época surgem também os sapatos esportes sem cadarço, “mocassins” ,
normalmente marrons, o que vem aliviar os nossos pés.</p>
<p class="MsoNormal" style="mso-pagination: widow-orphan; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">Os tios continuavam com os calçados tradicionais,
e só os primos aderiam a estas novidades. Mas quando chegou a sandália
japonesa, o meu primo Fidelão, de tio Emilio, espantou a todos exibindo os
grandes pés brancos pùblicamente!</p>
<p class="MsoNormal" style="mso-pagination: widow-orphan; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">Os sapatos femininos, com<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>suas variações próprias seguiam estas
mudanças. As tias mais idosas mantinham a tradição do sapato preto fechado, com
salto, e as mais novas usavam<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>sapatos de
salto, alguns com cores, e uma pequena abertura na frente. As adolescentes
usavam também sandálias fechadas de couro e, as mais novas, sapato tipo
“boneca”. Na sequencia é que foram surgindo as sandálias de couro tipo
mete-dedo, com várias ornamentações. Minha irmã Aurora foi quem primeiro usou
em Poções, para espanto de umas e encanto de outras.</p>
<p class="MsoNormal" style="mso-pagination: widow-orphan; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><o:p> </o:p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><br />Eduardo Sarno<p></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: 36.85pt; mso-pagination: widow-orphan; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">Nov/ 03</p>Eduardo Sarnohttp://www.blogger.com/profile/04488369579765304731noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3861710740675486242.post-82187508508056385162024-03-16T17:54:00.001-03:002024-03-16T17:54:42.905-03:00<p> </p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">OS<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>DOIDOS</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">* crônicas poçõenses *</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p> </o:p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgkzGQpZ7JpGBw8M_6bjovGN69em3L1uBBisR_lKoySipFkk5_ei341v6hwhQT4IhnAf63jpnyg4GEl7r4V6SAbGMld8e4sMF2vm5QVLdIfxvXrHrsBaJ83tCLGk9Lq9YQxeuRn7DvsH84CQH9bFXu9PsmK1PH4hig79LPvKIotXJihsD3mGYupkfWt8ZqC/s5862/doidos.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="4832" data-original-width="5862" height="264" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgkzGQpZ7JpGBw8M_6bjovGN69em3L1uBBisR_lKoySipFkk5_ei341v6hwhQT4IhnAf63jpnyg4GEl7r4V6SAbGMld8e4sMF2vm5QVLdIfxvXrHrsBaJ83tCLGk9Lq9YQxeuRn7DvsH84CQH9bFXu9PsmK1PH4hig79LPvKIotXJihsD3mGYupkfWt8ZqC/s320/doidos.jpg" width="320" /></a></div><br />Eles estavam nas ruas e nas
nossas cabeças. Quando ouvíamos a molecada gritar: “Ôôô Três Casaco !!!”
corríamos para ver. Lá estava ele, barbudo ,já de uma certa idade, carregando
um saco cheio de coisas, correndo atrás dos moleques e jogando pedras. Ele
costumava ficar na porta da casa do dr. Agripino Borges e chegou a dar um tapa
em Adilson Santos. Era dos brabos. Mas tinha também os mansos: Isaulino era um
deles. Magro, segurando as calças sujas para não cair, andava, ciscava com uma
perna, catava um bago de cigarro no chão, dava uma corridinha, parava e ficava
falando só. Quando o chamavam, resmungava e mal levantava a cabeça.<p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Para nós, atentar os doidos era
um misto de brincadeira ingrata e perigosa. Não nos deixava satisfeitos. Havia
ali algo que nosso entendimento infantil não alcançava. O máximo que ouvíamos
os adultos comentarem eram sentimentos de pena: “coitados !!!”. Mas isso não
era suficiente. Ficávamos a pensar de onde eles vinham, porque se tornaram
assim e o que eram, finalmente. Às vezes alguém comentava que um doido havia
sido um homem rico, fazendeiro ou negociante, ou que uma doida teria sido uma
mulher muito bonita, que esteve quase noiva. Sentíamos o peso da fatalidade
como o de uma rocha caindo em cima de uma formiga, pois ali estava o pobre coitado,
na rua, sem absolutamente nada. O contraste conosco era total. Tínhamos de tudo
e a comparação a que éramos submetidos quando víamos um doido era muito forte.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Joaninha, a empregada lá de casa,
assim certamente como todas as outras de Poções, não perdia a oportunidade de
recorrer às ameaças de chamar um doido para nos pegar em caso de desobediência
ou malcriação. Os preferidos eram Buqueirão, um mulato barbudo, maltrapilho,
feroz e que jogava pedra, e o outro era Medonho, olhos remelentos e uma cabeça
enorme, que ele batia contra a parede.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">A nossa ignorância fazia com que
ficássemos aterrorizados, imaginando a obediência daqueles doidos aos desejos
das empregadas, a vinda deles fisicamente durante o dia e metafisicamente
durante o sono, nos atormentando.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Mas, com alguns doidos havia uma
certa convivência ou aproximação. Lope, por exemplo, doido manso, contava as
estrelas e quando errava recomeçava. Ao nos ver pedia “torresmim” para comer.
Maria Putuquinha tinha até um trabalho, botava água de ganho nas casas, pois
não existia ainda a água encanada de Morrinhos. Já com o Carrim, que era cego,
a malvadeza da molecada era orientar erradamente e fazer ele tropeçar ou cair
em um buraco. Quando davam comida para ele e não tinha carne, perguntava: “-Ô
Sá Jô cadê a mastigadura ?” Quando a molecada deu um pau sujo de bosta para ele
pegar acusou logo: tem um cagado por aqui !.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Os doidos tinham oscilações de humor
e comportamento, e dizia-se que a lua cheia tinha a ver com isso. Gatinha era
pequena, branquela, e quando braba deu um murro na barriga de Vone Macedo, que
estava na porta da farmácia de Olimpio Rolim. Contudo, os filhos de comadre
Dozinha Fagundes podiam xingar de Gatinha que ele não se incomodava. Pedia
pedaços de sabão nas casas e suspendia a saia, para alegria da molecada.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Já Pêga, negra gorda, feia e
suja, era sempre braba. O povo raspava a cabeça dela por causa dos piolhos.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Havia os que, se não eram doidos
eram tipos estranhos. Zupero era um deles. Índio, caboclo das matas, onde morava,
não saia de dia e só a noitinha é que passava nas casas. Lenço amarrado na
cabeça, bermuda desfiada, brincos e colares Zupero trazia para a nossa
curiosidade um novo elemento: o efeminado. Cantava versos do terno de Reis: “Ai<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>duri duri ai, ai ai duri duri ai”,<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>e dizia que na Sexta Feira Santa passava por
dentro de um espelho.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">O outro tipo estranho era
Mazinho, filho de Dona Massú, que era lavadeira e fazia acarajé. O pai era seu
Hermenegildo, guarda noturno, que o povo chamava de “Miligildo” e tinha um Reis
de Boi onde, certa ocasião, pregou um rabo de verdade no “boi” que fedeu tanto
que o povo não quis receber o Reis nas casas. Negro, alto, de andar rebolado,
Mazinho era o outro efeminado que nos intrigava. Não sabíamos nem porque nem
para que servia um efeminado. Achávamos que era só mania de querer imitar as
mulheres.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Poções sempre foi pequeno e com
três passadas os doidos iam da Rua da Itália à Rua São José e assim conheciam e
eram conhecidos de toda a cidade que, tirante a molecada, não os hostilizava.
Mas tinha um que só fazia ponto na Praça Coronel Magalhães. Era Jipe. Na
verdade era um andarilho que saia de Jequié e ia até Conquista, pela Rio-
Bahia, sem asfalto na época. Trazia pendurado no pescoço um volante e a tiracolo
as buzinas e os faróis. Amarrado atrás um bagageiro pequeno, com os pertences
de viagem. Os sapatos eram os pneus e as pessoas que o cercavam para ver a
novidade davam dinheiro, que era para comprar a “gasolina”: café com leite e
pão no Bar do João Liguori.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>São lembranças de seres provisórios, sem
passado e sem futuro, que só serviram para povoar a nossa imaginação. Eles
ficaram no passado, mas nós mantemos incrustados em algum lugar das nossas
mentes aqueles olhares perdidos que olhavam mas não viam , os olhares dos
doidos de Poções.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Eduardo Sarno</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Jul/97</p>Eduardo Sarnohttp://www.blogger.com/profile/04488369579765304731noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3861710740675486242.post-61922815508986152842024-03-16T17:34:00.001-03:002024-03-16T17:34:42.190-03:00<p> </p><p class="MsoTitle" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">O
PADRE HONORATO <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>NASCIMENTO<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>DE<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>ANDRADE<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoTitle" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">*
crônicas poçõenses *<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoTitle" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;"><o:p> </o:p></span><span style="font-size: 12pt;">É uma dessas personagens que petrifica e incrusta-se na
historia das pessoas e dos lugares. Magro, gestos rápidos, nariz afilado e
sempre com uma batina preta puída na gola e nos punhos. Cobrindo a tonsura o
permanente barrete. Dele diz-se mais coisa do que ele realmente é. Surdo, tem o
privilégio de só responder às perguntas que lhe interessam. Aumenta e abaixa o
volume dos fones auriculares através de um controle que traz no peito, em um
bolso interno da batina. Natural de Jaguaquara, raramente era visitado pelos
parentes.</span></p>
<p class="MsoTitle" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; font-weight: normal;">Dizem que ele fala com a voz meio forçada, encostando a
ponta da língua no céu da boca e arrastando os “erres” para poder imitar o
sotaque dos italianos, de quem muito gostava.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoTitle" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; font-weight: normal;">Dizem que ele só começa a missa quando seu Corinto Sarno
chega. Outros explicam que, como seu Corinto é pontual, a hora que ele chega é
o sinal certo para o Padre<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>iniciar a
Missa.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoTitle" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; font-weight: normal;">Dizem que tem uma fazenda na Mata que vale milhões, mas que
é muito sovina e faz questão de não falar dela.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoTitle" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; font-weight: normal;">Dizem que gosta muito de beber, quando lhe oferecem um
guaraná, pergunta discretamente, entortando a boca, se não tem um uísquizinho.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoTitle" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; font-weight: normal;">Dizem que é esnobe e refinado, e que gosta de ter em casa <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>do bom e do melhor, principalmente mobiliário
e roupas de cama e mesa.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoTitle" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; font-weight: normal;">Dizem que é muito vaidoso e que<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>tudo fez para ter o título de Monsenhor, do
qual faz questão de usar tudo que tem direito: meias carmins, cinta vermelha,
apliques nos botões e penacho vermelho no barrete. Recebeu o título por ocasião
das suas bodas de prata de ordenação sacerdotal, no pontificado de João XXIII.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoTitle" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; font-weight: normal;">Dizem que não tem muito senso pratico. Quando teve um Jeep
e estava aprendendo a dirigir no campo de aviação, o instrutor mandou que
pisasse no freio.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Ele abaixando-se apontou
para o pedal e perguntou:-<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>É este?<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>O carro só foi parar no meio dos pés de
guabiraba.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoTitle" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; font-weight: normal;">Dizem que é muito usurário e comodista e que quando aparece
um hospede para sua casa pede para alguém levar para<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>a casa de Seu Corinto. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoTitle" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; font-weight: normal;">A verdade é que,<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>apesar do padre Honorato, a comunidade poçõense conseguiu manter a fé. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoTitle" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; font-weight: normal;">Na sua prática, assistia aos pobres, fazia a desobriga
pelas matas e caatingas e sempre se juntou aos poderosos do lugar, que nunca se
negaram a fazer o que ele solicitava. Aos moleques e crianças que encontrava,
nunca deixou de puxar as orelhas e apertar as bochechas. Quando era filha de
algum conhecido, além da bochechada dizia, com sua pronúncia peculiar: “Olha a
menina bonita de Leto. Como está seu pai?” E seguia adiante sem esperar resposta,
porque não ouvia mesmo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoTitle" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; font-weight: normal;">Alguns acreditam que nem ele mesmo entendia os seus longos
sermões, monótonos e repetitivos. E o latim que ele lia, rápido demais, não
correspondia ao que estava escrito.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoTitle" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; font-weight: normal;">E mais coisas se dizem do venerando Monsenhor. Mas isto não
conto eu, que o faça os rapazes do Tiro de Guerra.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoTitle" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; font-weight: normal;">Houve um movimento modernista para depor o padre Honorato.
Conseguiram. Mas não sei se foram justos. Afinal, mesmo anacrônico ele era um
patrimônio local e se a comunidade avançou deveria tê-lo assimilado e não<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>afastado.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoTitle" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; font-weight: normal;">Hoje o Monsenhor é falecido. Se subiu aos Céus e está
sentado à direita de Deus Todo Poderoso o fez no dia da Festa do Divino
Espirito Santo, padroeiro de Poções, de quem sempre foi um pregador fiel.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoTitle" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; font-weight: normal;"><o:p> </o:p></span><span style="font-size: 12pt;">Eduardo Sarno</span></p>
<p class="MsoTitle" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; font-weight: normal;">Jun/97</span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiYXKTiUF63q_n9_kNoWyRRmYXRiurqdgtVPFG1wO8IBE8zDcyqgfimuMKXDacHxFneRTDR2kO6sIi3f1YRMG-GrbMkaFIO5KUlsO6iq0HGvfeJz3SzbrpJB4DWZ-l8eoRLnogY1uyzHcIHWEsG3FinUhdzm-FEn-zACr7_qUsarRVwYulRYN1tbpa-nrkK/s4186/padre%20honorato.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="4186" data-original-width="2847" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiYXKTiUF63q_n9_kNoWyRRmYXRiurqdgtVPFG1wO8IBE8zDcyqgfimuMKXDacHxFneRTDR2kO6sIi3f1YRMG-GrbMkaFIO5KUlsO6iq0HGvfeJz3SzbrpJB4DWZ-l8eoRLnogY1uyzHcIHWEsG3FinUhdzm-FEn-zACr7_qUsarRVwYulRYN1tbpa-nrkK/s320/padre%20honorato.jpg" width="218" /></a></div><br /><o:p></o:p><p></p>Eduardo Sarnohttp://www.blogger.com/profile/04488369579765304731noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3861710740675486242.post-8081948980255439992024-03-16T17:22:00.001-03:002024-03-16T17:22:55.687-03:00<p> </p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;">O OBELISCO<o:p></o:p></b></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;">* crônicas poçõenses *</b></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p> </o:p>A nossa geração tem esta marca
indelével de apego sentimental à cidadezinha do interior que albergou nossa
infância e juventude.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Lembramos o nosso saudoso
obelisco, de base hexagonal, </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhMOgSl9rRPVsNeMO20EfHCxd4aY1fBnkSf_MWEX-gTgOp2aSNcXgnKZiM-g_yILwNbwMkJMklbLeQ7jaUQZLfZBOo-ULoe3eF63Hh0SxAyBEZfGcmbaHXMGntYXqW-n0aQ0REiPg_Gk0ivEeYpHnZreLxTeWxSZREvPglYn8Bpet8Zan_t63VYJReZeZmm/s5747/obelisco.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="5747" data-original-width="3603" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhMOgSl9rRPVsNeMO20EfHCxd4aY1fBnkSf_MWEX-gTgOp2aSNcXgnKZiM-g_yILwNbwMkJMklbLeQ7jaUQZLfZBOo-ULoe3eF63Hh0SxAyBEZfGcmbaHXMGntYXqW-n0aQ0REiPg_Gk0ivEeYpHnZreLxTeWxSZREvPglYn8Bpet8Zan_t63VYJReZeZmm/s320/obelisco.jpg" width="201" /></a></div><br />que afinava à medida que subia, construído por
Paulo Barbosa do Amaral e<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>inaugurado a
10 de novembro de 1941, na Praça da Bandeira, na gestão do Dr. Peixoto.<p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">O conjunto do obelisco era
composto de quatro postes com luminárias e quatro bancos de granito, sem
encosto, com um largo passeio em volta. Na praça, as casuarinas ,plantas
originárias da Austrália, lembrando árvores de Natal simétricas, lindas no seu
verde fosco, contrapondo com o céu azul e as nuvens multiformes e alvas. Seus
raminhos verdes cilíndricos, que substituem as folhas, divididos em pequenas
secções, serviam para uma brincadeira inocente: partido em dois, e depois
perfeitamente encaixado, tratava-se de adivinhar qual o gomo que havia sido
secionado.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Velhuscas, nodosas, as casuarinas
ainda estão lá. Quando passamos perto o som do vento nos galhos parece dizer: “
- Olha quem está aí<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>! lembram daquele
menino ?”</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Quem não está mais é o obelisco.
Ferrugem ? descaso ? mas era um obelisco importante. Além das casuarinas<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>ele era cercado pela casa de Luis Sarno, onde
antes funcionou o Dopolavoro Umberto Maddalena, a Igreja dos Crentes (como a
chamávamos), do pastor Alcides “Batatinha” (como o chamávamos), a Escola
Alexandre Porfírio, a casa de Argemiro Pinheiro, a dos Mascarenhas, a de
Juvenal Oliveira, a de Ioiô Macedo, a de Brás Labanca, pela antiga sede do
Clube Social, a de Dr. Trindade, a casa de Américo Libonati e a da Escola da
Cooperativa da professora Lusmar e pela atual Prefeitura, que já foi clube e
jardim de infância, onde cursei.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Era lá no obelisco , nos seus
degrauzinhos, que as crianças sentavam em grupo para tirar fotos, que nas
tardes de domingo Antonio Leto passeava com Dalva e suas futuras cunhadas
Dolores e Alina, que Félix Magalhães e Maita Curvelo, namorados, pensavam que
tinham por única testemunha dos seus amores o solitário obelisco, sem saber que
a meninada olhava tudo de longe. </p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Era lá que o Dr. Fernando Costa
realizava os atos cívicos, quando da sua gestão na Prefeitura, perfilando a
Filarmônica<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>de Mestre Nadinho e o Tiro
de Guerra. Era no obelisco que, na hora do “baba” sentavam os que não estavam
jogando. </p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Nele , no tempo de Getúlio
Vargas,<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>eram colados os cartazes
convocando os reservistas para defender a Pátria e o povo para aprender o ABC.
Era lá que acontecia tanta coisa que eu nem sei contar...</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Com o tempo o obelisco ficou esclerosado,
descamado, feio e ninguém cuidou dele. Parecia que diziam: “-Cai logo, peste !”
Mas ele não caiu, foi demolido.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">No seu lugar foi construído um
lindo jardim florido e bem cuidado.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Sem desmerecer as flores acho que
jogamos fora um obelisco cheinho de lembranças e emoções.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p> </o:p>Eduardo Sarno</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Fev/98</p>Eduardo Sarnohttp://www.blogger.com/profile/04488369579765304731noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3861710740675486242.post-43456132265399040132024-03-15T15:57:00.005-03:002024-03-16T17:05:46.293-03:00<p> </p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt;">A<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>BARBA<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt;">* crônicas poçõenses *</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;"><span style="mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-hansi-font-family: Calibri;"><o:p> </o:p></span><span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 12pt; text-align: justify;">Meu pai tinha
uma caixa de madeira, onde ele guardava os apetrechos para fazer a barba. Era
na pia da ampla copa, na nossa casa em Poções, que ele se barbeava. A caixa era
colocada sobre a mesa, de onde ele tirava o pincel, um pequeno vasilhame de
metal, e o pote com a loção Bozzano, para a espuma. Branca e consistente, a
espuma era feita no vasilhame e espalhada no rosto. Por vezes, nas férias, as
netas pequenas se assustavam, mas depois se acostumavam. Meu pai sempre fazia
uma careta para elas.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt;">A navalha era de
aço alemão, Solingen, da cidade do mesmo nome. Era amolada, meticulosamente, em
um pedaço de madeira macia, com o uso de fino pó de esmeril. Com gestos firmes
e precisos, meu pai passava a navalha no rosto, raspando e escanhoando a barba.
Fazia movimentos com o queixo, para adaptar melhor a lâmina<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>à ação.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt;">Depois de lavar
o rosto, enxaguava com água velva Bozzano. O perfume e o frescor eram sentidos
de longe. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt;">Depois todos os
objetos eram limpos e guardados, e a caixa fechada. Meu pai sentia prazer neste
ritual meticuloso , que lhe deixava renovado.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt;">Tempos depois
descobri que, não só ele, mas outros italianos, como Brás Labanca, possuíam
caixas iguais.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt;">Naquela época,
década de 50, não se usava barba. No máximo, um bigode. Na nossa família o
comum era não ter nem bigode. Como rito de iniciação da puberdade, fazer a
barba era um ato de afirmação masculina.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt;">Meu primeiro
barbeador foi de metal. A parte frontal se abria, para que a lâmina de barbear
fosse colocada. Lâmina que, evidentemente, era chamada de "gilete" ,
em uma simbiose de inventor, fabricante e produto. Da nossa geração, ninguém se
aventurou a manipular uma navalha. Eventualmente alguns tiveram o prazer de uma
barba a navalha, mas só no seu Hermes, o barbeiro.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt;">Certa ocasião
surgiu um amolador de "gilete", muito eficiente. Era uma pequena
caixa plástica, onde se colocava a lâmina, e fazia-se um movimento de ir e vir,
com um cordão adaptado à caixinha.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt;">Anos depois,
devido a circunstâncias, eu tinha a lâmina, mas não tinha o aparelho. Adaptei
então um toco de lápis, que prendia a lâmina, e passei a fazer uso frequente
deste improvisado aparelho.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt;">Quando surgiu o
aparelho com duas lâminas - tchan , tchan, tchan - eu achei que seria prático o
seu uso, mas logo me decepcionei : as duas lâminas serviam para entupir , com a
espuma e os pelos da barba.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt;">Não cheguei nem
a experimentar os aparelhos de barbear mais caros e sofisticados. Voltei
fielmente ao meu velho e funcional sistema de lâmina e toco de lápis !<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;"><span style="font-size: 12pt; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-hansi-font-family: Calibri;">Eduardo Sarno<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;"><span style="font-size: 12pt; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-hansi-font-family: Calibri;">Set/201</span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhsCVysyf8qiu9pb53mV2Og-FriArvwsNi890CeDkc4tfMFGJB9-jFvNl2tlDq5snMAef6RPfOFF_T-9q5xxjxYo3ZNDCIp-RHY2DW7_HBctho3pOxECqQAv5om2QUah984hLCvgDCNK3BnJpcn1vpclgFkraHEQ9yHr9Gc73UJ-Q09hWAHbj21BD7UWQ29/s1205/estojo%20barba.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1052" data-original-width="1205" height="279" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhsCVysyf8qiu9pb53mV2Og-FriArvwsNi890CeDkc4tfMFGJB9-jFvNl2tlDq5snMAef6RPfOFF_T-9q5xxjxYo3ZNDCIp-RHY2DW7_HBctho3pOxECqQAv5om2QUah984hLCvgDCNK3BnJpcn1vpclgFkraHEQ9yHr9Gc73UJ-Q09hWAHbj21BD7UWQ29/s320/estojo%20barba.jpg" width="320" /></a></div><br />9<o:p></o:p><p></p>Eduardo Sarnohttp://www.blogger.com/profile/04488369579765304731noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3861710740675486242.post-30356610734922279472024-03-14T21:28:00.004-03:002024-03-14T21:28:53.736-03:00<p> </p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;">OS<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>LAMBANCEIROS<o:p></o:p></b></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;">- crônicas poçõenses -<o:p></o:p></b></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p> </o:p>Havia sempre um moleque manioso
em Poções procurando lambança. Cada um tinha sua turma e todo dia procurava-se
uma novidade para brincar, seja depois das aulas, durante o ano ou o dia todo
durante as férias.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>João Batatinha, Zoma, Adilson Fagundes,
Antonio Napoli, Dau Cachimbo de Pau, Raimilson e Ozail Gusmão, andavam em bando
nas obras para a construção do açude novo, e ficaram impressionados quando
viram o tamanho das rodas das máquinas. A esteira do trator hipnotizava a
todos. Quando um dos tratores caiu dentro do açude foi um corre corre da meninada
para saber o que aconteceu: morreu o tratorista ou foi salvo por um mergulhador
? a noticia se espalhava e aquela gente curiosa ia ver a novidade.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Do paredão da barragem do açude,
a molecada descia correndo destrambelhada, sem pensar nos perigos. E no meio
das baronesas disputavam para ver quem mergulhava mais fundo e só pararam
quando alguém disse que havia visto a cara de “Quatro Olhos”, que havia morrido
afogado. Nem a cuia com a vela acesa que foi colocada sobre as águas achou o
corpo.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Abaixo do açude novo ficava o
açude velho, que já não dava mais conta. O grande paredão de pedras estava
rachado e já havia sido coberto pelas águas várias vezes, ameaçando inundar a
cidade. Nestas ocasiões era a sirene do Cine Glória que alertava a população,
de dia ou de noite. Meu pai costumava me levar lá para passear , aos domingos,
e eu ficava impressionado e temeroso com aquelas águas de um <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>azul-escuro, com as baronesas boiando, mas a
mão do meu pai era minha segurança.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p> </o:p>Mais abaixo do açude velho havia uma
grande cisterna, que nos metia medo, profunda e com grandes sapos mortos lá dentro.
E, já perto da rua, uma enorme gameleira onde se dizia que havia tesouros
enterrados, junto ao seu tronco. Eram talvez lendas do tempo dos Gonçalves da
Costa quando da exploração de ouro ou da época dos jagunços, que escondiam
munições. Alta e esgalhada a imponente e solitária gameleira não dizia que sim
nem que não.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Era lá na cisterna que as
empregadas iam buscar areia fina para arear as panelas de alumínio. Também era
lá que se brincava de seriados, com capas e espadas ,convencionando que o perigo
dito <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>“do meio” era o mais terrível !</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>O açude novo também serviu mais tarde de palco
para guerras com espingardas de socar, com um grupo de cada lado e as
lavadeiras no meio gritando: “- Pára, meninos endiabrados, pára !”</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Os caroços de chumbo no antebraço
de Gey Espinheira, até hoje, não me deixam mentir.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Com a chegada do circo, os
lambanceiros não saiam da praça, e tudo era motivo de euforia redobrada. Todos
queriam saber se tinha animais amestrados, qual o nome do palhaço e o horário
da função. Acompanhado pela algazarra dos moleques lá se ia o palhaço da perna
de pau anunciando o circo pela cidade:</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">“- E viva o sol e viva a lua</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Olha o palhaço no meio da rua !”</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">À noite, apesar da vigilância do
mata-cachorro, havia sempre uma treita para entrar por baixo da lona, e subir
nas arquibancadas para ver o espetáculo. No intervalo as artistas iam para a
arquibancada vender um monóculo com a foto colorida da trapezista.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Certa vez uma delas, muito
bonita, apaixonou-se por Carlos Ney, que era um dos rapazes mais charmosos de
Poções. Nós todos torcíamos para que aquele amor impossível desse certo. Ele
dedicava anonimamente músicas românticas para ela, no serviço de alto falante
da cidade. Este serviço pertencia à <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Prefeitura
e depois passou para Tonhe Luz, divulgando notícias e músicas em todo o
comércio.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Carlos Ney e a trapezista
encontravam-se às escondidas da família e do dono do circo. Um dia o circo foi
embora, levando a bela trapezista e o seu destino.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Mas a cada Festa do Divino grandes novidades
chegavam, entre elas o parque de diversões. E os moleques de calça curta,
suspensórios e alpercatas de pneu arregalavam os olhos quando giravam na roda
gigante colorida, ondulavam no carrossel mambembe, ou balançavam nos barcos que
eram empurrados à mão.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">A chegada eventual de
acampamentos ciganos e as feiras aos sábados, mantinham os lambanceiros
ocupados. Um se aproximava da pilha de melancias e furava uma delas. O outro
então procurava o dono das melancias e dizia “- Seu home, me dá essa que ta
furada...” e lá se iam rindo do coitado e chupando a melancia. Depois pegavam
um cavalo que estava amarrado, davam uma volta com ele e quando o dono aparecia
diziam “- Seu moço, olha o seu cavalo que nós apanhamos aculá e viemos procurar
o dono ...”.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Naquele tempo faltava tempo para
se fazer tudo que se inventava...</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p> </o:p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi8Zh1CJ1rWzMpCYJsL-z48u_X9SVqAvcvTGxImVEsn8mH-dKf0pKjyiMLd3RPJd8KNk_h7-fCLb11U_vOGzvnixggG0LGCzrsa1jXamDA2P0mQ32Uva9dam4zYamw796licVV7Dkrd2tSFdHxYOTHV4Rw6CAJH_0WSolvQjRwJYgzLZvG8ogm9I67Yibrj/s4690/jo%C3%A3o%20batatinha%20.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="3221" data-original-width="4690" height="220" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi8Zh1CJ1rWzMpCYJsL-z48u_X9SVqAvcvTGxImVEsn8mH-dKf0pKjyiMLd3RPJd8KNk_h7-fCLb11U_vOGzvnixggG0LGCzrsa1jXamDA2P0mQ32Uva9dam4zYamw796licVV7Dkrd2tSFdHxYOTHV4Rw6CAJH_0WSolvQjRwJYgzLZvG8ogm9I67Yibrj/s320/jo%C3%A3o%20batatinha%20.jpg" width="320" /></a></div><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p> João Batatinha</o:p></p>Ainda hoje, da porta de sua
tipografia, João Batatinha jura que já viu o pintor Adilson Santos, como nas
visões de seus quadros surrealistas, cercado de pombas, andando pelo fundo de
quintal com a noiva da cidade.<p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Eduardo Sarno</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Jan/98</p>Eduardo Sarnohttp://www.blogger.com/profile/04488369579765304731noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3861710740675486242.post-66668561327482883112024-03-14T19:43:00.003-03:002024-03-14T21:50:12.691-03:00<p> </p><p class="MsoBodyText" style="text-align: justify;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;">O BECO LÁ DE CASA (2)<o:p></o:p></b></p>
<p class="MsoBodyText" style="text-align: justify;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;">- crônicas poçõenses -<o:p></o:p></b></p>
<p class="MsoBodyText" style="text-align: justify;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><o:p> </o:p></b>Imprensado entre minha casa e o
Cine Glória, nosso beco era muito freqüentado. Ali ficava também o
escritório de Brás Labanca.</p>
<p class="MsoBodyText" style="text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Baixo, forte e simpático, este italiano dono
da Empresa de Luz Elétrica Pública e Particular de Poções, nunca se negava a
nos dar uma “nica” (níquel) quando pedíamos. Foi com tristeza e curiosidade que
assistimos à derrubada da parede da usina que dava para o beco, para que
técnicos paulistas pudessem tirar<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>a
enorme polia avariada, silenciando o gerador diesel. Uma peça nova viria do
Sul, disseram. Nunca chegou.</p>
<p class="MsoBodyText" style="text-align: justify;">No nosso portão, que dava para
o beco, tinha umas argolas no muro que servia para amarrar os jumentos dos
aguadeiros. Cangalha de quatro corotes,ou "carotes" como se dizia em
Poções, lá se iam e lá vinham, trazendo aquela água cristalina e saborosa, a
água de Cachoeirinha.</p>
<p class="MsoBodyText" style="text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>No inicio do beco, os três pequenos buracos no
chão, enfileirados como as Três Marias que víamos no céu, eram do tamanho de um
punho fechado, e era ali que a gente brincava de bola de gude, nas tardes
intermináveis. Para ganhar, tínhamos de conquistar os três buracos na
seqüência, e afastando as bolas dos adversários. Às vezes, com rolimãs de aço,
tentávamos quebrar as bolas de gude dos outros meninos. Era admirado quem fosse
maneiroso para segurar as bolas de gude, ter boa pontaria e força.</p>
<p class="MsoBodyText" style="text-align: justify;">Ninguém sabia como e nem
porque, e de repente estávamos todos mudando de jogo, às vezes no mesmo período
de férias. Quando era época de pião, os buracos de gude ficavam abandonados e o
bamba era quem<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>colocava o pião na unha
para rodar, e o super bamba era quem pegava ele no ar, na unha! Os menos
destros ficavam maravilhados e algumas vezes se machucavam na tentativa de
imitar. No circulo riscado no chão o pião de ponta de aço rachava os outros no
meio. Para não perder o bom pião, valia trocar por um mais ordinário, na hora
de levar a porrada.</p>
<p class="MsoBodyText" style="text-align: justify;">Passado o tempo do pião, agora
eram duplas batendo tampinhas de refrigerante desamassadas nas paredes do beco.
Eram as “fichas” . Ganhava quem rebatesse mais perto da ficha do adversário.
Apostava-se carteira de cigarros vazia. O “Astória” valia menos, “Continental”
um pouco mais, e " Roliude” já era<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>um valor razoável. </p>
<p class="MsoBodyText" style="text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Cada garoto tinha no bolso o seu maço de
carteiras bem alisadas e classificadas, e quando<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>chegavam fumantes de fora íamos ver se não
trazia “Marlboro”: valia três “Roliude”! O maço podia aumentar se fossemos para
a rua procurar carteiras vazias, ou diminuir se perdêssemos na ficha.</p>
<p class="MsoBodyText" style="text-align: justify;">O papel colado ao alumínio que
envolvia os cigarros era cuidadosamente dissolvido na água e a fina<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>película de alumínio que ficava, era
utilizada para formar enormes e pesadas bolas, as maiores chegando a ter vinte
centímetros de diâmetro! Era uma espécie de troféu.</p>
<p class="MsoBodyText" style="text-align: justify;">Passou a época das fichas,
agora o que vale é “triangulo”. Cada garoto já carrega o seu canivete ou
estilete. Procura-se uma boa parte do beco em que o chão seja mais consistente,
desenham-se dois triângulos, e um tenta cercar o outro traçando linhas a partir
do ponto onde se fincou o estilete, no arremesso. Se este não fincar, perde-se
a vez. A grande destreza era fazer o canivete rodopiar no ar antes de fincar no
chão. Iniciava o jogo quem fincasse mais próximo de uma linha traçada no chão.</p>
<p class="MsoBodyText" style="text-align: justify;">Já esquecemos o triangulo,
agora é tempo de “setas” : um prego afiado, três ou mais penas de galináceo e
cera de abelha para dar<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>peso e segurar o
prego nas penas.</p>
<p class="MsoBodyText" style="text-align: justify;">E lá se vão todos procurando
portas e janelas no beco para treinar a pontaria e disputar pontos nos alvos.</p>
<p class="MsoBodyText" style="text-align: justify;">Talisca de bambu, cola, papel
de seda e linha Urso número zero. Chegou a época de empinar papagaios e
arraias. Pequenas, grandes, coloridas e longos rabos de retalhos de pano.
Algumas tinham linhas “temperadas” com pó de vidro e goma arábica, para cortar
mais fácil a linha dos outros. Quando isso acontecia, era a festa para a
molecada, que saía correndo atrás da arraia que caía.</p>
<p class="MsoBodyText" style="text-align: justify;">Até o Dr. Ruy Espinheira fez um
“Couro de Boi” que maior nunca se viu, todos paravam para ver e pediam para dar
uma puxadinha na linha,ou colocar um “telegrama” que era um pedaço de papel
que<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>subia na linha até a arraia.</p>
<p class="MsoBodyText" style="text-align: justify;">Como o beco é muito pequeno
para empinar papagaio, nós fomos para a Praça do Obelisco.</p>
<p class="MsoBodyText" style="text-align: justify;">Acho que ficamos lá por muitos
anos, pois<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>quando voltamos ao beco ele
estava calçado, Brás Labanca havia falecido, o Cine Glória era agência bancária
e a argola estava toda enferrujada.</p>
<p class="MsoBodyText" style="text-align: justify;"><o:p> </o:p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiFvWJlmWJlTBkuTiQibXblV50vPpKEWh_VR-jOmfKw8qZW1NJxX28W14x811SF-MpxuLfXkYz3FjYs6mi7JwCUhiGWDU-_8SnQrkiz0lb1Ap_fJik1Z_ssF9TqdNwcvRjwrl67tGb-RtH60WR7BfjVrvW-ziomH0WbjnU-5Cs443PA8dRbk4tcJZKxVZMC/s640/beco%20braz%20labanca.JPG" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="480" data-original-width="640" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiFvWJlmWJlTBkuTiQibXblV50vPpKEWh_VR-jOmfKw8qZW1NJxX28W14x811SF-MpxuLfXkYz3FjYs6mi7JwCUhiGWDU-_8SnQrkiz0lb1Ap_fJik1Z_ssF9TqdNwcvRjwrl67tGb-RtH60WR7BfjVrvW-ziomH0WbjnU-5Cs443PA8dRbk4tcJZKxVZMC/s320/beco%20braz%20labanca.JPG" width="320" /></a></div> Escritório de Brás Labanca<br /><b>Eduardo Sarno</b><p></p>
<p class="MsoBodyText" style="text-align: justify;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Nov/2003<o:p></o:p></b></p>
<p class="MsoBodyText" style="text-align: justify;"><o:p> </o:p></p>Eduardo Sarnohttp://www.blogger.com/profile/04488369579765304731noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3861710740675486242.post-34476244201218617382024-03-14T19:39:00.001-03:002024-03-14T19:39:26.979-03:00<p> </p><p class="MsoBodyText" style="text-align: justify;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;">O BECO LÁ DE CASA (1)<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoBodyText" style="text-align: justify;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;">- crônicas poçõenses -<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoBodyText" style="text-align: justify;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p> </o:p></span></b>O beco entre nossa casa e o Cine
Glória era o meu local preferido para as brincadeiras.</p>
<p class="MsoBodyText" style="text-align: justify;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>No chão do beco havia <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>três
pequenos buracos, enfileirados como as Três Marias no céu.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Ali <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>brincávamos
de bola de gude, nas tardes intermináveis.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoBodyText" style="text-align: justify;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>O ganhador tinha de conquistar
os três buracos na seqüência,<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>afastando
as gudes dos adversários. Às vezes, com rolimãs de aço, tentava-se quebrar as
bolas de gude dos outros meninos. Era admirado quem fosse maneiroso para
segurar as bolas de gude, ter boa pontaria<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>e dedos compridos, para marcar o círculo em que a gude do adversário
seria apanhada.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoBodyText" style="text-align: justify;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p> </o:p></span>Ninguém sabia como, e de repente todos mudavam de jogo, às vezes no
mesmo período de férias. Quando era época de pião, os buracos de gude ficavam
abandonados e o bamba era quem colocava
o pião na unha para rodar, e o super bamba era quem pegava ele no ar, na unha!
Os menos destros ficavam maravilhados e algumas vezes se machucavam na
tentativa de imitar. No circulo riscado no chão o pião de ponta de aço rachava
os outros ao meio. Para não perder um bom pião, valia trocar por um mais
ordinário, na hora de levar a porrada.</p>
<p class="MsoBodyText" style="text-align: justify;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p> </o:p></span>Passado o tempo do pião, agora eram duplas batendo tampinhas de
refrigerante desamassadas, nas paredes do beco. Eram as “fichas”, com tampinhas
do guaraná e gasosas da Fratelli Vita .
Ganhava quem rebatesse mais perto da ficha do adversário. Apostava-se carteiras
de cigarros vazias, alisadas e bem
dobradas. O papel que envolvia os
cigarros era cuidadosamente dissolvido na água,
e a fina película de alumínio que
ficava era utilizada para formar enormes e pesadas bolas, as maiores chegando a
ter vinte centímetros de diâmetro! Era uma espécie de troféu.</p>
<p class="MsoBodyText" style="text-align: justify;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>O Astória valia menos, Continental
um pouco mais, e <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>“Roliude” já era<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>um valor razoável. Cada garoto tinha no bolso
o seu maço de carteiras<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>, e quando<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>chegavam fumantes de fora ia ver se não
traziam “Malboro” ou “Luquistrique”: valiam três “Roliude”! O maço<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>aumentava quando se achava carteira vazia, ou
diminuía<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>perdendo na “ficha”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoBodyText" style="text-align: justify;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p> </o:p></span> Passada a época das “fichas”,
agora o que vale é “triângulo”. Cada garoto já carrega o seu canivete ou
estilete. Procurava-se no beco um lugar
que fosse mais consistente, riscava-se no
chão dois triângulos separados , no arremesso tentava-se cercar o outro traçando linhas a
partir do ponto onde se fincou o estilete. Se este não fincar, perde-se a vez.
A grande destreza era fazer o canivete rodopiar no ar antes de fincar no chão.
Iniciava o jogo quem fincasse mais próximo de uma linha riscada no chão.</p>
<p class="MsoBodyText" style="text-align: justify;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p> </o:p></span>Já esquecemos o triângulo, agora é tempo de “setas” : um prego afiado,
três ou mais penas de galinácea e cera de abelha para dar peso e segurar o prego nas penas. E lá se vão
todos procurando portas e janelas no beco para treinar a pontaria e disputar
pontos nos alvos.</p>
<p class="MsoBodyText" style="text-align: justify;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p> </o:p></span>Chegou a época de empinar arraias : talisca de bambu, cola, papel de
seda e linha Urso número zero. Pequenas ou grandes, sempre coloridas e longos
rabos de retalhos de pano. Algumas tinham linhas “temperadas” com pó de vidro e
goma arábica, para cortar a dos outros. Quando isto acontecia, era a festa
para a molecada, que saía correndo atrás da arraia .</p>
<p class="MsoBodyText" style="text-align: justify;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoBodyText" style="text-align: justify;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Até o Dr. Ruy Espinheira fez uma arraia “Couro de Boi” que maior nunca
se viu. Todos paravam para ver e pediam para dar uma puxadinha na linha para sentir
a força, ou para colocar um “telegrama”, que era um pedaço de papel que<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>subia na linha até a arraia.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoBodyText" style="text-align: justify;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p> </o:p></span>Como o beco era muito pequeno para empinar papagaio, nós fomos para a
Praça do Obelisco.</p>
<p class="MsoBodyText" style="text-align: justify;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p> </o:p></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjGkHf3M9fSLYU-fzRqAtBQAvWVgIGl7BOxCKG6hMGJ8UINr5Ns-YtH_kfOtpPaOiYQaUZZ13-NEtfyegM85RlRCftEtNAvONogZTWGeMwf5xIFvSdNYljWvry1IhHa5cVgSrwhmlmxIZ8eL3wsHANPAl6gJ90-qcuQ3igUl47XKTBj1AsFa7GGaov-MzpX/s3908/img321.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="2726" data-original-width="3908" height="223" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjGkHf3M9fSLYU-fzRqAtBQAvWVgIGl7BOxCKG6hMGJ8UINr5Ns-YtH_kfOtpPaOiYQaUZZ13-NEtfyegM85RlRCftEtNAvONogZTWGeMwf5xIFvSdNYljWvry1IhHa5cVgSrwhmlmxIZ8eL3wsHANPAl6gJ90-qcuQ3igUl47XKTBj1AsFa7GGaov-MzpX/s320/img321.jpg" width="320" /></a></div><br />Acho que ficamos lá por muitos anos, pois quando voltamos ao beco ele estava calçado, as
paredes pintadas e as rodas dos carros
passando por cima da nossa infância.<p></p>
<p class="MsoNormal"><o:p> Eduardo Sarno</o:p></p><p class="MsoNormal"><o:p>set/2019</o:p></p>Eduardo Sarnohttp://www.blogger.com/profile/04488369579765304731noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3861710740675486242.post-65990590193182528492024-03-13T22:43:00.004-03:002024-03-16T17:06:56.678-03:00<p> </p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US;">OS ITALIANOS E A ÁGUA<o:p></o:p></span></b></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US;">* crônicas poçõenses *</span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US;"><o:p> </o:p></span></b></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgjpg4YguJckdgL7cp7Zbo_FsKLaXZfx9Mp3WbTxKuK21OEhPlnVkSZsPwIZJu4z0U0h9E4npCG6wUtYTuxKBJXzxEQXsZDaaCFJb6lJ1q9Cz49wzVYQYazyWdksCWl8HFCEOcWe7Mb0zeWIfE5lN5qvIfbb1zDGnPQ70fLGl_HbJFv3LLXGywjChfYMcQ7/s3526/joaquim.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="3526" data-original-width="2612" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgjpg4YguJckdgL7cp7Zbo_FsKLaXZfx9Mp3WbTxKuK21OEhPlnVkSZsPwIZJu4z0U0h9E4npCG6wUtYTuxKBJXzxEQXsZDaaCFJb6lJ1q9Cz49wzVYQYazyWdksCWl8HFCEOcWe7Mb0zeWIfE5lN5qvIfbb1zDGnPQ70fLGl_HbJFv3LLXGywjChfYMcQ7/s320/joaquim.jpg" width="237" /></a></b></div><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"> Seu Joaquim (aguadeiro)<br /></b>Em Poções, até o final de 1950
não havia água encanada. A cidade era abastecida pelos aguadeiros, que traziam
a água em carotes, no lombo de jumentos. Quatro carotes faziam uma carga e era
comum vê-los passar pelas ruas. As casas tinham sempre uma entrada de serviço,
para este fim, com uma argola no muro, para amarrar os animais.<p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Os carotes – barris de madeira –
com capacidade em torno de <st1:metricconverter productid="20 litros" w:st="on">20
litros</st1:metricconverter>, eram tampados com tarugos de madeira ou sabugo
de milho, envoltos <st1:personname productid="em pano. O" w:st="on">em pano. O</st1:personname>
furo do suspiro era indispensável, para que a água desse vazão. Tinham duas
alças de ferro, para pendurar na cangalha, e que ajudavam na hora em que eram
carregados no ombro.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p> </o:p>A água boa de beber vinha de
Cachoeirinha, distante uns quatro quilômetros, e era despejada, devidamente
coada em um pano de algodão, direto nas grandes talhas de barro. A tampa da
talha era redonda, de madeira, com uma haste, para facilitar o manuseio. Dentro
eram colocadas pedras de enxofre, pois os filtros de barro com velas só vieram
tempos depois.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">A água de uso comum vinha do
açude do rio São José, mais perto da cidade. Os aguadeiros tinham sempre de
subir uma escada para despejar a água no tanque da casa, onde também havia
pedras de enxofre.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Tempos depois meu pai mandou
instalar uma bomba manual em um pequeno tanque ao nível do chão, onde o
aguadeiro ia despejando os seus carotes e<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>a nós, meninos, cabia a tarefa de acionar a bomba, jogando a água no
reservatório superior !</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Outra fonte de água era a chuva.
Em nossa casa havia um enorme tanque – parte<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>subterrâneo, parte externo – que acumulava a água de chuva. Quando meu
pai estava na Casa Sarno e começava a chover ele ia para casa e manobrava as
calhas para que a primeira chuvada- ou “apaga pó”, como é apropriadamente
chamada em algumas regiões da Bahia - servisse apenas para limpar as telhas, e
logo em seguida a água era canalizada para o reservatório. Fazer calhas e bicas
era um trabalho artesanal, feitas sob medida com folhas-de-flandres pelos
funileiros locais, como Deco Lago e Flávio Funileiro.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p> </o:p>Em frente à nossa casa, o
aguadeiro favorito dos tios Valentim, Camilo e Emílio era Zé Peteleca. Alto,
muito ativo e sorridente, quando passava pela varanda da casa e via Rosa Alba,
minha prima, com duas trancinhas no cabelo e rosto redondinho<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>de anjo, dizia: “Bom dia, minha <i style="mso-bidi-font-style: normal;">prencesa</i> !”<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Rosa ficava maravilhada, divagando no
imaginário das fadas, castelos e príncipes ...</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Mais acima, ainda na Rua da
Itália, Luis Sarno, com o terreno da casa em declive, fazia malabarismos
mecânicos para coletar e distribuir a água na casa, para uso da família e do
seu lazer predileto: cuidar das plantas e árvores frutíferas.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p> </o:p>Havia ainda uma outra opção em
nossa casa, que era a cisterna. Diferente da cacimba, a cisterna tem uma
proteção de alvenaria em volta e é coberta. Quando olhávamos para o fundo
podíamos ver as enormes pedras que foram quebradas para se atingir o minadouro.
Era um terror para nós, meninos, pensar em cair ali dentro !</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">A água da cisterna era retirada
com roldana, e era uma arte encher o balde de água, lá em baixo, na ponta da
corda. Depois foi colocada uma bomba manual. Mas a água era “pesada”, um pouco
salobra, não se prestando para o uso doméstico. Ela era então despejada em um grande
tambor forrado de cimento, que ficava no meio do jardim, e servia para regar as
plantas.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p> </o:p>Para o banho, meu pai, com a
ajuda do cunhado Chico Sangiovanni, mandou fazer um engenhoso sistema de
serpentina para aquecer a água. Como a cozinha ficava perto do banheiro, foi
colocado um pequeno tanque na parte superior, do qual descia a tubulação que
dava uma volta no fogão, que era a lenha. Assim, a água quente era constante e
sem custo.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">O fogão já vinha equipado com um
recipiente esmaltado embutido, que também aquecia a água para o preparo da
comida, pois não se usava jogar água fria nas panelas. Minha mãe também
conservava uma chaleira com água aquecida, em cima da chapa do fogão, para
qualquer eventualidade, como era usual na época.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p> </o:p>Os dormitórios das casas, em
geral, ficavam distantes da copa ou da cozinha. Assim, era de grande utilidade
o uso das moringas, seja de barro ou de vidro.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Esta dependência do trabalho<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>dos aguadeiros durou até que foi inaugurada a
água encanada, vinda da barragem de Morrinhos, no rio das Mulheres, distante
cerca de doze quilômetros, já perto da Serra da Ouricana. Quando abriram o
registro, a comitiva de autoridades veio em disparada para Poções, para abrir a
primeira torneira que jorraria a água encanada!</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p> </o:p>O trabalho para colocar as
tubulações nas ruas durou algum tempo, e as valas ficavam abertas.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p> </o:p>Do alambique da fazenda de
Waldemar Guimarães – feito por José Domarco – saia uma “branquinha” da qual
Quito Fagundes e seus amigos Afonso Manta, Solon Macedo, Irineu Sarno, “Mama na
Loba” e Humberto Schetinni eram contumazes consumidores. Contam que, na época
em que as ruas estavam com as valas abertas para colocar as tubulações, Quito
ao sair cambaleando do bar Sombra da Tarde, ou do Bar e Sorveteria de João
Liguori<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>entrava na vala, que ia dar
direto em sua casa.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Sem as valas ele voltou ao seu habitual meio de
transporte após “comer água”: um birimbano (molecote, na gíria local) o levava
até em casa em um carrinho de mão!</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Já nos tempos da água encanada
encontramos Joaquim, velho aguadeiro de mãos calosas, que comentava saudoso e
orgulhoso:</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">“-Já botei muita água na casa de
seu Corinto Sarno e de seu Antonio Leto ! “</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Eduardo Sarno</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">11.07.08</p>Eduardo Sarnohttp://www.blogger.com/profile/04488369579765304731noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3861710740675486242.post-12556181318276087582024-03-13T22:16:00.002-03:002024-03-16T17:07:36.002-03:00<p> </p><p class="MsoTitle" style="text-align: justify;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;">ESCOLA PRIMÁRIA<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>ALEXANDRE
PORFIRIO<o:p></o:p></span></p><p class="MsoTitle" style="text-align: justify;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;">* crônicas poçõenses *</span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgbkkTDcWD9KS7wt08Yd_1QX-yatyi3-pq_op8fuMPzzij29MzJA2kWWopiLMEiTJmoBAYrbcYm0YsF4ohnZq51HSE6kcr8ibZ1F4HF8C9t25Y5UrD9QpBg3wh2iN-LpFyvU7tm8f1L9AewXSWQAXYiAwhoYyA_Byltxnhn05-jZF99R_XBEAuFM9O1cqHR/s3775/img319.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1696" data-original-width="3775" height="144" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgbkkTDcWD9KS7wt08Yd_1QX-yatyi3-pq_op8fuMPzzij29MzJA2kWWopiLMEiTJmoBAYrbcYm0YsF4ohnZq51HSE6kcr8ibZ1F4HF8C9t25Y5UrD9QpBg3wh2iN-LpFyvU7tm8f1L9AewXSWQAXYiAwhoYyA_Byltxnhn05-jZF99R_XBEAuFM9O1cqHR/s320/img319.jpg" width="320" /></a></div><br />Se me perguntassem quem foi Alexandre Porfírio não
saberia responder com clareza. Parece que foi um educador, professor ou algo
assim. Já se falou qualquer coisa a respeito do Alexandre Porfírio, mas
certamente nada importante, porque a memória não registrou. Para nós alunos,
Alexandre Porfírio nada mais era que um cabeçalho que éramos obrigados a
escrever em todas as provas e trabalhos, no papel almaço.<p></p>
<p class="MsoBodyText" style="text-align: justify;"><span style="font-weight: normal; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Eu não estava sorrindo quando para lá fui levado
pela primeira vez. Não. Chorava e esperneava, para<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>tristeza de minha mãe que, paciente e
enganosamente me explicava que teria que ficar ali justo o tempo necessário
para que ela terminasse de fazer a macarronada. Logo em seguida eu poderia ir
para casa.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoBodyText" style="text-align: justify;"><span style="font-weight: normal; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">As pessoas ali até que não eram estranhas, pois eu
conhecia alguns alunos e professores. Mas o que me atemorizava era o lugar em
si, ter de estar ali, a relação que se estabelecia, de aluno para professor, as
normas que eram obedecidas, com todo<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>mundo sentado dando lição. Adeus liberdade de ir e vir pelos matos,
badocando, de não ter a preocupação de levantar cedo e fazer deveres. Ali<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>tinha de deixar de ser bicho comodista e
virar gente. Fiquei.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoBodyText" style="text-align: justify;"><span style="font-weight: normal; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Nas paredes, os grandes cartazes coloridos davam
conta de todos os tipos de peixes, de plantas e de animais. Tudo numerado, com
o correspondente nome embaixo. Nos mapas, cada país de uma cor, tudo bonito de
se ver.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoBodyText" style="text-align: justify;"><span style="font-weight: normal; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Mas, o nó na garganta era a tabuada, Todo mundo em
pé, em fila, com as multiplicações, divisões e novesfora sem gaguejar. O
nervosismo, o calor e a farda de brim caqui, parecendo fardão militar, com
botões dourados, ajudavam a atrapalhar. A tabuada era um folheto pequeno, fino,
mas como pesava na nossa cabeça!<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoBodyText" style="text-align: justify;"><span style="font-weight: normal; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Tudo era fila. Para entrar na escola, tinha que
fazer fila e cantar o Hino Nacional, Hino da Liberdade ou o Hino da Bandeira. A
letra dos hinos estava impressa nos nossos cadernos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoBodyText" style="text-align: justify;"><span style="font-weight: normal; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Depois do
recreio também tinha de fazer<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>fila. Todo
mundo suado, empoeirado, fedendo. Esticávamos os braços tocando no ombro do
colega para marcar a distancia, mas quando começávamos a andar, era um
empurrando o outro, como se não houvesse lugar para todos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoBodyText" style="text-align: justify;"><span style="font-weight: normal; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">As salas eram grandes, espaçosas, ventiladas. As
carteiras grandes para o nosso tamanho, de madeira maciça, cheia de nomes
gravados. No meio da carteira<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>o buraco
para colocar o tinteiro. Embaixo, o lanche, a tabuada, o caderno e os<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>livros e o mata-borrão. Dentro de uma
caixinha a pena de bico. Ah! o caderno de caligrafia, obrigatório e
inestimável. A caneta tinteiro – Parker e com uma bombinha<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>de borracha dentro – só aparecia em nossas
mãos bem mais<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>tarde, como presente de
conclusão de curso.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoBodyText" style="text-align: justify;"><span style="font-weight: normal; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>As
professoras, não sei por que,<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>davam a
impressão de que estavam ali há muitos anos e que ficariam também por mais
tempo do que podíamos imaginar. Tinha um quê de coisa imutável. Esta impressão
fica ainda mais viva, quando encontro, quarenta anos depois minhas antigas
professoras ainda em atividade: Jacy Rocha, Madalena Curvelo, Celeste Pinto
Curvelo, Bohemia Marinho. São como anjos bons, inesquecíveis.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoBodyText" style="text-align: justify;"><span style="font-weight: normal; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Não me lembro<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>mais de tudo que aprendi ali. Mas deve ter<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>servido para muita coisa. Ficava sempre
pensando, se depois vou esquecer tudo, para que aprender?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoBodyText" style="text-align: justify;"><span style="font-weight: normal; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Aprendi que era “gringo” ou filho de “gringo”, que
era a mesma<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>coisa. Gringos eram meus
pais e meus tios, comerciantes italianos que haviam se estabelecido em Poções
há cinco décadas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoBodyText" style="text-align: justify;"><span style="font-weight: normal; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Durante o recreio, o baba era a diversão de todo
dia. Suados, empoeirados, assim iam para a fila para poder entrar na sala de
aula. Daí o<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>cheiro de suor, inconfundível,
ajudado pelo abafamento do fardão de brim cáqui.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoBodyText" style="text-align: justify;"><span style="font-weight: normal; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">As meninas jogavam “baleado”. O grande final foi um
torneio em que disputaram meninos e meninas. Do nosso lado ficou, por último,
João Ferraz e no das meninas, Glorinha Macedo.A luta parecia interminável, os
dois se esforçavam ao máximo e a torcida já estava rouca. De repente João
“baleou” Glorinha! Nesse dia ele foi carregado nos ombros, em apoteose, com
direito a uma volta olímpica pela Praça do Obelisco, em frente à Escola.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoBodyText" style="text-align: justify;"><span style="font-weight: normal; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Hoje, passados muitos anos, eu sei, de cor e
salteado, quem foi Alexandre Porphyrio de Almeida Sampaio. Professor de
Português do Ginásio da Bahia, em Salvador, publicou em 1924 “Estudos de
Português”, fundou<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>o Ginásio Ypiranga e
o administrou por muitos anos quando ainda funcionava no Corredor da Vitória.
Vendeu depois para seu amigo e concunhado professor Isaias Alves de Almeida, que
o transferiu para a Ladeira da Praça nº 18. Em 1911, tendo comprado a casa onde
faleceu Castro Alves, <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>no Sodré, por 35
contos de reis, o professor Isaias Alves transferiu para lá o Ginásio Ypiranga.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoBodyText" style="text-align: justify;"><span style="font-weight: normal; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoBodyText" style="text-align: justify;"><span style="font-weight: normal; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Eduardo Sarno<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoBodyText" style="text-align: justify;"><span style="font-weight: normal; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Out/97<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoBodyText" style="text-align: justify;"><span style="font-weight: normal; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p> </o:p></span></p>Eduardo Sarnohttp://www.blogger.com/profile/04488369579765304731noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3861710740675486242.post-89791375597465138342024-03-13T20:37:00.000-03:002024-03-13T20:37:06.371-03:00<p> </p><p align="left" class="MsoTitle" style="text-align: left;"><span style="font-size: 12.0pt;">CASA SARNO: UM SÉCULO<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 12.0pt;"><o:p> </o:p></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhQDpjvrnd676FKHLRagSMOjHPy2WwHQ_luDyHHVfhFXgd2XcA_6Q2PjfRZnPIJ2tNxkVBf2tS_Ydb1KFG32uBQWl3wVjzhf63r48AUtkMDujwBLn1ZnlHI_RtYvJjYXCoKYuYScRONgPTT8hHL9rREI_lZjQXSevHANSUXz9MiPWGTO8UE_2RapmVZje7x/s559/casa%20sarno%20antiga%20.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="395" data-original-width="559" height="226" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhQDpjvrnd676FKHLRagSMOjHPy2WwHQ_luDyHHVfhFXgd2XcA_6Q2PjfRZnPIJ2tNxkVBf2tS_Ydb1KFG32uBQWl3wVjzhf63r48AUtkMDujwBLn1ZnlHI_RtYvJjYXCoKYuYScRONgPTT8hHL9rREI_lZjQXSevHANSUXz9MiPWGTO8UE_2RapmVZje7x/s320/casa%20sarno%20antiga%20.JPG" width="320" /></a></div><br /><span style="font-size: 12pt; text-align: justify;">Fundada
em Poções, interior da Bahia no ano de 1896, a Casa Sarno vem</span><span style="font-size: 12pt; text-align: justify;"> </span><span style="font-size: 12pt; text-align: justify;">de completar um século de existência.</span><p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Francesco<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Sarno, natural de Mormanno Itália,
aventurou-se primeiro na Amazônia, passando por Manaus. Acompanhado por Fortunato
Orrico, amigo e cunhado, resolveram fugir do calor, descendo em direção à
Bahia, onde sabiam que encontrariam, em São João de Alípio, atual Jânio
Quadros. Miguel Orrico sogro e pai, respectivamente.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Sapateiro
por profissão Francesco Sarno pode percorrer algumas cidades do interior do
Estado, antes de se fixar em Poções , como comerciante.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">O
lugar que, em 1817 o Príncipe Maximiliano<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>de Weid Neuwied havia descrito como “uma dúzia de casas e uma capela
feita de barro” não havia mudado muito, mas Francesco Sarno conhecido popular e
abrasileiradamente como Chico Sarno, resolveu enfrentar o desafio.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Eram
tempos difíceis. Não havia luz elétrica, as comunicações eram demoradas, o
abastecimento precário. A presença e a ameaça dos jagunços, como o bando dos
Cauassús era uma constante.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">À
luz do lampião, Chico Sarno<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>contabilizava pacientemente suas vendas e seus fiados. O inicio do
século o encontra devidamente registrado para o comércio de fumo em bruto,
tecidos e bebidas alcoólicas. Do madrasto ao brim, da chita ao chitão, da
bulgarina francesa às ceroulas de linho, lá estavam os tecidos da época ; para
a confecção, os aviamentos apropriados como linha Alexander e botões de vidro;
nas ferragens os afamados pregos caibrais ; na alimentação os frascos de
ameixas, as libras de manteiga e as latas de sardinhas. Havia sacos de chumbo,
barril de pólvora e barrica de salitre. Na caderneta do fiado ou contas do Rol,
lá estavam os patrícios João Rotondano, Antonio Gatto, Baptista Scaldaferri,
Carlos Colavolpe, José Arléo, Angelo Logetto e outros.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Tendo-se
agradado da terra e da gente, Chico Sarno mandou buscar em Mormanno o sobrinho
Vincenzo Sarno, a quem deixou como sucessor, ao retornar<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>definitivamente a Trecchina, em 1920. Em
seguida vieram , o filho Vincenzo Orrico Sarno e os outros
sobrinhos:Corinto,Valentino,Camilo,Luigi,Emílio e Rosina Libonati.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">A
firma cresceu, expandiu-se para Jequié e Salvador. Os irmãos Sarno ficaram
sócios até 1965, quando resolveram repartir a firma amigavelmente.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Francisco
Pithon Sarno, da terceira<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>geração, no
ramo de ferragens e na tradicional loja da rua Guindaste dos Padres, em
Salvador, tornou-se sucessor da Casa Sarno. O centenário se comemora tendo a
quarta geração na direção dos negócios.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">A
Família Sarno, já na quinta geração ,reconhece a aventura e o sacrifício por
que passaram os que primeiro emigraram, e agradece a herança que , na concepção
deles, era a maior de todas: a educação dos filhos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Eduardo
Sarno<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Maio/97<o:p></o:p></span></p>Eduardo Sarnohttp://www.blogger.com/profile/04488369579765304731noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3861710740675486242.post-47761474498597000102024-03-13T20:15:00.001-03:002024-03-13T20:15:45.094-03:00<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhF0ipJce5BQTOyzCjAmHeU0XUobc9vSmPCX0baMNDU7hU38lVGp1Ldi2AdFFYsPIjzVnMHlV0dLKeTY2ICBS2anX4PzCrqG30GAKoUfNlSG1zGnVQMr_PToa6P_CSosjHDbSgC1nTMWKHsTnkTTyEASZAP8XcnGWwTWaK75YXziqWr25dS6Atn1DokCeMK/s559/Ruy%20Espinheira.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="559" data-original-width="459" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhF0ipJce5BQTOyzCjAmHeU0XUobc9vSmPCX0baMNDU7hU38lVGp1Ldi2AdFFYsPIjzVnMHlV0dLKeTY2ICBS2anX4PzCrqG30GAKoUfNlSG1zGnVQMr_PToa6P_CSosjHDbSgC1nTMWKHsTnkTTyEASZAP8XcnGWwTWaK75YXziqWr25dS6Atn1DokCeMK/s320/Ruy%20Espinheira.JPG" width="263" /></a></div><br /><p></p><div style="border: solid windowtext 3.0pt; mso-border-alt: dash-dot-stroked windowtext 3.0pt; mso-element: para-border-div; padding: 3.0pt 23.0pt 1.0pt 8.0pt;">
<p class="MsoNormal" style="border: none; mso-border-alt: dash-dot-stroked windowtext 3.0pt; mso-padding-alt: 3.0pt 23.0pt 1.0pt 8.0pt; padding: 0cm; text-align: justify;">ABATE</p>
<p class="MsoNormal" style="border: none; mso-border-alt: dash-dot-stroked windowtext 3.0pt; mso-padding-alt: 3.0pt 23.0pt 1.0pt 8.0pt; padding: 0cm; text-align: justify;"><span style="mso-spacerun: yes;">
</span>Eduardo Sarno- 14.12.02</p>
<p class="MsoNormal" style="border: none; mso-border-alt: dash-dot-stroked windowtext 3.0pt; mso-padding-alt: 3.0pt 23.0pt 1.0pt 8.0pt; padding: 0cm; text-align: justify;"><o:p> </o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="border: none; mso-border-alt: dash-dot-stroked windowtext 3.0pt; mso-padding-alt: 3.0pt 23.0pt 1.0pt 8.0pt; padding: 0cm; text-align: justify;">O apelido dele era Abate.
Não era alto, nem forte, nem bonito, mas era o líder do nosso grupo de meninos,
numa rua chamada da Itália, numa cidade chamada Poções.</p>
<p class="MsoNormal" style="border: none; mso-border-alt: dash-dot-stroked windowtext 3.0pt; mso-padding-alt: 3.0pt 23.0pt 1.0pt 8.0pt; padding: 0cm; text-align: justify;">Inteligente, bem
informado e sempre com um plano na cabeça ele chefiava o nosso grupo. Não
tínhamos idade para discutir se a sua liderança era inata ou adquirida, mas
confiávamos quando ele organizava uma guerra de badoque, a destruição dos
cartazes do cinema ou a matança das galinhas do vizinho.</p>
<p class="MsoNormal" style="border: none; mso-border-alt: dash-dot-stroked windowtext 3.0pt; mso-padding-alt: 3.0pt 23.0pt 1.0pt 8.0pt; padding: 0cm; text-align: justify;">Era ele quem dirigia as
caçadas, quando badocávamos passarinhos<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>nos matos do sítio de Seu Raimundinho, na barragem em Morrinhos, no
açude novo e velho,<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>pelos lados do
hospital, e no sítio de Pirajára, onde havia um grande pé de jabuticaba. Se no
inicio usávamos badoques, depois passamos a usar espingarda de socar, daquelas
de encher pelo cano. Comprávamos a pólvora e o chumbo na venda de Dahil e de
pedaços de corda fazíamos a bucha.</p>
<p class="MsoNormal" style="border: none; mso-border-alt: dash-dot-stroked windowtext 3.0pt; mso-padding-alt: 3.0pt 23.0pt 1.0pt 8.0pt; padding: 0cm; text-align: justify;">Abate lia muito e nos
contava com entusiasmo os mundos que visitava em pensamento e imaginação.</p>
<p class="MsoNormal" style="border: none; mso-border-alt: dash-dot-stroked windowtext 3.0pt; mso-padding-alt: 3.0pt 23.0pt 1.0pt 8.0pt; padding: 0cm; text-align: justify;">Sabia também nos enganar,
como certa vez que enterrou alguns objetos e alegou ter visão de raio X graças
a um pó brilhante que tinha jogado no olho. Na dúvida preferimos acreditar.</p>
<p class="MsoNormal" style="border: none; mso-border-alt: dash-dot-stroked windowtext 3.0pt; mso-padding-alt: 3.0pt 23.0pt 1.0pt 8.0pt; padding: 0cm; text-align: justify;">Ele, como todos nós,
sempre gostou da natureza e dos seus bichinhos. Magasapos ( girinos) recolhidos
no riacho atrás do quintal que eram postos a ferver em uma lata, besouros com
grandes chifres que eram guardados vivos em caixas metálicas bem fechadas,
pequenos besouros multicolores colecionados em caixas de fósforos, borboletas
que eram espetadas em pedaços de papelão, tanajuras bundudas que eram espetadas
em taliscas e passarinhos que eram, evidentemente, badocados.</p>
<p class="MsoNormal" style="border: none; mso-border-alt: dash-dot-stroked windowtext 3.0pt; mso-padding-alt: 3.0pt 23.0pt 1.0pt 8.0pt; padding: 0cm; text-align: justify;">De quando em vez a sua
liderança era questionada, como ocorreu na ocasião em que Luizito Sarno, grande
e forte, o desafiou para uma luta. Foi na praça do Obelisco e Abate saiu
vencedor.</p>
<p class="MsoNormal" style="border: none; mso-border-alt: dash-dot-stroked windowtext 3.0pt; mso-padding-alt: 3.0pt 23.0pt 1.0pt 8.0pt; padding: 0cm; text-align: justify;">Certa vez ele pediu-me
para entregar uma carta de amor a Rosa Alba, a nossa prima que morava na mesma
rua. Dela dizíamos que era tão fofinha que não devia nem ter ossos !</p>
<p class="MsoNormal" style="border: none; mso-border-alt: dash-dot-stroked windowtext 3.0pt; mso-padding-alt: 3.0pt 23.0pt 1.0pt 8.0pt; padding: 0cm; text-align: justify;">Na saída da Escola
Alexandre Porfírio passei na casa de Rosa Alba. Ela estava no quintal, trepada
em um pé de manga e eu deixei a carta no chão, indo logo almoçar pois meu pai
já iria chegar da loja e era muito pontual à mesa, por exigência de minha mãe.</p>
<p class="MsoNormal" style="border: none; mso-border-alt: dash-dot-stroked windowtext 3.0pt; mso-padding-alt: 3.0pt 23.0pt 1.0pt 8.0pt; padding: 0cm; text-align: justify;">Já no inicio da tarde o
escândalo estava em andamento. Tia<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>Giusepina Grisi Sarno não gostou da filha ter recebido, uma carta de
amor de Abate e, antes de chegar ao autor, passou por mim, já acompanhada de
outras tias e minha mãe. Fui interrogado e alegando inocência pedi clemência. A
comitiva indignada dirigiu-se a dona Iracema(Sarno) Espinheira, mãe de Abate
que, liberalmente tentou acalmar a todos, justificando tudo como “coisas de
meninos”. O tempo não guardou os termos da carta, certamente preciosos.</p>
<p class="MsoNormal" style="border: none; mso-border-alt: dash-dot-stroked windowtext 3.0pt; mso-padding-alt: 3.0pt 23.0pt 1.0pt 8.0pt; padding: 0cm; text-align: justify;">A consideração e o
respeito que o próprio pai, Ruy Espinheira, sempre teve por Abate fazia com que
ele, aos nossos olhos, fosse tido como uma pessoa sensata, amiga.</p>
<p class="MsoNormal" style="border: none; mso-border-alt: dash-dot-stroked windowtext 3.0pt; mso-padding-alt: 3.0pt 23.0pt 1.0pt 8.0pt; padding: 0cm; text-align: justify;">A nossa turma ainda
existe, cada um é hoje líder de si mesmo e seria difícil imaginar nosso
consagrado <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>poeta, Ruy Alberto Espinheira
Filho, o Abate de ontem lutando com Luis Fidelis Sarno, o Luizito, ainda forte
mas careca, barba grisalha e aposentado da Odebrecht.</p>
<p class="MsoNormal" style="border: none; mso-border-alt: dash-dot-stroked windowtext 3.0pt; mso-padding-alt: 3.0pt 23.0pt 1.0pt 8.0pt; padding: 0cm; text-align: justify;"><o:p> </o:p></p>
</div>Eduardo Sarnohttp://www.blogger.com/profile/04488369579765304731noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3861710740675486242.post-22865528009988320252024-03-13T19:58:00.001-03:002024-03-13T19:58:39.200-03:00<p> </p><p class="MsoNormal" style="mso-pagination: widow-orphan; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><b><span style="font-size: 16.0pt;">A<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>IGREJINHA<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>VELHA</span></b><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 16.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="mso-pagination: widow-orphan; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-size: 16pt;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj14oRNjVD80vRxZZlVTMd1ngcfimcDzICq7IuCKrk1lSwXfxJ1ZkOt6_OR5GR3VtsOszF3Zg2PlBDjl9DTnBdkGFLbKmMIdVJgrk91b_U-Tkv0hnAUwPJ5VihPrjaE79wUl5cSWvUTXHuFSIAhmFhGeh8WhvlL3OEqg4eyXrHXNrffItbOdplcNrXJuxzZ/s563/Igrejinha-2.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="455" data-original-width="563" height="259" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj14oRNjVD80vRxZZlVTMd1ngcfimcDzICq7IuCKrk1lSwXfxJ1ZkOt6_OR5GR3VtsOszF3Zg2PlBDjl9DTnBdkGFLbKmMIdVJgrk91b_U-Tkv0hnAUwPJ5VihPrjaE79wUl5cSWvUTXHuFSIAhmFhGeh8WhvlL3OEqg4eyXrHXNrffItbOdplcNrXJuxzZ/s320/Igrejinha-2.JPG" width="320" /></a></div><br />É assim que chamamos hoje a nossa histórica Igreja Matriz do Divino
Espírito Santo dos Poções, invocada já com essa denominação em 1830, quando
Thimoteo Gonçalves da Costa doou meia légua de terreno em quadro para se
edificar uma capela, cujos trabalhos foram iniciados por José Joaquim dos
Santos, genro do Sargento Mor Raymundo Gonçalves da Costa. Foi edificada pelo
Capitão Mor João Dias de Miranda em 1842 e finalmente concluída pelo seu
sobrinho, o Capitão Antonio Coelho Sampaio.<p></p>
<p class="MsoNormal" style="mso-pagination: widow-orphan; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-size: 16.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Segundo registro do Príncipe Maximiliano , que visitou Poções em
1817,antes só existia “uma dúzia de casas e uma capela feita de barro”<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="mso-pagination: widow-orphan; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-size: 16.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Esta igrejinha, sem muita pompa, viu toda a história da nossa cidade,
do seu nascimento até hoje. Não é pois, sem razão, o carinho que o povo tem por
ela.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="mso-pagination: widow-orphan; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-size: 16.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Foi ali que sucessivos vigários, padres Amaral, Marinho, Pithon,
Carneiro e Honorato – pregaram a palavra de Deus- do modo que eles entendiam, e
sem saber se o povo estava entendendo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="mso-pagination: widow-orphan; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-size: 16.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Lá o bispo diocesano Dom
Florêncio Vieira crismava os fiéis, as crianças faziam a primeira comunhão,
casais se uniam, santas almas partiam ao repique dos sinos, e os pecados
cometidos eram ali mesmo confessados e perdoados.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="mso-pagination: widow-orphan; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-size: 16.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Era lá que Biu , compenetrado, tocava na velha harmônica e as
senhorinhas Lurdinha Amaral, Elza, Yayá e Detinha contentes cantavam. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="mso-pagination: widow-orphan; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-size: 16.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Foi lá que esteve Plínio Salgado com Goffredo da Silva Telles e sua
comitiva e era lá que todo ano aquele bom povo se reunia, montado a cavalo,
vindo da mata e da catinga, desfilando com as bandeirolas do Divino.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="mso-pagination: widow-orphan; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-size: 16.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Com o tempo, o pequeno campanário desabou e um improviso foi feito para
sustentar o sino. A lateral do lado do coreto onde se rezava a Missa Campal,
foi eliminada. E o cruzeiro de madeira, que ficava do lado de fora, bem em
frente à porta principal, em cima de um monte redondo cimentado foi transferido
para a lateral, num pedestal quadrado.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="mso-pagination: widow-orphan; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-size: 16.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">O pedestal redondo é simbólico. Encimado pela cruz significa a vitória
de Cristo sobre as coisas mundanas, os pecados do mundo. Foi esta lembrança que
Adilson Santos, poçõense de corpo e alma, imortalizou em uma de suas famosas
telas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="mso-pagination: widow-orphan; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-size: 16.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Com o tempo a igrejinha precisou de grades para protege-la. É triste
precisar<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>da proteção de grades.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="mso-pagination: widow-orphan; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-size: 16.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Depois foi a vez da remoção da belíssima pintura da Santíssima Trindade
que ficava atrás do altar mor, obra do pintor italiano G.Lupi, oferecida ao
Divino por Paulino Braga, em 1905. Esta concepção, muito recorrente na pintura
italiana, imprimia no nosso imaginário o Deus–Pai de longas barbas brancas, a
Pomba do Espírito Santo, nossa conhecida, e um Cristo que privava a intimidade
deles.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="mso-pagination: widow-orphan; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-size: 16.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Por último, foi a reforma que retirou as lajotas coloniais em forma de
losango, que dava o clima de simplicidade e devoção, substituídas por mármore
ofuscante e frio.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="mso-pagination: widow-orphan; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-size: 16.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Chico Sangiovanni, sabedor das coisas de Poções,<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>já me dizia, quando eu comentei estas
mudanças com ele:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="mso-pagination: widow-orphan; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-size: 16.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">“- Vocês vão embora, não ficam aqui e a gente vai fazendo as besteiras
como pode.”<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="mso-pagination: widow-orphan; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">Eduardo Sarno</p>
<p class="MsoNormal" style="mso-pagination: widow-orphan; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-size: 16.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Fev/98<o:p></o:p></span></p>Eduardo Sarnohttp://www.blogger.com/profile/04488369579765304731noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3861710740675486242.post-77890716019331529452024-03-13T19:44:00.001-03:002024-03-13T19:44:41.692-03:00<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjjEUCCtYPHUMlD0SY1Xjr2S-6Y4GspqleWP6X_TH07vpHaIBvXSrJkgXcofMZilUqEPcl0T5uldQhRRcS6gYo9ZR8XN3TycCgWuthIF6KN2WFP-KzL_rJnG9lv5BWKOl3tMP_tfRxzzlJ2u19VMhezgF1UKb7sl3fh0YfTP7AdAPzvRVYoMrq8iwZGOSfi/s586/gey%20b.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="586" data-original-width="426" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjjEUCCtYPHUMlD0SY1Xjr2S-6Y4GspqleWP6X_TH07vpHaIBvXSrJkgXcofMZilUqEPcl0T5uldQhRRcS6gYo9ZR8XN3TycCgWuthIF6KN2WFP-KzL_rJnG9lv5BWKOl3tMP_tfRxzzlJ2u19VMhezgF1UKb7sl3fh0YfTP7AdAPzvRVYoMrq8iwZGOSfi/s320/gey%20b.JPG" width="233" /></a></div><br /><p></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><strong><span style="font-size: 14.0pt; font-weight: normal; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-weight: bold;">CARLOS
GERALDO D'ANDREA (SARNO) ESPINHEIRA (Gey)<o:p></o:p></span></strong></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><strong><span style="font-size: 14.0pt; font-weight: normal; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-weight: bold;">- Necrológio -</span></strong></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><strong><span style="font-size: 14.0pt; font-weight: normal; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-weight: bold;">Este
espaço é ambíguo: celebra a vida e celebra a morte. Podemos dizer também, que
ele é complementar, pois vida e morte, quem há de separar ?</span></strong><span style="font-size: 14.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><strong><span style="font-size: 14.0pt; font-weight: normal; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-weight: bold;">De
Poções para o Mundo. Assim Foi a trajetória do meu primo Gey. Primeiro ele
procurou entender o mundo, depois procurou transformá-lo. Para prejuízo nosso,
ele entendeu o mundo mais do que conseguiu transformar.</span></strong><span style="font-size: 14.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><strong><span style="font-size: 14.0pt; font-weight: normal; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-weight: bold;">Mas
a ação social, política e humana de Gey tende a se multiplicar. Seus numerosos
alunos são quase como seguidores, pois possuem a mesma chama que alimentava a
energia de Gey.</span></strong><span style="font-size: 14.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><strong><span style="font-size: 14.0pt; font-weight: normal; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-weight: bold;">Ele
se foi, e ficamos nós sem ele, mas com o mundo que ele tanto curtiu. Era tanto
da Academia quanto do Carnaval, tanto do clássico como do popular, tanto do
interior como da capital.</span></strong><span style="font-size: 14.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><strong><span style="font-size: 14.0pt; font-weight: normal; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-weight: bold;">Aquele
menino que badocava em Poções não se deslumbrou com o mundo, pois ele percebeu
desde cedo que o mundo não era as coisas, mas as pessoas. A Sociologia foi para
ele o instrumento para entender como as pessoas se relacionam entre si e como
se relacionam com as coisas. </span></strong><span style="font-size: 14.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><strong><span style="font-size: 14.0pt; font-weight: normal; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-weight: bold;">Amável,
solidário e desprendido, este era o Gey que muitos conheceram e amaram.</span></strong><span style="font-size: 14.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><strong><span style="font-size: 14.0pt; font-weight: normal; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-weight: bold;">Esgrimia
um conhecimento sólido e uma inteligência aguda. O argumento, o raciocínio era
uma seqüência de dados e conclusões objetivas, ele não era, seguramente, um
metafísico.</span></strong><span style="font-size: 14.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><strong><span style="font-size: 14.0pt; font-weight: normal; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-weight: bold;">Gey
das caçadas, Gey da Festa do Divino, Gey do Pelourinho, Gey das farras
intermináveis pelas ruas e madrugadas de Oropa, França e Bahia.</span></strong><span style="font-size: 14.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><strong><span style="font-size: 14.0pt; font-weight: normal; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-weight: bold;">A
família sempre se orgulhou de suas aparições públicas. Lembro minha filha
Vanessa, ainda pequena quando me chamava: "- Papinho, venha ver tio Gey na
televisão !" </span></strong><span style="font-size: 14.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><strong><span style="font-size: 14.0pt; font-weight: normal; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-weight: bold;">E
lá estava ele, com seus olhos penetrantes e sua imensa barba branca, que
acariciava com prazer. E dizia coisas que todos concordavam, pois era um
estudioso sério nas suas análises e conclusões.</span></strong><span style="font-size: 14.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><strong><span style="font-size: 14.0pt; font-weight: normal; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-weight: bold;">Gey
cidadão soteropolitano, recebendo emocionante e merecida homenagem na
Câmara Municipal da cidade que ele tanto se dedicou.</span></strong><span style="font-size: 14.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><strong><span style="font-size: 14.0pt; font-weight: normal; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-weight: bold;">Foi
assim o nosso Gey.</span></strong><span style="font-size: 14.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><strong><span style="font-size: 14.0pt; font-weight: normal; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-weight: bold;">Nossas
lembranças passam como um turbilhão por Poções, Jequié, a casa de Dr. Ruy,
Iracema, a fileira de irmãos, que estão até hoje na fachada da casa na Rua da
Itália, em Poções, na forma de pequenos pinheiros.<o:p></o:p></span></strong></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><strong><span style="font-size: 14.0pt; font-weight: normal; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-weight: bold;">Convivemos
a meninice, a juventude, a maturidade e a imaturidade!</span></strong><span style="font-size: 14.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><strong><span style="font-size: 14.0pt; font-weight: normal; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-weight: bold;">E
tudo gira, tudo roda e o centro deste redemoinho está aqui agora, dizendo
para nós: “- <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>já fui...mas foi a
contragosto !”</span></strong><span style="font-size: 14.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"> PS- Gey é bisneto de Francesco Sarno, primeiro
da família que veio para o Brasil)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><strong><span style="font-size: 14.0pt; font-weight: normal; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-weight: bold;">Eduardo
Sarno</span></strong><span style="font-size: 14.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><strong><span style="font-size: 14.0pt; font-weight: normal; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-weight: bold;">17.03.09</span></strong><span style="font-size: 14.0pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p></o:p></span></p>Eduardo Sarnohttp://www.blogger.com/profile/04488369579765304731noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3861710740675486242.post-74216067848867430332024-03-11T20:47:00.002-03:002024-03-13T19:32:34.717-03:00<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj8wtjPYsYOLnxnsK8kZdY60VssBnGzSDrFXEQobiZeknRpeAq7JOpvfvIv6W71vKsHEU81UGO3h5fFDCaUtu8hMmsjw-JXakL_FScMqP3SdNBDDiYq12WyauszCBlKkAjKccR5TRkvEqJN33Nrmag8B4sPRPUrxjAtS95jJEkE-g2DsiFV_ZY1UZwHXwtE/s1002/DSCN4130.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="884" data-original-width="1002" height="282" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj8wtjPYsYOLnxnsK8kZdY60VssBnGzSDrFXEQobiZeknRpeAq7JOpvfvIv6W71vKsHEU81UGO3h5fFDCaUtu8hMmsjw-JXakL_FScMqP3SdNBDDiYq12WyauszCBlKkAjKccR5TRkvEqJN33Nrmag8B4sPRPUrxjAtS95jJEkE-g2DsiFV_ZY1UZwHXwtE/s320/DSCN4130.JPG" width="320" /></a></div><br /> <p></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>FIDELIS<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>DE<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>TIO<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>VALENTIM<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p> </o:p></span><span style="font-size: 13pt;">O nome é uma homenagem ao avô, Fedele</span><span style="font-size: 13pt;"> </span><span style="font-size: 13pt;">Sarno, que nasceu e morreu em Mormanno,
pequena cidade no sul da Itália, sem nunca ter vindo ao Brasil. Mas para cá
vieram os sete filhos, que moravam na Rua da Itália, em Poções, pequena cidade
no sudoeste da Bahia.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Ele era o Fidelis de tio Valentim, para não
confundir com o Fidelis de tio Vicente, o de tio Luis, o de tio Emilio, o de
tio Camilo ou mesmo o José Fidelis de Corinto.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Ao lado da cultura local, interiorana, caatingueira
e mateira, bem brasileira, Fidelis herdou também <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>a convivência com a cultura italiana dos pais.
O pai, tio Valentim, calmo e afetuoso, também sócio da Casa Sarno, onde atendia
no balcão, se relacionava de maneira alegre com a clientela local. Conta-se que
quando o chapéu que vendia ficava folgado<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>ele colocava a mão na nuca do freguês e fazia ficar “ajustado” !<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">A mãe, Giusepina, natural de Trecchina, <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>muito ativa, de uma comunicação fácil e com
uma filosofia de vida que ajudou a enfrentar e superar as dificuldades, que não
eram poucas, naquele final da década de 30, quando veio à luz o nosso querido
Fidelis Geraldo<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Sarno.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Naquela época, para dar a notícia aos tios e amigos,
costumava-se enviar alguém dizendo:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">“- A tia manda avisar que tem mais um criadinho às
ordens !”<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Foi em Poções que Fidelis teve os primeiros contatos
com a cultura popular, e mais especificamente a religiosa, ao acompanhar de
perto a festa do Divino Espírito Santo, padroeiro da cidade, tradição herdada
dos portugueses que colonizaram a região, do clã de João Gonçalves da Costa.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Além de ver e acompanhar a chegada do Mastro da Bandeira,
a Cavalhada, as barraquinhas e o leilão, o Bumba meu Boi, ele também
participava da procissão, onde balançava o turíbulo na frente do andor de São
Roque, espargindo o incenso.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">O andor era carregado pelo pai e pelos tios, e
ornamentado com rosas, cravos e gérberas com a ajuda da mãe e tias.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Foi lá também que ele conheceu a projeção de filmes,
no cinema de Brás Labanca. Quando o filme quebrava, Nicola Leto, o encarregado
da projeção já cortava uma tira a mais, que tinha endereço certo: as mãos de
Fidelis Geraldo, que depois projetava em um lençol, com caixas, lentes e
lanternas, para os primos e meninos que pagavam alguns réis, no quarto dos
fundos da sua casa. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Participou de peças teatrais, no Cine-Teatro Santo
Antonio, onde, trajando grossa capa e botas, compunha a cena do Grito do
Ipiranga. Só teve uma fala, mas entre a platéia que aplaudia estava o Dr.
Fernando Costa, prefeito da cidade.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">O caminho natural de todos nós era ir estudar em
Salvador, e Fidelis foi um dos que saíram mais rapidamente de Poções, mas ao
mesmo tempo nunca saiu de lá. Esta contradição se explica quando sabemos que
ele sempre teve Poções em sua mente, em seus sentimentos, em seu trabalho
profissional de cineasta..<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">A partir de então aquele menino começou a crescer, a
ver, viver e virar o mundo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Fidelis, segundo seu próprio depoimento, de início
imaginava que cinema só poderia ser feito no glamour de Paris ou Nova York, mas
depois descobriu que na caatinga também ocorriam dramas e comédias, e que o
povo tinha<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>cantos e cores,<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>amores e dores.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Foi ele quem me sugeriu fazer em Poções uma pesquisa
sobre o Bumba Meu Boi e o Terno de Reis. Eu ia à noite para o final da Rua de
Morrinhos, entrevistar e gravar as cantorias. Os participantes eram <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>pessoas simples, cujo chefe era o guarda
noturno da cidade, um negão alto e simpático ( naquela época não havia
afro-descendentes), que fazia circular entre nós uma cachaça gostosa de Ibicuí,
para esquentar o frio da madrugada.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Ali eu vi o que Fidelis me apontava: a cultura
original, pura, nossa, entranhada no nosso povo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Ele sempre foi para nós muito avançado, desde quando
caçava rolinhas , para o lado de Cachoeirinha, já com espingarda de encher pelo
cano, enquanto nós usávamos badoques, até quando viajou para o exterior, e o povo
comentava, com voz grave e baixa:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">“O filho de seu Valentim foi visitar Cuba !”<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Eu, tempos depois em Salvador, já estudando no
Maristas e pensando em ir para o Seminário, encontro Fidelis na rua do Forte
São Pedro e pergunto à queima roupa:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">“- Mas Fidelis, você é comunista?”<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Ele me explicou questões sociais e políticas
básicas, mas na ocasião eu ainda não estava maduro para entender tudo aquilo.
Só anos depois <st1:personname productid="em S ̄o Paulo" w:st="on">em São Paulo</st1:personname>,
e depois no Rio de Janeiro, eu já na militância clandestina, na época da
ditadura militar, visitava Fidelis e conversávamos longamente. Ele já com uma
postura mais moderada e eu mais radical.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Com o Golpe de 64 Fidelis foi para Poções, sob a proteção
da família, refugiar-se na fazenda Caititu. Na perseguição, o Exército
conseguiu, em plena praça, cercar Fidelis, com metralhadoras ameaçadoras ! <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Mas, não era este Fidelis, era <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>o Fidélis de Tio Emilio, o conhecido Fidelão, <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>alto, sorridente e bonachão !<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Com o tempo é que fui entendendo a grandeza e a
importância do trabalho cultural que ele desenvolvia, desde o Centro Popular de
Cultura – o CPC da UNE, até os filmes e documentários, que mostram de maneira
clara e inequívoca um Brasil que precisa ser conhecido para poder ser
transformado.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Pessoas como Fidelis não ficam velhos. Os anos <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>significam que ele convive dentro de si com o
menino, o rapaz, e o adulto. Tudo isso se soma e ele nunca perdeu a capacidade
de criar, de se entusiasmar e de ensinar.</span></p><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt;">É este </span><span style="font-size: 13pt;"> </span><span style="font-size: 13pt;">pois o
nosso Fidelis para quem toda a nossa família tem carinho e orgulho e, para
alegria geral, sabemos que os sentimentos dele para conosco sempre os mesmos.</span></div>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 13pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Saudades.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 13pt; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><o:p> </o:p></span><span style="font-size: 13pt;">Eduardo
Sarno</span></p>Eduardo Sarnohttp://www.blogger.com/profile/04488369579765304731noreply@blogger.com0