18 março 2024

 

BRINQUEDOS FÍSICO-QUÍMICO-BIOLÓGICOS DA INFÂNCIA

* crônicas poçõenses *



Além das brincadeiras mais comuns, tínhamos, em Poções, algumas formas de diversão que implicavam um certo conhecimento, que eram adquiridos nos livros, revistas ou na experiência de outro menino.

Uma delas era a brincadeira com pólvora, cuja fórmula básica tinhamos aprendido, e não era dificil conseguir os ingredientes na venda de Dahil. Feita a pólvora, o grande pilão de madeira que tinha em nossa casa servia para os nossos objetivos, que era fazer, com um prego bem grosso, um buraco no pilão e encher de pólvora. Depois, o mesmo prego era colocado no buraco e batia-se nele com um martelo. A explosão era imediata.

As baterias velhas serviam para serem desmontadas, e nos forneciam as placas de chumbo, que em seguida eram postas no fogo, e derretiam. As fôrmas, preparadas com barro, serviam como recipentes para a depuração e resfriamento. A criatividade é que decidia qual a forma que o chumbo derretido iria tomar.

Alguns remédios, como colirio, dependiam de conta-gotas para seu uso. E estes eram de vidro, com a bombinha de borracha. Esquentar o vidro na chama de uma vela, dando formas distorcidas, era uma diversão. Depois, com fogo mais intenso , o resultado era pequenas bolas de vidro, às vezes um pouco quebradiças.

A hélice voadora era feita a partir de uma lata de sardinha. A tampa permitia recortar, com mais facilidade, a forma de uma hélice. Dois furos eram feitos no centro, que se acomodavam a dois pregos sem cabeça, fixados em um carretel de madeira de linha de costura. O carretel era colocado em uma haste, e um cordão enrolado nele permitia, quando desenrolado rápidamente, fazer com que a hélice voasse. Era nosso simulacro de helicóptero.

O barco a vapor era feito com um sistema de tampa de garrafa, onde era colocado álcool, e uma serpentina de metal simples, tudo isso acoplado a um pequeno barco de madeira. Ao colocar fogo no álcool, a água transformada em vapor, ou mesmo aquecida, fazia o barco se deslocar.

As brincadeiras biológicas eram mais agressivas, e o relato delas não significa o endosso atual das mesmas.

A tanajura, com sua grande bunda, servia para ser espetada, o que motivava o bater frenético das asas.

O sapo, à noite, com o corpo encharcado de álcool, e pulando em chamas, era um espetáculo sádico inominável. Mas nós não sabíamos disso.

Os filhotes de sapo – girinos- que nós chamávamos de 'magasapos', eram recolhidos no pequeno riacho nos fundos da casa de Ruy Espinheira, e cozidos barbára e inultilmente em um velho tacho.

Aa borboletas e mariposas eram pregadas, com alfinete, em pedaços de papelão.

Os besouros, principalmente os grande e de chifres, era guardados em latas de metal, bem fechadas. Os besouros pequenos, coloridos, eram colocados em caixas de papelão.

Alguns pássaros, depois de abatidos a badocadas, eram dissecado com lâmina de barbear, a "gilete".

O cágado tinha uma pequena haste amarrada em seu casco, e na ponta, um pedaço de alface. Caminhava o dia todo, mas não alcançava o seu jantar.

Mas, à noite, todos dormiam tranquilos, naquele tempo não havia culpa.

Eduardo Sarno

Maio/2016


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