CORINTO
SARNO E A
“SERPENTINA”
* crônica poçõense *
Trata-se da
“serpentina” usada no processo de aquecimento da água para uso
doméstico. O nome obviamente deriva da forma de locomoção das serpentes,
fazendo curvas ondulantes.
No Brasil, pela facilidade do uso da mão de obra do
escravo, de meninos de recado e de domésticas, o uso da água encanada para a
higiene pessoal demorou a ser adotada.
Para as abluções diárias o uso comum era uma armação
de ferro encimada por uma bacia, ao lado o pegador para a toalha e o recipiente
para o sabão. Embaixo a jarra com a água. A riqueza ou pobreza do artefato era
determinada pelas posses da família.
Desde o banho de cuia, de banheira ou de chuveiro de
lata, a água, quente ou fria, era sempre levada em um balde e despejada no
recipiente adequado.
Na Europa, segundo Caroline Lucas, no interessante
trabalho “O Mundo Doméstico” , só na década de 1880 a água encanada começou a
ser instalada nas casas de classe média. E “no final do século introduziu-se
a água quente encanada, aquecida por fogão da cozinha ou em caldeiras separadas”.
Naquela época em Poções – falamos da primeira metade
do século XX – usava-se para as encanações canos de chumbo. Lembro que quando
havia restos de obras procuráva-mos pedaços de chumbo para derreter e brincar.
Tal material, por não resistir ao calor,
não era apropriado para fazer a “serpentina”.
Só por volta de 1950, quando já havia no mercado o
tubo galvanizado, foi que Corinto, juntamente com o cunhado Chico Sangiovanni,
instalaram a “serpentina” no fogão principal da casa, na cozinha junto ao
banheiro.
Os tubos galvanizados só tinham roscas nas pontas, e
as adicionais eram feitas com uma tarraxa, em um delicado trabalho de torno
manual. Por não existir ainda o “teflon” , usava-se fiapos de sisal com tinta
para a ação de veda rosca.
O fogão, de ferro fundido, era apropriado para esta
função de aquecimento de água. Usava-se lenha ou carvão, e a múltipla
funcionalidade incluía, além da água, o aquecimento do forno, das panelas, e da
chapa, que mantinha aquecida a chaleira ou a comida dos retardatários por um
bom tempo.
A “serpentina” tinha um funcionamento permanente e
barato. Acima do fogão, um reservatório, conjugado com o banheiro, nos deixava
abastecidos de água quente ou morna por um longo período. O banheiro, todo
ladrilhado e com banheira, era uma novidade na cidade. Conta o meu irmão Pedro
que algumas visitas pediam para ver o banheiro de “seu” Corinto. Não pela
suntuosidade, certamente, mas pela novidade e conforto.
Maio/2012
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